São Paulo, domingo, 04 de março de 2007

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Geopolítica do foguete volta à moda

Armas desenvolvidas por países inimigos dos EUA e teste de míssil anti-satélite chinês desafiam supremacia americana

No pós-Guerra Fria, superpotência reorganizou Forças Armadas para influir em todo o planeta; agora, reforça controle do espaço

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A geopolítica não só continua viva como voltou à fase de mísseis, o que se considerava coisa do passado.
No final de janeiro, John Chipman, diretor do prestigiado Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, de Londres, declarou que a "geopolítica não tinha saído de moda". Não estaríamos mais em um mundo unipolar, dominado pelos EUA, ou multipolar -não existem pólos de poder capazes de contestar diretamente os americanos. O mundo seria simplesmente "apolar".
Antes, durante e depois dessas declarações, vários países, potências mais ou menos importantes militarmente, resolveram exibir seus mísseis e antimísseis para os demais.
Não resta dúvida de que os EUA continuam sendo imbatíveis em guerras convencionais. Seus tanques M-1 Abrams são superiores a quaisquer outros, seus caças F-15, F-16, F-18 e agora o mais moderno de todos, F-22, derrubariam do ar qualquer oposição.
Nada flutua sem pedir permissão indireta à Marinha americana, que se reorganizou após a Guerra Fria, de uma força que planejava combates em alto mar contra navios e submarinos soviéticos para uma força capaz de "projetar poder" nas áreas litorâneas -ou seja, influenciar a política em quase todo o planeta.
Os 41 submarinos nucleares com mísseis balísticos do auge da Guerra Fria foram cortados para 14. Mas outros quatro foram adaptados para lançamento de mísseis de cruzeiro Tomahawk, veteranos de ataques convencionais contra alvos em terra, como foi o caso do conflito nos Bálcãs.
Cada um dos 12 porta-aviões americanos transporta cerca de 80 aeronaves, 50 das quais podem ser usadas para bombardear alvos a até centenas de quilômetros do mar, como demonstrou seu emprego no Afeganistão e no Iraque.
Mas os conflitos "assimétricos" no Iraque e no Afeganistão provam que a única superpotência tem limites. E outro limite vai além do limiar convencional da guerra: aquele das armas nucleares levadas na ponta de mísseis balísticos.
A corrida armamentista entre os EUA e a finada União Soviética envolvia o desenvolvimento de mísseis cada vez mais poderosos, com mais alcance -intercontinentais- e capazes de levar mais ogivas, cada uma direcionada a um alvo.
Ainda restam milhares dessas armas nos arsenais dos EUA e da Rússia, mas as que viram notícia agora vêm de outros países. Tanto o Paquistão quanto a Índia desenvolveram armas nucleares e mísseis de alcance intermediário.
Os EUA temem que países por eles considerados irresponsáveis, como Irã e Coréia do Norte, desenvolvam mísseis balísticos que passem da categoria de "intermediários" para "intercontinentais", chegando ao seu território.
Os americanos estão instalando aos poucos um sistema de defesa contra mísseis. Não chega a ser tão espetacular como o "Guerra nas Estrelas" proposto pelo ex-presidente Ronald Reagan. Mas provoca reações do mesmo jeito.
Já há elementos do sistema em bases americanas no Alasca, por exemplo. A versão mais moderna do míssil antiaéreo Patriot tem um potencial antimíssil bem maior. Cruzadores equipados com o sistema de defesa Aegis também podem interceptar mísseis balísticos.
Mas o desejo dos EUA de ampliar a defesa a distâncias maiores criou polêmica, pois dois dos países que estão em negociação para abrigar partes do sistema eram antigos aliados da extinta União Soviética: Polônia e República Tcheca.
Os russos chiaram, afirmando que o sistema é voltado não contra o Irã, mas contra eles. O presidente Vladimir Putin chegou a dizer que o escudo antimíssil desencadearia uma nova corrida armamentista.
Os chineses foram mais enfáticos em avisar os americanos de que há limites para seu poder, especialmente se o objetivo for militarizar o espaço, quando usaram um míssil balístico para explodir um velho satélite em 11 de janeiro. Foi o primeiro teste de uma arma anti-satélite desde que os EUA fizeram o mesmo em 1985.
Um dos fatores que desequilibram as guerras convencionais travadas pelos EUA é a tecnologia espacial americana. Embora não existam armas no espaço, satélites de reconhecimento e navegação são fundamentais para planejar e executar guerras. Satélites "espiões" localizam alvos com precisão. Kits de adaptação transformam bombas "burras" em bombas guiadas por satélite com grande grau de precisão.
O disparo do míssil chinês certamente assustou os militares dos EUA, bem mais do que os discursos dos mais bem armados russos.


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