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EUA
Bush aceita renúncia de George Tenet, criticado pela ausência de armas de destruição em massa no Iraque e pelo 11 de Setembro
Sob ataque, diretor da CIA deixa o cargo
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Sob forte pressão e de modo
inesperado, o diretor-geral da
CIA (o serviço secreto dos EUA),
George Tenet, pediu demissão do
cargo ontem alegando razões pessoais. O pedido foi aceito imediatamente pelo presidente americano, George W. Bush.
Tenet, 51, estava no centro de
uma série de controvérsias que
vêm minando a popularidade de
Bush a cinco meses da eleição presidencial, em novembro.
Ele é o primeiro funcionário de
alto escalão do governo Bush a
deixar o cargo por falhas relacionadas à campanha no Iraque e aos
atentados do 11 de Setembro.
Sua saída foi interpretada como
um sinal de fortalecimento da
área mais moderada do governo
Bush, em especial do secretário de
Estado, Colin Powell, no momento em que os EUA buscam o apoio
das Nações Unidas para uma nova resolução que amplie a ajuda
internacional no Iraque.
Seguindo seu estilo de total lealdade a colaboradores, Bush elogiou Tenet e procurou diminuir o
impacto da notícia, que pegou de
surpresa os principais políticos e
analistas de Washington.
"Tenet sai por razões pessoais.
Sinto por sua partida, pois ele fez
um trabalho surpreendente em
benefício do povo americano,
com forte liderança na guerra
contra o terrorismo", disse Bush.
"É uma decisão pessoal e tem
apenas um motivo: o bem-estar
da minha família", disse Tenet.
Ele será substituído interinamente pelo diretor-adjunto do órgão, John McLaughlin, que poderá ficar na função até depois da
eleição, em novembro. Se reeleito,
é esperado que Bush faça uma
grande reestruturação na área de
inteligência dos EUA.
Tenet já havia manifestado desejo de deixar o posto, mas sua
saída agora foi interpretada como
uma estratégia de Bush para tentar reconquistar a credibilidade
perdida e reordenar as forças dentro de seu próprio governo.
"A decisão é bem-vinda e mostra uma forte necessidade de
apontar responsáveis pelo modo
como as coisas ficaram no Iraque.
E essa responsabilidade está no
topo", disse à Folha Frederick
Barton, analista do Centro Internacional de Estudos Estratégicos.
Tenet foi o principal responsável por "montar" o caso dos EUA
contra Saddam Hussein para justificar a Guerra do Iraque.
Em fevereiro de 2003, ele apareceu sentado atrás de Colin Powell
na ONU enquanto o secretário
mostrava "evidências" (fotos, vídeos e gravações) de que Saddam
possuía as armas de destruição
em massa que até hoje não foram
encontradas no Iraque.
Há alguns dias, Powell afirmou
que as informações passadas pela
CIA eram "erradas, não-confirmadas e, em alguns casos, deliberadamente enganosas". "Estou
desapontado e me arrependo [de
tê-las usado]", declarou.
Em abril, na fase mais quente
dos trabalhos da comissão especial que investiga os atentados do
11 de Setembro, o senador democrata Ted Kennedy pediu a cabeça
de Tenet por, entre outras coisas,
"falhar no Iraque" e por ""não ter a
menor idéia" de onde se encontra
o líder da rede Al Qaeda, Osama
Bin Laden.
John Kerry, virtual adversário
de Bush em novembro, também
já havia pedido sua demissão. Ontem, afirmou: "Desejo tudo de
bom para Tenet, mas o governo
Bush tem de assumir a responsabilidade por falhas significativas
em seus serviços de inteligência".
Mais recentemente, Tenet estava no centro de uma nova polêmica contra o próprio Pentágono,
quando o iraquiano Ahmad Chalabi, um protegido do secretário
Donald Rumsfeld (Defesa), apontou a CIA como responsável por
acusá-lo de passar informações
secretas ao Irã.
Jon Alterman, especialista de
defesa, diz ser "notável" que Tenet tenha "durado tanto tempo".
"A saída é uma indicação do nível
de queixas contra ele, especialmente de Powell."
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