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A MORTE DO PAPA
Roma pode receber 2 milhões de fiéis
Cidade transforma centro de exposições em imenso albergue e pede que católicos escalonem a visita ao corpo de João Paulo 2º
DO ENVIADO ESPECIAL A ROMA
Os fiéis que marcham pela via
di Porta Angelica, rumo à missa
na praça São Pedro, nem precisam parar. Apenas esticam a mão
e apanham a garrafinha de água
mineral marca Egeria que a Proteção Civil distribui (de graça),
mesmo não sendo um dia quente.
É um sinal, microsinal, de que
Roma, cidade habituada ao fluxo
de turistas, está se preparando
com cuidado e antecedência para
a invasão de peregrinos (e altas
autoridades) que comparecerão
aos funerais de João Paulo 2º. Serão dois milhões, calculam os jornais. Para uma cidade de 2,6 milhões de habitantes, é um tremendo desafio.
Os detalhes da preparação incluem, por exemplo, a instalação
de dez telões diante das igrejas de
que Roma é pródiga, para que os
fiéis não precisem se concentrar
na praça São Pedro, na qual mal
cabem 50 mil pessoas. Há ainda
ambulâncias, socorristas e centenas de cabinas de toaletes.
Incluem, igualmente, a convocação de 10 mil policiais para reforçar a segurança, sem contar o
esquema destinado a proteger a
formidável coleção de chefes de
Estado/governo que anuncia a
vinda para o funeral (só dos Estados Unidos, virão o atual presidente, George Walker Bush, e
dois de seus antecessores).
O previsível colapso logístico de
tamanho afluxo de visitantes,
anônimos e ilustres, fez Achille
Serra, responsável pela segurança
no âmbito municipal, emitir apelo para que os fiéis não venham
todos no mesmo dia para ver o
corpo do papa exposto dentro na
basílica de São Pedro.
Se será ouvido ou não, é outra
questão. A julgar pelo movimento
nos hotéis, não. Todas as vagas já
estão ocupadas ou reservadas para os próximos dias.
Por isso mesmo, as autoridades
já prepararam quatro locais para
funcionar como hotéis improvisados: os estádios Olímpico e Flamínio, as acomodações da Feira
de Roma (uma espécie de
Anhembi local) e também Tor
Vergara, a área em que ficaram
alojados os participantes da Jornada Mundial da Juventude, em
2000 (aliás, calcula-se que o número de visitantes, naquele ano,
também chegou perto dos 2 milhões - e Roma sobreviveu).
As autoridades municipais trabalham em conjunto com o camerlengo -que substitui o papa
morto para questões puramente
administrativas, o cardeal espanhol Cardinal Eduardo Martinez
Somalo -e o corpo de funcionários do Vaticano.
A suposição é a de que a agonia
do papa foi tão demorada que
provavelmente muitas decisões
para a logística de seus funerais já
tivessem sido tomadas. Só não
transpiraram por uma questão de
compreensível pudor.
O bloqueio de ruas ao tráfego
de automóveis ao redor do Vaticano fora acionado pela primeira
vez na sexta-feira, antes mesmo
de o papa morrer.
Agora, a cidade está contando
com ofertas dos municípios vizinhos, prontos para despejar voluntários na capital italiana. Graças a eles, já está previsto que o
metrô funcionará até tarde da
noite e que haverá serviços de
ônibus especiais fazendo a ligação entre diferentes pontos de
Roma e a praça de São Pedro.
(CLÓVIS ROSSI)
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