São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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Maioria dos italianos é de conservadores

DA REDAÇÃO

Caso os cardeais da Cúria -os "ministros" do governo da Igreja Católica- e os cardeais italianos façam uma frente comum pela eleição de um papa italiano, são grandes as chances de Dionigi Tettamanzi, 70, o arcebispo de Milão, e Angelo Scola, patriarca de Veneza, 63.
Tettamanzi, teólogo moral, de linha conservadora, é tido como co-autor de algumas encíclicas de Karol Wojtyla (carta aberta do papa sobre doutrina da igreja). Porém, é mais liberal em termos de doutrina católica que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé de João Paulo 2º, o cardeal alemão Joseph Ratzinger.
No que diz respeito à política religiosa, Tettamanzi é uma figura multifacetada. Já fez rasgados elogios ao fundador da organização católica ultraconservadora e elitista Opus Dei, de origem espanhola. Mas deu apoio às manifestações de jovens contra a globalização na cúpula do G8 (reunião de países ricos mais a Rússia) em Gênova, em 2001, pelo que recebeu críticas de católicos conservadores tanto na política laica como em termos religiosos.
É culto, afável e tem larga experiência pastoral. Conduziu dioceses importantes (não subiu na hierarquia eclesiástica fazendo carreira na Cúria), traço importante. Os cardeais podem optar por um dos seus, que conheça tanto os problemas diocesanos como os de relacionamento com a Cúria. Poucos inimigos. Quase risonho. Grande presença midiática, poucos talentos lingüísticos.

Scola, de Veneza
Três dos papas do século 20 foram patriarcas de Veneza, como Angelo Scola, 64: Pio 10, João 23 e João Paulo 1º. Considera-se que Scola vem manifestando claramente seu desejo de tornar-se papa, manifestação, claro, discreta, nos termos cardinalícios, nos quais postular uma candidatura explicitamente é de enorme e mau gosto e motivo de derrota quase certa. Ainda assim, pode-se ouvir a palavra "carreirista" quando se trata de Scola, talvez um preconceito contra sua origem popular: é filho de um motorista de caminhão. Formou-se em Milão, estudou na Alemanha e nos Estados Unidos. Fala muitas línguas e foi reitor da Universidade Laterana. É um intelectual.
Outro traço que pode prejudicá-lo, na perspectiva de muitos dos cardeais do Sul (América Latina, África, Ásia) e na de alguns americanos e europeus mais jovens, é o fato de ser ligado a conservadores americanos e de ser o primeiro cardeal do movimento "Comunione e Liberazione".
Trata-se de uma organização católica tradicionalista, integrista, por vezes acusada de esnobar a liderança pastoral dos bispos e de culto excessivo de seus carismático fundador, assim como a Opus Dei, os Focolares e os Neocatecumenais. Mas tais movimentos não foram em nada desencorajados por Wojtyla-ao contrário.
É muito próximo do guardião da doutrina da fé católica de Wojtyla, o cardeal Ratzinger, com quem trabalhou na revista "Communio", tradicionalista.

Outros italianos
Tarcisio Bertone, 70, arcebispo de Gênova, foi braço direito de Ratzinger. É um tradicionalista em moral e religião. Está em todas as listas tríplices dos jornais italianos, mas é pouco citado por sacerdotes e analistas fora da Itália.
Ennio Antonelli, 68, arcebispo de Florença, é tido pelos vaticanistas como tolerante, um grande espírito e líder pastoral, como João Paulo 1º, mas alguém sem grande energia política, apesar de ter sido secretário da conferência dos bispos italianos.
Angelo Sodano, 77, secretário de Estado do Vaticano, seria uma opção de continuidade e de papado não muito longo. Mas é difícil que seja eleito alguém da ala mais burocrática da Cúria.
Giovanne Battista Ré, 71, prefeito da Congregação dos Bispos, é nome de peso, mas papa improvável: falta-lhe experiência diocesana, como bispo, embora tenha sido um cardeais da Cúria mais próximos de João Paulo 2º. (VTF)


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