São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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Invasão teve início após duas explosões

DA REDAÇÃO

Autoridades da Rússia e da Ossétia do Norte, que haviam descartado o uso imediato da força no começo da crise, disseram ter sido compelidas a agir pelos terroristas.
"A ação militar não foi programada. Estávamos planejando mais negociações", afirmou Valery Andreyev, chefe da FSB (ex-KGB, a polícia secreta soviética) na Ossétia do Norte.
O dia de pânico e morte na escola de Beslan começou quando os terroristas abriram fogo contra cerca de 30 mulheres e crianças que haviam conseguido fugir às 13h10 locais (6h10 em Brasília), na confusão formada após duas explosões na escola.
Mais de 200 pessoas, incluindo dezenas de crianças, morreram após a invasão das tropas que terminou o ataque terrorista iniciado 53 horas antes. Pelo menos 704 reféns libertados foram hospitalizados -259 deles crianças.
Um porta-voz do governo regional afirmou que três terroristas tentando fugir foram capturados, mas quatro conseguiram escapar. Segundo a agência de notícias Interfax, uma autoridade disse que 27 extremistas foram mortos.
Inicialmente estimado em cerca de 300, o número de reféns pode ter sido de 1.200 a até 1.500. A Escola Número 1 de Beslan tem cerca de 900 alunos, com idades de 7 a 17 anos, mas no momento em que foi tomada pelos terroristas acontecia uma festa com a presença de professores e pais para celebrar o início do ano letivo.
Ontem pela manhã, quando ainda havia uma certa calma, houve um acordo para que equipes de socorro entrassem na escola e tirassem os corpos de reféns mortos. Um vereador da cidade disse que 20 homens adultos haviam sido fuzilados.
Segundo uma testemunha, o início do confronto aconteceu de forma acidental. Uma mulher que estava no ginásio, onde os reféns foram aprisionados, disse que uma das bombas colocadas pelos terroristas no teto se desprendeu e explodiu ao cair, criando a oportunidade para a fuga das 30 mulheres e crianças. Outra versão diz que duas terroristas acionaram os explosivos que tinham em seus corpos e uma terceira afirma que bombas presas nas cestas de basquete foram detonadas.
"Tirando vantagem do pânico, reféns começaram a fugir. Os criminosos passaram a atirar neles pelas costas. As forças especiais tiveram de dar cobertura aos reféns que fugiam. Infelizmente é isso o que aconteceu", disse um porta-voz do governo regional.
Com as explosões, o teto do ginásio ruiu e começou um incêndio. Mais tarde, testemunhas disseram ter contado por volta de cem corpos no local.
"Eu quebrei a janela e fugi. As pessoas corriam para todas os lados. [Os terroristas] estavam atirando do teto", contou um rapaz. Militares explodiram buracos nas paredes para facilitar a fuga.
No meio do caos, um soldado corria com uma criança que havia perdido uma perna. Equipes de socorro carregavam feridos e cadáveres em macas. Uma mulher gritava desesperada enquanto era retirada: "Eu tenho que voltar, meu filho está lá dentro!". Dois membros da equipe de socorro morreram durante o resgate.

"O ginásio é nosso"
Mais de uma hora depois das primeiras explosões, os integrantes das forças especiais anunciaram aos gritos: "O ginásio é nosso!". No entanto apenas uma hora mais tarde começou a retirada de crianças feridas gravemente.
Segundo autoridades, cinco horas após a invasão ainda havia terroristas mantendo crianças como reféns. Cerca de seis horas depois do início da operação, uma nova explosão sacudiu a escola. Às 23h30 (16h10 em Brasília), as autoridades afirmaram que as operações estavam encerradas.
Não se sabe quantos terroristas participaram da operação. Um funcionário do Ministério do Interior da Ossétia do Norte disse à agência de notícias russa Interfax que os terroristas eram cerca de 40 -inicialmente falou-se em 20- e que se separaram em três grupos na hora da invasão.
Cinco teriam ficado na escola, enquanto outros misturaram-se aos reféns e a maioria tentou fugir abrindo seu caminho a tiros. Alguns destes se refugiaram em uma casa das redondezas.
Andreyev, do serviço secreto FSB, disse que dez dos terroristas mortos eram árabes, e um, africano. Funcionários do governo russo sugeriram que a Al Qaeda tenha financiado a ação em Beslan.
Na madrugada de hoje (horário local), o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma visita-surpresa a sobreviventes num hospital de Beslan, segundo a Interfax.


Com agências internacionais


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