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Geopolítica do foguete volta à moda
Armas desenvolvidas por países inimigos dos EUA e teste de míssil anti-satélite chinês desafiam supremacia americana
No pós-Guerra Fria, superpotência reorganizou Forças Armadas para influir em todo o planeta; agora, reforça controle do espaço
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
A geopolítica não só continua
viva como voltou à fase de mísseis, o que se considerava coisa
do passado.
No final de janeiro, John
Chipman, diretor do prestigiado Instituto Internacional de
Estudos Estratégicos, de Londres, declarou que a "geopolítica não tinha saído de moda".
Não estaríamos mais em um
mundo unipolar, dominado pelos EUA, ou multipolar -não
existem pólos de poder capazes
de contestar diretamente os
americanos. O mundo seria
simplesmente "apolar".
Antes, durante e depois dessas declarações, vários países,
potências mais ou menos importantes militarmente, resolveram exibir seus mísseis e antimísseis para os demais.
Não resta dúvida de que os
EUA continuam sendo imbatíveis em guerras convencionais.
Seus tanques M-1 Abrams são
superiores a quaisquer outros,
seus caças F-15, F-16, F-18 e
agora o mais moderno de todos,
F-22, derrubariam do ar qualquer oposição.
Nada flutua sem pedir permissão indireta à Marinha
americana, que se reorganizou
após a Guerra Fria, de uma força que planejava combates em
alto mar contra navios e submarinos soviéticos para uma
força capaz de "projetar poder"
nas áreas litorâneas -ou seja,
influenciar a política em quase
todo o planeta.
Os 41 submarinos nucleares
com mísseis balísticos do auge
da Guerra Fria foram cortados
para 14. Mas outros quatro foram adaptados para lançamento de mísseis de cruzeiro Tomahawk, veteranos de ataques
convencionais contra alvos em
terra, como foi o caso do conflito nos Bálcãs.
Cada um dos 12 porta-aviões
americanos transporta cerca
de 80 aeronaves, 50 das quais
podem ser usadas para bombardear alvos a até centenas de
quilômetros do mar, como demonstrou seu emprego no Afeganistão e no Iraque.
Mas os conflitos "assimétricos" no Iraque e no Afeganistão
provam que a única superpotência tem limites. E outro limite vai além do limiar convencional da guerra: aquele das armas nucleares levadas na ponta
de mísseis balísticos.
A corrida armamentista entre os EUA e a finada União Soviética envolvia o desenvolvimento de mísseis cada vez mais
poderosos, com mais alcance
-intercontinentais- e capazes
de levar mais ogivas, cada uma
direcionada a um alvo.
Ainda restam milhares dessas armas nos arsenais dos
EUA e da Rússia, mas as que viram notícia agora vêm de outros países. Tanto o Paquistão
quanto a Índia desenvolveram
armas nucleares e mísseis de
alcance intermediário.
Os EUA temem que países
por eles considerados irresponsáveis, como Irã e Coréia do
Norte, desenvolvam mísseis
balísticos que passem da categoria de "intermediários" para
"intercontinentais", chegando
ao seu território.
Os americanos estão instalando aos poucos um sistema
de defesa contra mísseis. Não
chega a ser tão espetacular como o "Guerra nas Estrelas"
proposto pelo ex-presidente
Ronald Reagan. Mas provoca
reações do mesmo jeito.
Já há elementos do sistema
em bases americanas no Alasca, por exemplo. A versão mais
moderna do míssil antiaéreo
Patriot tem um potencial antimíssil bem maior. Cruzadores
equipados com o sistema de defesa Aegis também podem interceptar mísseis balísticos.
Mas o desejo dos EUA de ampliar a defesa a distâncias maiores criou polêmica, pois dois
dos países que estão em negociação para abrigar partes do
sistema eram antigos aliados da
extinta União Soviética: Polônia e República Tcheca.
Os russos chiaram, afirmando que o sistema é voltado não
contra o Irã, mas contra eles. O
presidente Vladimir Putin chegou a dizer que o escudo antimíssil desencadearia uma nova
corrida armamentista.
Os chineses foram mais enfáticos em avisar os americanos
de que há limites para seu poder, especialmente se o objetivo for militarizar o espaço,
quando usaram um míssil balístico para explodir um velho
satélite em 11 de janeiro. Foi o
primeiro teste de uma arma anti-satélite desde que os EUA fizeram o mesmo em 1985.
Um dos fatores que desequilibram as guerras convencionais travadas pelos EUA é a tecnologia espacial americana.
Embora não existam armas no
espaço, satélites de reconhecimento e navegação são fundamentais para planejar e executar guerras. Satélites "espiões"
localizam alvos com precisão.
Kits de adaptação transformam bombas "burras" em
bombas guiadas por satélite
com grande grau de precisão.
O disparo do míssil chinês
certamente assustou os militares dos EUA, bem mais do que
os discursos dos mais bem armados russos.
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