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CHOQUE NA FRANÇA
Para o Conselho Constitucional, protesto dos que vão votar útil em Chirac viola sigilo eleitoral
França proíbe tapar o nariz na hora de votar
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O Conselho Constitucional
francês advertiu ontem que usar
luvas ou tapar o nariz na hora de
votar no segundo turno das eleições presidenciais, amanhã, é inconstitucional.
Grupos esquerdistas difundiram a operação "Mãos Limpas" e
"Pregador no Nariz" nos últimos
dias na França. Usando luvas ou
tapando o nariz, os eleitores manifestariam o seu desgosto em ter
de votar no candidato de centro-direita, Jacques Chirac, suspeito
de corrupção, para conter o avanço da extrema direita de Jean-Marie Le Pen. "Tape o nariz e vote em
Chirac", diz uma das campanhas.
"Salve a democracia, mantendo
as mãos limpas", incita outra.
O Conselho Constitucional declarou que o protesto é "contrário
ao segredo do voto" e avisou que
as contravenções podem levar a
um ano de prisão ou a multa de
15 mil (R$ 33,2 mil), conforme o
Código Eleitoral da França.
Entre 2.000 e 2.500 juízes vão supervisar as eleições e estarão atentos a qualquer tipo de manifestação na hora do voto. O Conselho
Constitucional disse que pode
anular "pura e simplesmente" o
escrutínio de uma zona eleitoral
onde infrações desse tipo ocorram. Ele alertou também que tais
atos podem permitir que a Frente
Nacional, partido de Le Pen, recorra à Justiça.
O prefeito socialista de Villemagne (sul), Alain Bauda, está
porém decidido a enfrentar a Justiça eleitoral. Ele anunciou que vai
distribuir luvas e produtos de desinfecção aos eleitores "contrariados" por votar em Chirac. O prefeito não acha que a atitude ponha
em risco o segredo do voto.
A proximidade das eleições renovou a tensão política no país,
que havia entrado em calmaria
depois das manifestações de
quarta-feira. Le Pen está propagando que "uma operação de
fraude enorme, gigantesca" vem
sendo preparada contra ele. "Um
clima totalitário se instalou na
França", afirmou. "Hoje, tudo é
bom para abater Le Pen."
A Frente Nacional também teme pressão na zonas eleitorais.
"Peço a vocês que tenham coragem na solidão da cabine de voto.
Não se deixem intimidar", disse
Le Pen aos seus eleitores.
O receio da direita e da esquerda
de que o extremista obtenha mais
de 20% dos votos também se
acentuou com as últimas pesquisas de intenção de voto. Ontem, o
instituto Sofres divulgou a sua,
que dá de 64% a 82% para Chirac
e de 18% a 36% para Le Pen.
Le Pen obteve 16,8% dos votos
no primeiro turno. Ele espera herdar os 2,3% obtidos por Bruno
Mégret (2,3%), o outro candidato
de extrema direita. Pesquisa do
Sofres, porém, apurou que apenas
43% dos eleitores de Le Pen votaram no primeiro turno.
"Se Le Pen tiver 20%, ele terá ganho. Abaixo disso será uma derrota", disse o sociólogo Jean
Viard, do Centro de Estudo da Vida Política Francesa (Cevipof).
"Se Le Pen ultrapassar 30%, ele
estará numa posição de desestabilização do sistema político, sobretudo nas eleições legislativas",
disse o cientista político Dominique Reynié. As legislativas ocorrerão em junho e estão sendo chamadas de "terceiro turno" das
eleições francesas.
Le Pen espera pelo menos 30%.
"Abaixo disso será um fracasso",
declarou ontem o candidato.
"Significará que nossa advertência solene aos eleitores não foi ouvida. Mas, em qualquer hipótese,
a cifra que nós fizermos terá sua
repercussão sobre nossas candidaturas nas legislativas."
O nível de abstenção no segundo turno deve se reduzir drasticamente. Os pedidos de voto por
procuração, possível na França,
aumentaram em todo o país. Só
em Paris, as solicitações cresceram 40% em relação ao primeiro
turno, quando 28% dos 4 milhões
de eleitores se abstiveram -um
recorde histórico.
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