São Paulo, sexta-feira, 04 de junho de 2004

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Iraquianos exigem ter controle sobre segurança e recursos do país

DA REDAÇÃO

O governo interino iraquiano, que assumirá no próximo dia 30, exigiu ter controle sobre os assuntos de segurança do país, ainda que veja como necessária a presença das forças militares estrangeiras após sua posse. Uma proposta de resolução apresentada por EUA e Reino Unido à ONU dá a Washington o controle das tropas, mas não deixa claro como se dará a coordenação das operações com o governo nacional.
O chanceler iraquiano, Hoshyar Zebari, disse ontem que a proposta em debate no Conselho de Segurança deve não apenas deixar clara essa interação, como também garantir que a soberania do país -que deve ser total- não seja enfraquecida. Outra exigência é que o governo interino tenha o controle e administre "todos os recursos e ativos iraquianos" e as Forças Armadas do país.
"É um fato objetivo que precisamos da assessoria contínua dessas tropas, mas também precisamos que sua presença seja regulamentada sob um acordo que não enfraqueça nossa soberania nem o direito das forças multinacionais de se defender", disse Zebari.
As questões se assemelham às demandas feitas por países que se opuseram à guerra, como França, China, Rússia e Alemanha, para aceitar a proposta.
John Negroponte, futuro embaixador americano no Iraque e atual representante do país na ONU, afirmou que ainda é preciso fazer "o ajuste fino" da proposta. Os EUA já concordaram em fixar a saída das forças estrangeiras "na conclusão do processo transitório", o que diplomatas interpretam como a posse de um governo eleito diretamente (prevista para janeiro de 2006). Mas permanecem reticentes quanto à palavra final nas operações de segurança.
O secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, afirmou que o governo interino não terá poder de veto sobre as forças multinacionais. "Pode haver uma situação em que tenhamos de agir e ocorra um desentendimento", disse ele ao Centro de Radiodifusão do Oriente Médio. Mesmo assim, Powell afirmou acreditar que "não haverá problemas".
É consenso, no entanto, que as forças estrangeiras devam permanecer no país após 30 de junho. "Uma partida prematura das forças estrangeiras levaria ao caos e à possibilidade de uma guerra civil", disse Zebari. "Isso causaria uma crise humanitária e abriria caminho para terroristas lançarem sua campanha em nosso país e além de nossas fronteiras."
A violência segue sendo o maior problema do Iraque pós-guerra. Ontem, a Embaixada da Itália em Bagdá sofreu um ataque com morteiros no qual um iraquiano morreu. Em Najaf e Kufa, no sul do país, os embates entre as forças dos EUA e a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr entraram em seu oitavo dia, fazendo mais seis mortos e 11 feridos.

Al Sistani
Com a resolução, Washington e Londres buscam obter maior cooperação de outros países com a reconstrução e maior credibilidade para o governo interino entre os próprios iraquianos.
Sobre o segundo ponto, houve uma conquista ontem quando o grão-aiatolá Ali al Sistani, o maior líder xiita do país, deu ao governo recém-anunciado pelo extinto Conselho de Governo Iraquiano um voto de confiança ao dizer que, mesmo carecendo de "legitimidade eleitoral", ele constitui "um avanço na direção certa".
"A esperança é que esse governo prove seu valor, sua integridade e sua prontidão em executar as tarefas colossais que lhe cabem", disse Al Sistani em um comunicado emitido por seu escritório.


Com agências internacionais

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