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São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Militares admitem deficiências da inteligência; Iraque pede à Síria US$ 3 bilhões que estariam no país

Americanos combatem às cegas no Iraque

DO "FINANCIAL TIMES"

A batalha do último domingo em Samarra (norte), a maior desde o fim dos principais combates em maio e na qual os americanos dizem ter matado 54 insurgentes, serve como um ótimo exemplo para ilustrar a frustração que sentem os comandantes militares dos EUA: eles não sabem exatamente contra quem estão lutando.
Oficiais americanos acreditam que a emboscada contra militares na cidade de 250 mil habitantes no norte do Iraque foi obra da milícia paramilitar Fedayin, leal ao ex-ditador Saddam Hussein, cujos integrantes se vestem de preto. Já alguns moradores da cidade discordam: "Ninguém veio de fora de Samarra. Eles dizem que [os rebeldes] estavam de preto. Mas todos nós vestimos preto", diz Mohammed Mahmoud Ali, 38, apontando para as suas roupas.
Essa questão é central para o sucesso da nova campanha. Se o inimigo não passa de, como diz o general John Abizaid, chefe do Comando Central dos EUA, 5.000 rebeldes leais a Saddam, a ofensiva americana pode realmente derrotar os rebeldes.
Por outro lado, se houver um apoio mais amplo à guerrilha entre os iraquianos que estão enfurecidos com a ocupação americana, a atual ofensiva da coalizão pode se revelar um esforço inútil, incapaz de impedir que os insurgentes substituam suas perdas com novos e raivosos iraquianos.
As informações mais sólidas sobre quem forma a oposição vêm daqueles que participam das ações: os "operadores" que foram mortos ou capturados pelas forças americanas. Esses operadores de baixo escalão parecem pertencer à categoria dos jovens furiosos, que lutam contra a ocupação movidos pela raiva, não por lealdade a Saddam.
Oficiais das Forças Armadas americanas admitem ter poucos conhecimentos sobre como a liderança da insurgência é organizada. Quase todos os comandantes dizem acreditar na existência de uma liderança regional. A liderança militar, no entanto, não está convencida. "Há um certo nível de coordenação, embora eu não esteja certo de que exista um comando nacional de resistência", afirma o general Abizaid.
A falta de informação sobre o nível mais elevado da insurgência talvez seja o maior problema dos comandantes da coalizão. "Os que fornecem munição e armas são aqueles que devemos combater. É onde precisamos de mais dados de inteligência", diz o general Charles Swannack Jr., da 82ª Divisão Aerotransportada.

Iraque e Síria
O Iraque vai pedir à Síria nas próximas semanas cerca de US$ 3 bilhões em fundos que Damasco teria acumulado vendendo petróleo iraquiano durante o governo de Saddam, entre outras atividades não reconhecidas por Bagdá.
"Todo esse dinheiro pertence ao Iraque", disse Kamel al Gilani, ministro da Economia do Iraque no governo provisório comandado pelos EUA. "Nós não reconhecemos esses acordos."
Além do dinheiro da venda do petróleo - em violação às sanções impostas pela ONU contra Bagdá-, a Síria também teria vendido bens não-militares na Organização para a Industrialização Militar do Iraque, que era comandada por Saddam.
Depósitos particulares feitos pelo ex-ditador e seus aliados não entraram na conta, embora Al Gilani tenha dito que esse dinheiro também deve ser reivindicado.
Autoridades sírias dizem que o valor é incorreto e que o dinheiro, depositado em bancos sírios, somaria "centenas de milhões de dólares, e não bilhões".
Segundo uma fonte no governo sírio citada pela agência de notícias Reuters, já estaria em curso um "acerto de contas" entre sírios e iraquianos. Mas o processo esbarra no fato de Damasco não reconhecer a legitimidade do Conselho de Governo Iraquiano.


Com agências internacionais

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