São Paulo, sábado, 04 de setembro de 2004

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Crianças podem sofrer grave desordem mental

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

As crianças que ficaram em poder dos terroristas na escola da Ossétia do Norte devem sofrer graves desordens psicológicas a partir do episódio. Ansiedade intensa, medo, desconfiança, dificuldade de sono, pesadelos, distanciamento afetivo e falta de concentração são algumas delas.
Esses transtornos podem acontecer imediatamente após o trauma (estresse agudo) ou após seis meses (estresse pós-traumático). Estudos mostram que, após um evento dessa natureza, 90% das crianças podem ficar abaladas por algumas semanas, 50% por seis meses e 15% por vários anos.
Segundo o pediatra francês Gilbert Vila, especializado em psicotraumatologia infantil, crianças que sobreviveram a terremotos ou a guerras continuavam com desordens emocionais aos 30.
Para o psiquiatra Eduardo Ferreira Santos, do Instituto de Psiquiatra do Hospital das Clínicas de São Paulo, quanto maior for a criança, maiores serão as repercussões psíquicas.
"A criança até seis anos tende a ver o trauma de uma forma lúdica. Muitas vezes, a reação dos pais as afeta mais do que o trauma em si", diz Santos.
Ele avalia que os danos emocionais causados pela situação vivida na escola são piores do que os vivenciadas em uma guerra, por exemplo, porque o agente estressante (terrorismo) permanece.
Santos traça um paralelo com a violência no Rio e São Paulo, em que a vítima de um seqüestro-relâmpago, por exemplo, sabe que poderá viver o trauma a qualquer momento novamente. "Esses casos são mais difíceis de tratar."
Apesar de os transtornos emocionais serem praticamente certos, não há um consenso na comunidade psiquiátrica internacional sobre é melhor tratar a criança, com psicoterapia, logo após o trauma, ou esperar que as seqüelas se manifestem de fato. Alguns estudiosos defendem que o tratamento imediato pode piorar o quadro de estresse.
Gilbert Vila diz que as repercussões emocionais nos bebês ainda são mal documentadas. "Temos visto casos de crianças que apresentam as mesmas seqüelas dos veteranos do Vietnã", diz.


Com a France Presse


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