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BÁLCÃS
Em Haia, ex-ditador iugoslavo tenta vincular Rugova ao interesse das potências ocidentais na região
Milosevic desafia líder kosovar em tribunal
PAUL GALLAGHER
DA REUTERS, EM HAIA
Slobodan Milosevic e o presidente de Kosovo, Ibrahim Rugova, travaram um tiroteio verbal
no ambiente tenso do tribunal de
Haia, ontem, num confronto
amargo sobre o papel exercido
pelo antigo ditador iugoslavo na
repressão da Província.
Rugova, que estava depondo no
julgamento de Milosevic por crimes de guerra diante do tribunal
da ONU, acusou seu antigo inimigo de desencadear uma campanha brutal de limpeza étnica em
Kosovo, em 1999, numa tentativa
de eliminar seu movimento pró-independência.
Acadêmico de fala mansa que,
nos anos 1990, liderou uma campanha de resistência passiva da
maioria de origem albanesa em
Kosovo contra o governo de Milosevic, Rugova culpou Milosevic
pelos alegados massacres sérvios
de kosovares de origem albanesa.
O ex-ditador iugoslavo, que se
defende de acusações de genocídio e crimes contra a humanidade
na Croácia, na Bósnia e em Kosovo, respondeu com uma saraivada de perguntas.
"Senhor Rugova, acha que o senhor, pessoalmente, e os kosovares albaneses foram usados para
implementar a vontade das grandes potências? Sim ou não?", indagou Milosevic, que acusa o Ocidente de tentar destruir a Iugoslávia.
"Não fomos usados. A comunidade internacional saiu em nossa
defesa contra os massacres perpetrados por Belgrado e pelo senhor. Essa é a verdade", respondeu Rugova.
"Bem, a história oferece muitos
exemplos que dizem o contrário",
retrucou Milosevic.
Rugova disse ao tribunal: "Ficou claro que Belgrado decidiu
destruir Kosovo por meio da violência e da guerra. Foi uma limpeza da população efetuada com
calma. Todos nós sabemos o que
aconteceu em 1998 e 1999". Enquanto ele falava, Milosevic se espreguiçava no banco dos réus, rabiscava anotações e bocejava.
Pontos irrelevantes
Acusado de responsabilidade
pela morte de mais de 900 kosovares albaneses e a expulsão de
cerca de 800 mil durante a violenta onda de repressão sérvia que
desencadeou os bombardeios da
Otan sobre a Iugoslávia, Milosevic
vem conduzindo sua própria defesa desde que o julgamento começou, em fevereiro.
Muitas de suas perguntas, repletas de referências à CIA, às quadrilhas de drogas albanesas e à
ocupação dos Bálcãs pelos nazistas durante a Segunda Guerra, foram consideradas irrelevantes
juiz Richard May, que preside o
julgamento.
Para condenar Milosevic pelos
acontecimentos de Kosovo, os
promotores terão de provar não
apenas que ocorreram atrocidades contra os kosovares albaneses, mas também que Milosevic
tinha conhecimento ou deveria
ter conhecimento delas.
Qualquer evidência que Rugova
puder fornecer sobre informações que transmitiu a Milosevic
ou sobre o envolvimento do ex-ditador na cadeia de comando das
forças de segurança pode ajudar a
Promotoria.
Na segunda-feira, Milosevic vai
retomar seu interrogatório de Rugova, dentro do contexto do
maior julgamento de crimes de
guerra na Europa desde a Segunda Guerra.
Tradução de Clara Allain
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