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Pastores sociais são os latinos mais fortes
DA REDAÇÃO
Latino-americano ou europeu?
Indiano ou nigeriano, uma opção
"terceiro mundista" ainda mais
extravagante do ponto de vista da
igreja eurocêntrica dos últimos
1500 ou 1600 anos? Quem pode
ser o próximo não-italiano?
No caso de um papado de transição, curto, conservador e continuísta, a opção seria o cardeal alemão Joseph Ratzinger, 77, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas esse ex-arcebispo
de Munique, grande teólogo, culto, gentil e radical, tende a dividir
o colégio de cardeais e foi cardeal
na Cúria por muito tempo. Mas
lembrá-lo é importante, pois será
um grande eleitor e seu pensamento estará no centro do debate.
Ratzinger defende o núcleo central da doutrina, aquilo de que
não é possível abrir mão sem que
se perca a identidade da crença
católica. A igreja não é uma associação de livres-pensadores ou de
indivíduos dispostos a delinear a
crença segundo seu arbítrio.
Quem age desse modo abandona os aspectos da fé que estorvam
o individualismo e o materialismo, coloca o prazer antes do compromisso. São atitudes como essa
que podem redundar em atos
contra a natureza criada por
Deus: uso de anticoncepcionais,
sexo sem casamento, o aborto.
Nessa visão tradicional, grandes
problemas são a cultura da descrença, o relativismo (todas as
idéias seriam equivalentes quanto
à sua "verdade"), a desconfiança
da religião institucional.
Temas como a colegialidade
(descentralização), o celibato e a
escassez de sacerdotes, a ordenação de mulheres e métodos artificiais para evitar a contracepção
podem entrar no debate dos cardeais e no programa do próximo
papa. Mas o núcleo da discussão
ainda parece posto por Ratzinger.
Hummes e latinos
A projeção de Cláudio Hummes, 70, deriva em parte ao fato de
que o arcebispo de São Paulo não
só adote a "linha correta" e predominante no colégio cardinalício
em relação ao núcleo da doutrina
católica, mas tenha participado
do centro desse debate na Santa
Sé. A isso, Hummes soma qualidades como forte liderança pastoral e grande apreço pela questão
da injustiça social, tema caro à
maioria dos cardeais do "Sul".
Traços semelhantes são compartilhados pelo arcebispo de Tegucigalpa (Honduras), Oscar Rodríguez Maradiaga, 62, figura midiática, bom lingüista, ex-presidente da conferência dos bispos
da América Latina. Mas a Rodríguez Maradiaga falta certa gravidade; ele vem de um país pequeno
e talvez esteja por demais à esquerda. Outro "pastor social",
mas ultraconservador em questões doutrinais e morais, é o arcebispo da Cidade do México, Norberto Rivera Carrera, 61, "jovem".
Outro nome sério é o do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, 71, jesuíta, o que pode prejudicá-lo. Crítico forte da política
argentina, é um pastor social sem
ser esquerdista. Bergoglio é ligado
ao movimento tradicionalista
"Comunione e Liberazione".
Os vaticanistas citam, de modo
irregular e algo arbitrário, vários
"papabili" europeus. O moderado
belga Godfried Daneels, 70, o austríaco Christoph Schönborn, 59,
algo mais conservador, "jovem",
são os nomes mais constantes.
São ainda cotados nomes como o
do moderado alemão Walter Kaspar, 72, e o dos portugueses José
da Cruz Policarpo, 69, patriarca
de Lisboa, e José Saraiva Martins,
73, prefeito da Causa dos Santos.
Dois típicos políticos da Santa
Sé também seriam as escolhas
mais espetaculares do conclave:
Francis Arinze, 72, e o arcebispo
de Bombaim, Ivan Dias, 68.
Arinze, negro e nigeriano, é tido
como "italiano", por ter feito carreira na Cúria, tratando do diálogo inter-religioso e como prefeito
da congregação para o Culto Divino, embora tenha sido arcebispo
em seu país natal.
Dias, "cardeal diplomata", passou grande parte da vida em postos na África, Ásia e Europa. Também fez carreira na Cúria. Cosmopolita, conservador, afável,
mas vem de um país em que só
3% da população é cristã.
(VTF)
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