São Paulo, sábado, 04 de maio de 2002

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CHOQUE NA FRANÇA

Para o Conselho Constitucional, protesto dos que vão votar útil em Chirac viola sigilo eleitoral

França proíbe tapar o nariz na hora de votar

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O Conselho Constitucional francês advertiu ontem que usar luvas ou tapar o nariz na hora de votar no segundo turno das eleições presidenciais, amanhã, é inconstitucional.
Grupos esquerdistas difundiram a operação "Mãos Limpas" e "Pregador no Nariz" nos últimos dias na França. Usando luvas ou tapando o nariz, os eleitores manifestariam o seu desgosto em ter de votar no candidato de centro-direita, Jacques Chirac, suspeito de corrupção, para conter o avanço da extrema direita de Jean-Marie Le Pen. "Tape o nariz e vote em Chirac", diz uma das campanhas. "Salve a democracia, mantendo as mãos limpas", incita outra.
O Conselho Constitucional declarou que o protesto é "contrário ao segredo do voto" e avisou que as contravenções podem levar a um ano de prisão ou a multa de 15 mil (R$ 33,2 mil), conforme o Código Eleitoral da França.
Entre 2.000 e 2.500 juízes vão supervisar as eleições e estarão atentos a qualquer tipo de manifestação na hora do voto. O Conselho Constitucional disse que pode anular "pura e simplesmente" o escrutínio de uma zona eleitoral onde infrações desse tipo ocorram. Ele alertou também que tais atos podem permitir que a Frente Nacional, partido de Le Pen, recorra à Justiça.
O prefeito socialista de Villemagne (sul), Alain Bauda, está porém decidido a enfrentar a Justiça eleitoral. Ele anunciou que vai distribuir luvas e produtos de desinfecção aos eleitores "contrariados" por votar em Chirac. O prefeito não acha que a atitude ponha em risco o segredo do voto.
A proximidade das eleições renovou a tensão política no país, que havia entrado em calmaria depois das manifestações de quarta-feira. Le Pen está propagando que "uma operação de fraude enorme, gigantesca" vem sendo preparada contra ele. "Um clima totalitário se instalou na França", afirmou. "Hoje, tudo é bom para abater Le Pen."
A Frente Nacional também teme pressão na zonas eleitorais. "Peço a vocês que tenham coragem na solidão da cabine de voto. Não se deixem intimidar", disse Le Pen aos seus eleitores.
O receio da direita e da esquerda de que o extremista obtenha mais de 20% dos votos também se acentuou com as últimas pesquisas de intenção de voto. Ontem, o instituto Sofres divulgou a sua, que dá de 64% a 82% para Chirac e de 18% a 36% para Le Pen.
Le Pen obteve 16,8% dos votos no primeiro turno. Ele espera herdar os 2,3% obtidos por Bruno Mégret (2,3%), o outro candidato de extrema direita. Pesquisa do Sofres, porém, apurou que apenas 43% dos eleitores de Le Pen votaram no primeiro turno.
"Se Le Pen tiver 20%, ele terá ganho. Abaixo disso será uma derrota", disse o sociólogo Jean Viard, do Centro de Estudo da Vida Política Francesa (Cevipof).
"Se Le Pen ultrapassar 30%, ele estará numa posição de desestabilização do sistema político, sobretudo nas eleições legislativas", disse o cientista político Dominique Reynié. As legislativas ocorrerão em junho e estão sendo chamadas de "terceiro turno" das eleições francesas.
Le Pen espera pelo menos 30%. "Abaixo disso será um fracasso", declarou ontem o candidato. "Significará que nossa advertência solene aos eleitores não foi ouvida. Mas, em qualquer hipótese, a cifra que nós fizermos terá sua repercussão sobre nossas candidaturas nas legislativas."
O nível de abstenção no segundo turno deve se reduzir drasticamente. Os pedidos de voto por procuração, possível na França, aumentaram em todo o país. Só em Paris, as solicitações cresceram 40% em relação ao primeiro turno, quando 28% dos 4 milhões de eleitores se abstiveram -um recorde histórico.



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