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DIPLOMACIA
Putin explora importância estratégica de seu país; Powell vê melhora "histórica" nas relações
Rússia tenta cavar espaço na Otan
STEPHEN CASTLE
DO "THE INDEPENDENT", EM BRUXELAS
O presidente russo, Vladimir
Putin, fez um gesto em direção à
Otan ontem, expressando apoio à
campanha internacional contra o
terrorismo e pedindo que a aliança se transforme numa organização mais ampla, com a qual a Rússia possa envolver-se plenamente.
Num dia de conversações com
líderes da União Européia e da
aliança militar ocidental, Putin
pediu que a comunidade européia "volte a analisar a segurança
regional" e que seus colegas líderes sugiram "soluções práticas".
Os comentários, respaldados
pela promessa firme de assistência russa à coalizão contra o terrorismo, realçaram a determinação
de Moscou em aproveitar o novo
clima internacional para ampliar
o papel internacional da Rússia.
O resultado desse esforço já se
faz sentir em declarações do secretário de Estado dos EUA, Colin
Powell. Segundo ele, as promessas
russas de colaboração marcam
uma "mudança sísmica de proporções históricas" nas relações
entre Washington e Moscou.
Powell afirmou que, até recentemente, a melhora da relação entre
Otan e Rússia seria "impensável".
Segurança
Ao mesmo tempo em que focalizaram principalmente a cooperação internacional contra a rede
de Osama bin Laden, as conversações também trataram da questão
mais delicada do envolvimento
russo nos sistemas de segurança
pós-Guerra Fria.
Na cúpula entre UE e Rússia, as
duas partes concordaram em
manter conversações mensais sobre defesa, envolvendo Moscou
intimamente com os planos de segurança européia que começam a
ser traçados e com sua meta de
criar, até 2003, uma força de reação rápida. O novo clima de parceria foi cimentado num comunicado conjunto UE-Rússia prometendo cooperação para bloquear
as redes financeiras terroristas e
trocas de informações sobre suspeitos, movimentação de materiais químicos, biológicos ou nucleares, o uso de documentos falsos e outros sinais de atividade
terrorista.
Em troca, a UE reduziu a intensidade de suas críticas às violações
dos direitos humanos cometidas
pela Rússia na Tchetchênia, tendo
dedicado ao assunto só um parágrafo em tom bastante neutro na
declaração conjunta divulgada.
Enquanto isso, Putin, crítico
acirrado dos planos de expansão
da Otan, especialmente na direção do Báltico, sugeriu uma saída
possível quando argumentou que
a evolução da aliança que a afaste
da condição de aliança militar da
Guerra Fria pode permitir que
Moscou veja sua ampliação sob
"outra ótica, inteiramente nova".
Putin argumentou: "Vivem dizendo que a Otan está se tornando mais política do que militar.
Estamos observando esse processo. Se for verdade, isso mudaria a
situação consideravelmente".
Cartas na manga
O tom positivo perdeu um pouco de força quando, após encontro com o secretário-geral da
Otan, George Robertson, Putin
indagou sobre a segurança de que
país ou países seria fortalecida
com a possível ampliação da
aliança. Robertson respondeu:
"Haverá uma ampliação da Otan
no ano que vem, mas ainda não
foi decidido quantos países irão
juntar-se à aliança. No momento
não existe candidatura russa, mas
o que existe é uma parceria que
está crescendo em termos de profundidade e relevância".
Para um alto representante europeu, os russos "dispõem de relativamente poucas cartas em seu
baralho, mas as estão usando
muito bem".
Diplomatas apontaram para a
oferta da UE de consultar a Rússia
sobre sua nova iniciativa de defesa como exemplo do novo clima
que estaria criando um arranjo
mais favorável a Moscou do que
aquele anterior a 11 de setembro.
O chanceler russo, Igor Ivanov,
disse que a oferta de conversações
pelo menos mensais com o comitê político e de segurança da UE
constitui "um passo importante
no sentido de criar um mecanismo de funcionamento permanente para o futuro".
Tradução de Clara Allain
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