São Paulo, segunda-feira, 04 de abril de 2005

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A MORTE DO PAPA

Gorbatchov elogia o papa "humanista"

Líderes mundiais lembram legado do papa, cuja morte, recebida com indiferença na China, entristeceu até o turco que tentou matá-lo em 81

DA REDAÇÃO

João Paulo 2º era o "humanista número um" do planeta, cuja defesa dos direitos humanos ajudou o Leste Europeu a se ver livre do peso da opressão comunista, segundo disse ontem Mikhail Gorbatchov, o último líder soviético.
"Ele era alguém que trabalhava pela glória das pessoas. Ele não defendia um partido ou um conjunto de políticas. Sua missão vinha de Deus. Eu diria que ele era o humanista número um", afirmou Gorbatchov, que permitiu a abertura do regime soviético que causou o fim do comunismo no país.
O ditador cubano, Fidel Castro, por sua vez, enviou ao Vaticano uma nota de condolências e decretou três dias de luto oficial na ilha. "A humanidade guardará uma lembrança emocionada do trabalho incansável de João Paulo 2º pela paz, pela justiça e pela solidariedade entre todos os povos", afirmou a nota de Fidel, segundo a mídia estatal cubana.
Ele falou ainda da visita do papa à ilha, ocorrida em 1998. Para o ditador, ela "ficará gravada na memória da nação como um momento transcendental no que tange às relações entre o Estado do Vaticano e a República de Cuba".
A Europa classificou João Paulo 2º de um incansável "campeão da paz" e de um líder mundial que foi essencial para a reunificação do continente e para a derrota do comunismo. "O mundo -não só os católicos- perdeu um líder espiritual inesquecível e um inspirado campeão da paz e da solidariedade", disse Javier Solana, chefe da política externa da UE.
O dalai-lama, o líder espiritual -no exílio- do Tibete, falou de sua admiração pelo papa e de sua experiência comum em relação ao comunismo. "Desde o início de nossa amizade, ele me disse que entendia claramente a questão tibetana por causa de sua própria experiência com o comunismo na Polônia. Isso me deu grande coragem", disse o dalai-lama.
Até o turco Mehmet Ali Agca, que tentou matar João Paulo 2º em atentado em 1981, está entristecido com a morte do papa, que "se tornou seu amigo", segundo o irmão dele. Agca está preso na Turquia atualmente.
Em meio à comoção internacional, o príncipe Charles disse que levará adiante o seu casamento com Camilla Parker-Bowles apesar do funeral do papa, segundo afirmou um porta-voz. A união dos dois está marcada para a sexta-feira, dia 8. Ficou definido agora que Camila será rainha se Charles chegar ao trono.

China
A morte do papa João Paulo 2º foi recebida com indiferença na China, país em que o ateísmo é uma política de Estado e a religião é encarada com desconfiança.
No caso do catolicismo, a situação é agravada pela ausência de relações diplomáticas entre a China e o Vaticano desde 1951, dois anos após a chegada ao poder do Partido Comunista.
Pequim não reconhece a autoridade do papa sobre a Igreja Católica local, que é chamada de "patriótica". Seus padres e bispos não são ordenados pelo Vaticano e pertencem à Associação Católica Patriótica da China, que tem a chancela do Partido Comunista.
Mesmo assim, o papa é visto como líder espiritual por grande parte dos cerca de 5 milhões de católicos chineses seguidores da igreja "patriótica". Na missa rezada ontem na principal catedral de Pequim, dezenas de fiéis rezaram em homenagem ao papa. "Deus o chamou para descansar em seus braços", afirmou o reverendo Sun Shangen. "Hoje vamos mantê-lo em nossos pensamento durante nossas orações. Vamos rezar pela graça de Deus para que ele vá logo para o céu", disse Sun.
As igrejas católicas de Pequim aceitas pelo governo terão missas em homenagem ao papa. A associação patriótica enviou nota de condolências ao Vaticano, na qual diz que a morte do papa é "uma grande perda para o trabalho pastoral e evangélico da igreja".


Colaborou Cláudia Trevisan

Com agências internacionais


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