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OPINIÃO
Jonathan Schell alerta para o risco da disseminação de armas de destruição de massa
Terror nuclear é perigo real, diz especialista
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
O recurso pelo novo terrorismo
internacional a "armas nucleares
ou de destruição de massa" (químicas e biológicas) é "um perigo
real e imediato". A advertência
vem de um dos principais jornalistas americanos especializados
em questões bélicas e nucleares,
Jonathan Schell, 57.
Schell celebrizou-se despertando os EUA para sucessivas armadilhas militares. São dele algumas
das mais pungentes reportagens
sobre o desvario da intervenção
americana no Vietnã. Há vinte
anos, com o livro-reportagem "O
Destino da Terra", devolveu o desarmamento nuclear ao topo da
pauta diplomática internacional.
Atualmente, Schell é articulista
do revista de centro-esquerda
"The Nation". Escrevendo logo
após o ataque do dia 11, Schell sustentou que "poderia ter sido
pior". "O vazio no céu pode se espalhar. Fomos avisados", frisou.
Em entrevista à Folha, por e-mail, Schell volta a alertar para o
risco de uma disseminação descontrolada de armas atômicas
tanto entre países quanto entre
grupos terroristas. "Todos os ingredientes para a catástrofe estão
prontos", diz. "Só falta o fósforo."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
Folha - O pior ainda está por vir,
com o terrorismo tornando-se nuclear?
Jonathan Schell - Ninguém prevê o futuro, mas o uso de armas
nucleares ou de outras armas de
destruição em massa é um perigo
real e imediato. A Rússia está
transbordando desses materiais,
sob o frágil controle de gente que
ganha 50 dólares por mês. Uma
companhia de eletricidade cortou
a luz de uma base de submarinos
na Rússia. Um comandante enviou suas tropas exigindo à bala
que a energia fosse religada.
Como podemos ver, há um
monte de compradores para estes
materiais. A Aum Shin Rikyo, por
exemplo, que soltou gás sarin no
metrô de Tóquio, procurou por
materiais de armas nucleares. Em
resumo, todos os ingredientes para a catástrofe estão prontos. A
madeira e o papel já estão na lareira. Só falta o fósforo.
Mas o perigo nuclear vai além
do terrorismo. Índia e Paquistão,
as duas novas potências nucleares, têm se envolvido em constantes escaramuças em torno da Caxemira. Há uma corrida por armas nucleares em toda a Ásia.
Não podemos esquecer, também, que EUA e Rússia têm, juntos, mais de 30 mil armas nucleares. Não há nenhuma razão para
que venham a ser usadas, mas as
coisas mudam rapidamente, como provam os eventos da semana
passada.
Folha - Como o Brasil pode colaborar para tornar o mundo mais seguro?
Schell - A única medida direta
efetiva contra o terrorismo é o trabalho policial, que deveria assumir um caráter internacional.
Além disso, o mais importante é
muito amplo: adotar como objetivo e pressionar pela eliminação
total das armas de destruição de
massa. O exemplo de o Brasil ter
desenvolvido um programa visando uma bomba nuclear e tê-lo
cancelado, ao lado de toda a América do Sul, torna-o um bom país
para assumir um papel vigoroso e
de liderança nesse esforço.
Folha - Houve algum sinal de que,
a partir deste novo quadro de uma
vulnerabilidade muito mais difusa
e complexa, será mais uma vez
abandonado o projeto de um escudo espacial antimísseis?
Schell - Infelizmente, o espírito
de raiva e de patriotismo nos EUA
empurrou até aqui as coisas na direção contrária. O senador democrata Carl Levin, líder do Comitê
de Serviços Armados e crítico da
defesa de mísseis, acabou de
abandonar sua oposição ao menos por enquanto.
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