São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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Pastores sociais são os latinos mais fortes

DA REDAÇÃO

Latino-americano ou europeu? Indiano ou nigeriano, uma opção "terceiro mundista" ainda mais extravagante do ponto de vista da igreja eurocêntrica dos últimos 1500 ou 1600 anos? Quem pode ser o próximo não-italiano?
No caso de um papado de transição, curto, conservador e continuísta, a opção seria o cardeal alemão Joseph Ratzinger, 77, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Mas esse ex-arcebispo de Munique, grande teólogo, culto, gentil e radical, tende a dividir o colégio de cardeais e foi cardeal na Cúria por muito tempo. Mas lembrá-lo é importante, pois será um grande eleitor e seu pensamento estará no centro do debate.
Ratzinger defende o núcleo central da doutrina, aquilo de que não é possível abrir mão sem que se perca a identidade da crença católica. A igreja não é uma associação de livres-pensadores ou de indivíduos dispostos a delinear a crença segundo seu arbítrio.
Quem age desse modo abandona os aspectos da fé que estorvam o individualismo e o materialismo, coloca o prazer antes do compromisso. São atitudes como essa que podem redundar em atos contra a natureza criada por Deus: uso de anticoncepcionais, sexo sem casamento, o aborto.
Nessa visão tradicional, grandes problemas são a cultura da descrença, o relativismo (todas as idéias seriam equivalentes quanto à sua "verdade"), a desconfiança da religião institucional.
Temas como a colegialidade (descentralização), o celibato e a escassez de sacerdotes, a ordenação de mulheres e métodos artificiais para evitar a contracepção podem entrar no debate dos cardeais e no programa do próximo papa. Mas o núcleo da discussão ainda parece posto por Ratzinger.

Hummes e latinos
A projeção de Cláudio Hummes, 70, deriva em parte ao fato de que o arcebispo de São Paulo não só adote a "linha correta" e predominante no colégio cardinalício em relação ao núcleo da doutrina católica, mas tenha participado do centro desse debate na Santa Sé. A isso, Hummes soma qualidades como forte liderança pastoral e grande apreço pela questão da injustiça social, tema caro à maioria dos cardeais do "Sul".
Traços semelhantes são compartilhados pelo arcebispo de Tegucigalpa (Honduras), Oscar Rodríguez Maradiaga, 62, figura midiática, bom lingüista, ex-presidente da conferência dos bispos da América Latina. Mas a Rodríguez Maradiaga falta certa gravidade; ele vem de um país pequeno e talvez esteja por demais à esquerda. Outro "pastor social", mas ultraconservador em questões doutrinais e morais, é o arcebispo da Cidade do México, Norberto Rivera Carrera, 61, "jovem".
Outro nome sério é o do arcebispo de Buenos Aires, Jorge Bergoglio, 71, jesuíta, o que pode prejudicá-lo. Crítico forte da política argentina, é um pastor social sem ser esquerdista. Bergoglio é ligado ao movimento tradicionalista "Comunione e Liberazione".
Os vaticanistas citam, de modo irregular e algo arbitrário, vários "papabili" europeus. O moderado belga Godfried Daneels, 70, o austríaco Christoph Schönborn, 59, algo mais conservador, "jovem", são os nomes mais constantes. São ainda cotados nomes como o do moderado alemão Walter Kaspar, 72, e o dos portugueses José da Cruz Policarpo, 69, patriarca de Lisboa, e José Saraiva Martins, 73, prefeito da Causa dos Santos.
Dois típicos políticos da Santa Sé também seriam as escolhas mais espetaculares do conclave: Francis Arinze, 72, e o arcebispo de Bombaim, Ivan Dias, 68.
Arinze, negro e nigeriano, é tido como "italiano", por ter feito carreira na Cúria, tratando do diálogo inter-religioso e como prefeito da congregação para o Culto Divino, embora tenha sido arcebispo em seu país natal.
Dias, "cardeal diplomata", passou grande parte da vida em postos na África, Ásia e Europa. Também fez carreira na Cúria. Cosmopolita, conservador, afável, mas vem de um país em que só 3% da população é cristã. (VTF)


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