São Paulo, terça-feira, 04 de março de 2008

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Rússia resistirá a pressões contra Chávez

Diretor de organismo que coordena exportações de armas diz que vendas continuarão e só parariam por ordem da ONU

Venezuelano procurou Moscou depois que compra de peças com componentes americanos, entre elas o Supertucano, foi vetada

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

A Rússia não vai interromper o fornecimento militar para seu principal cliente na América Latina, a Venezuela, mesmo que o país entre em guerra com a Colômbia. A única hipótese para uma suspensão na entrega de caças e helicópteros seria uma sanção aprovada pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.
A afirmação, em tom diplomático mas ao mesmo tempo de recado, foi feita à Folha pelo responsável pelas vendas de armas russas para a América Latina, Alexander Fomin. Ele é o primeiro-vice-diretor do poderoso Escritório para Cooperação Técnico-Militar da Federação Russa, que acerta todas as vendas de armas ao exterior.
"Não há nada que nos impeça de continuarmos nosso trabalho, mesmo que a situação piore. A única coisa que nos faria parar seria uma sanção oficial da ONU", afirmou Fomin. A mensagem é clara, ainda que indireta: a Rússia vai reagir a pressões dos norte-americanos, principais fornecedores e aliados da Colômbia.
"Nós não estamos fomentando guerras", disse ele, lembrando que a Rússia já forneceu dez helicópteros de transporte militar à Colômbia em contrato de 1996. A Rússia passou a ser um importante parceiro militar da Venezuela há dois anos, quando começaram as negociações para o fornecimento de caças multiuso Sukhoi-30, helicópteros de transporte e ataque, além de fuzis Kalashnikov.
A conta até aqui está em torno de US$ 4 bilhões, mas há mais negócios à vista. Chávez procurou Moscou depois que ficou claro que não conseguiria se rearmar comprando dos seus adversários norte-americanos ou de qualquer produtor ocidental.
Uma prova disso foi o veto americano à venda de Supertucanos da Embraer para Chávez. O modelo, o mesmo vendido à Colômbia e usado no ataque que matou Raúl Reyes no Equador, é coalhado de peças e sistemas americanos -Washington puniria a Embraer se ela rompesse o embargo que impôs a Caracas.
O diretor confirma que a Venezuela ainda não fez um pedido formal para outros sistemas de defesa, como o de defesa antiárea Tor-M1. Sua principal força de dissuasão são os poderosos caças Sukhoi, que tecnicamente podem operar em toda a região -há pelo menos 8 dos 24 encomendados já totalmente operacionais.
Fomin não dá sua opinião sobre o conflito atual. Mas afirma acreditar, a partir de encontro pessoal que teve com o venezuelano, que "Chávez não é o maluco que dizem que é, é um homem bastante razoável".
Sobre a ligação de Chávez com as Farc, ele diz que a Rússia "garante" que armas vendidas ao venezuelano não irão parar nas mãos da narcoguerrilha. "Nosso acordo é muito claro, com garantias contratuais."
Muitos analistas vêem nas compras de Chávez apenas um reaparelhamento, mas de uma forma ou de outra ele estimulou vizinhos como a própria Colômbia, o Chile e o Brasil a estudar novas compras militares -numa pequena corrida armamentista regional.


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