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Rússia resistirá a pressões contra Chávez
Diretor de organismo que coordena exportações de armas diz que vendas continuarão e só parariam por ordem da ONU
Venezuelano procurou Moscou depois que compra de peças com componentes americanos, entre elas o Supertucano, foi vetada
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
A Rússia não vai interromper
o fornecimento militar para
seu principal cliente na América Latina, a Venezuela, mesmo
que o país entre em guerra com
a Colômbia. A única hipótese
para uma suspensão na entrega
de caças e helicópteros seria
uma sanção aprovada pelo
Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A afirmação, em tom diplomático mas ao mesmo tempo
de recado, foi feita à Folha pelo
responsável pelas vendas de armas russas para a América Latina, Alexander Fomin. Ele é o
primeiro-vice-diretor do poderoso Escritório para Cooperação Técnico-Militar da Federação Russa, que acerta todas as
vendas de armas ao exterior.
"Não há nada que nos impeça de continuarmos nosso trabalho, mesmo que a situação
piore. A única coisa que nos faria parar seria uma sanção oficial da ONU", afirmou Fomin.
A mensagem é clara, ainda que
indireta: a Rússia vai reagir a
pressões dos norte-americanos, principais fornecedores e
aliados da Colômbia.
"Nós não estamos fomentando guerras", disse ele, lembrando que a Rússia já forneceu dez
helicópteros de transporte militar à Colômbia em contrato
de 1996. A Rússia passou a ser
um importante parceiro militar da Venezuela há dois anos,
quando começaram as negociações para o fornecimento de
caças multiuso Sukhoi-30, helicópteros de transporte e ataque, além de fuzis Kalashnikov.
A conta até aqui está em torno de US$ 4 bilhões, mas há
mais negócios à vista. Chávez
procurou Moscou depois que
ficou claro que não conseguiria
se rearmar comprando dos
seus adversários norte-americanos ou de qualquer produtor
ocidental.
Uma prova disso foi o veto
americano à venda de Supertucanos da Embraer para Chávez.
O modelo, o mesmo vendido à
Colômbia e usado no ataque
que matou Raúl Reyes no
Equador, é coalhado de peças e
sistemas americanos -Washington puniria a Embraer se
ela rompesse o embargo que
impôs a Caracas.
O diretor confirma que a Venezuela ainda não fez um pedido formal para outros sistemas
de defesa, como o de defesa antiárea Tor-M1. Sua principal
força de dissuasão são os poderosos caças Sukhoi, que tecnicamente podem operar em toda a região -há pelo menos 8
dos 24 encomendados já totalmente operacionais.
Fomin não dá sua opinião sobre o conflito atual. Mas afirma
acreditar, a partir de encontro
pessoal que teve com o venezuelano, que "Chávez não é o
maluco que dizem que é, é um
homem bastante razoável".
Sobre a ligação de Chávez
com as Farc, ele diz que a Rússia "garante" que armas vendidas ao venezuelano não irão
parar nas mãos da narcoguerrilha. "Nosso acordo é muito claro, com garantias contratuais."
Muitos analistas vêem nas
compras de Chávez apenas um
reaparelhamento, mas de uma
forma ou de outra ele estimulou vizinhos como a própria
Colômbia, o Chile e o Brasil a
estudar novas compras militares -numa pequena corrida
armamentista regional.
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