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São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2003

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DISCRIMINAÇÃO

Estudo mostra que essa parte da população paga um terço a mais que os brancos por um financiamento

Negros pagam juros mais altos nos EUA

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Levantamento realizado com base na concessão de financiamentos para compra de automóveis da General Motors nos EUA revelou que os negros norte-americanos têm três vezes mais chances de ser obrigados a pagar juros acima das taxas de mercado.
Além de entrarem mais frequentemente na categoria "markup" -o jargão para clientes passíveis de arcar com juros acima do normal-, os negros acabam pagando, na média, um terço a mais do que os brancos norte-americanos pelos seus financiamentos.
O estudo foi realizado pela Vanderbilt University, do Tennessee, e incorporado a uma ação de grupos de proteção aos direitos civis de minorias nos EUA.
Em entrevista à Folha, o autor do trabalho, o economista Mark Cohen, diz que o preconceito contra os negros na concessão de financiamentos pela GM mostrou-se generalizado.
"Brancos e negros com salários similares trabalhando nas mesmas áreas foram tratados distintamente", afirma.
O estudo investigou 1,5 milhão de empréstimos concedidos pela GM entre 1999 e abril passado. A informação sobre a cor dos tomadores foi retirada das cópias das carteiras de motorista contidas nos processos.
A General Motors, a segunda maior em concessões de financiamento para automóveis nos EUA, comunicou que está avaliando o trabalho de Cohen e que seus advogados devem questioná-lo a respeito dos resultados.
Nos últimos anos, várias ações coletivas de negros e hispânicos foram encaminhadas nos EUA contra empresas que fornecem financiamentos, principalmente no setor automotivo.
Em fevereiro, por exemplo, ameaçada por uma ação do tipo, a Nissan concordou em oferecer cerca de 675 mil créditos pré-aprovados a compradores negros e hispânicos pelos próximos cinco anos.
Na Califórnia, uma lei aprovada neste ano passou a exigir que negociantes de automóveis mantenham arquivados por tempo indeterminado registros de concessões de crédito -incluindo os critérios de avaliação dos tomadores- para eventuais averiguações.
Algumas das ações contra empresas de crédito revelaram ainda que o dinheiro "a mais" cobrado de algumas minorias é dividido entre quem concede o empréstimo e quem analisa o risco do tomador-.configurando um estímulo para cobrar mais.
No caso da General Motors, segundo Cohen, os negros pagaram em juros extras (acima do mercado), em média, US$ 1.229 depois de terem sido incluídos na categoria "markup" -que leva em conta uma série de riscos.
No caso dos brancos enquadrados na mesma categoria, os juros acumulados foram de US$ 867.
Um outro estudo sobre a situação de minorias nos EUA, da Universidade Estadual de Nova York, revelou recentemente que a política de imigração americana tende a barrar a entrada de negros mais pobres e menos escolarizados no país. Em razão dessa política, os negros imigrantes vivendo nos EUA hoje têm, na média, escolaridade e renda maiores do que os negros nascidos no país.


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