São Paulo, quinta-feira, 04 de outubro de 2001

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DIPLOMACIA

Putin explora importância estratégica de seu país; Powell vê melhora "histórica" nas relações

Rússia tenta cavar espaço na Otan

STEPHEN CASTLE
DO "THE INDEPENDENT", EM BRUXELAS

O presidente russo, Vladimir Putin, fez um gesto em direção à Otan ontem, expressando apoio à campanha internacional contra o terrorismo e pedindo que a aliança se transforme numa organização mais ampla, com a qual a Rússia possa envolver-se plenamente.
Num dia de conversações com líderes da União Européia e da aliança militar ocidental, Putin pediu que a comunidade européia "volte a analisar a segurança regional" e que seus colegas líderes sugiram "soluções práticas".
Os comentários, respaldados pela promessa firme de assistência russa à coalizão contra o terrorismo, realçaram a determinação de Moscou em aproveitar o novo clima internacional para ampliar o papel internacional da Rússia.
O resultado desse esforço já se faz sentir em declarações do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell. Segundo ele, as promessas russas de colaboração marcam uma "mudança sísmica de proporções históricas" nas relações entre Washington e Moscou.
Powell afirmou que, até recentemente, a melhora da relação entre Otan e Rússia seria "impensável".

Segurança
Ao mesmo tempo em que focalizaram principalmente a cooperação internacional contra a rede de Osama bin Laden, as conversações também trataram da questão mais delicada do envolvimento russo nos sistemas de segurança pós-Guerra Fria.
Na cúpula entre UE e Rússia, as duas partes concordaram em manter conversações mensais sobre defesa, envolvendo Moscou intimamente com os planos de segurança européia que começam a ser traçados e com sua meta de criar, até 2003, uma força de reação rápida. O novo clima de parceria foi cimentado num comunicado conjunto UE-Rússia prometendo cooperação para bloquear as redes financeiras terroristas e trocas de informações sobre suspeitos, movimentação de materiais químicos, biológicos ou nucleares, o uso de documentos falsos e outros sinais de atividade terrorista.
Em troca, a UE reduziu a intensidade de suas críticas às violações dos direitos humanos cometidas pela Rússia na Tchetchênia, tendo dedicado ao assunto só um parágrafo em tom bastante neutro na declaração conjunta divulgada.
Enquanto isso, Putin, crítico acirrado dos planos de expansão da Otan, especialmente na direção do Báltico, sugeriu uma saída possível quando argumentou que a evolução da aliança que a afaste da condição de aliança militar da Guerra Fria pode permitir que Moscou veja sua ampliação sob "outra ótica, inteiramente nova".
Putin argumentou: "Vivem dizendo que a Otan está se tornando mais política do que militar. Estamos observando esse processo. Se for verdade, isso mudaria a situação consideravelmente".

Cartas na manga
O tom positivo perdeu um pouco de força quando, após encontro com o secretário-geral da Otan, George Robertson, Putin indagou sobre a segurança de que país ou países seria fortalecida com a possível ampliação da aliança. Robertson respondeu: "Haverá uma ampliação da Otan no ano que vem, mas ainda não foi decidido quantos países irão juntar-se à aliança. No momento não existe candidatura russa, mas o que existe é uma parceria que está crescendo em termos de profundidade e relevância".
Para um alto representante europeu, os russos "dispõem de relativamente poucas cartas em seu baralho, mas as estão usando muito bem".
Diplomatas apontaram para a oferta da UE de consultar a Rússia sobre sua nova iniciativa de defesa como exemplo do novo clima que estaria criando um arranjo mais favorável a Moscou do que aquele anterior a 11 de setembro.
O chanceler russo, Igor Ivanov, disse que a oferta de conversações pelo menos mensais com o comitê político e de segurança da UE constitui "um passo importante no sentido de criar um mecanismo de funcionamento permanente para o futuro".


Tradução de Clara Allain



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