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ÁFRICA
Processo envolve até a revelação de que o presidente cria ratos gigantes
Nigéria enfrenta crise de corrupção
O presidente Olusegun Obasanjo durante conferência em Abuja
MICHAEL PEEL
DO "FINANCIAL TIMES"
A muito criticada campanha nigeriana contra a corrupção acaba
de entrar em estágio ainda mais
surrealista, com a tentativa de
processar o governador de um Estado transformada em novela
constitucional, com participação
especial dos ratos gigantes criados
em uma fazenda do presidente.
As acusações e as contra-acusações se concentram na tentativa
de processar Joshua Dariye, governador de um Estado da Nigéria, detido em setembro em um
hotel de Londres carregando mais
de 90 mil libras (US$ 130 mil), de
acordo com documentos divulgados pelo governo. Os partidários
do governador alegam que a ação
do governo nigeriano contra ele
tem motivos políticos. Dariye
continua no poder, por enquanto,
e tem imunidade contra processos judiciais enquanto estiver
exercendo seu mandato.
A paralisação da investigação
-e a decisão oficial de processar
Dariye- são vistas como emblemáticas de um governo civil que
não conseguiu implementar estruturas firmes de combate à corrupção, depois de cinco anos e
meio no poder, e só persegue pessoas envolvidas em acusações
quando isso lhe é conveniente em
termos políticos.
Os envolvidos na campanha de
combate à corrupção dizem que a
elite governante, vista como corrupta, continua a desfrutar de
quase completa impunidade. Enquanto isso, os preços elevados do
petróleo garantem uma renda de
cerca de US$ 2 bilhões ao mês em
petrodólares à Nigéria.
"É isso que acontece, na verdade, quando um país passa por
transição sem transformação",
diz Kayode Fayemi, diretor de
uma organização de defesa dos
direitos dos cidadãos.
"Houve um pacto entre os militares que estavam saindo do poder e não queriam cair em desgraça e a classe política que estava
chegando ao topo e não estava interessada em mudança", afirma.
A saga de Dariye começou no
mês passado, depois que o governo divulgou documentos comprometedores sobre ele um dia
depois que retomou o poder em
seu Estado, Plateau. As acusações
surgiram após investigações das
polícias nigeriana e britânica, que
detiveram o governador em setembro por lavagem de dinheiro.
As alegações contra ele oferecem um raro vislumbre detalhado
das operações de acobertamento
complacentes e desajeitadas que
aparentemente caracterizam boa
parte das transações corruptas da
Nigéria. Dariye -cujas iniciais
são JD- disse à polícia britânica
que o apartamento de 395 mil libras do qual era acusado de ser o
proprietário secreto na verdade
pertencia a um amigo chamado
Joseph Dagwan.
Quando a polícia invadiu a residência, em setembro, encontrou
"provas claras" de que membros
da família de Dariye viviam lá; o
governador mesmo apareceu no
meio da batida, informam os documentos.
Ezekiel Dalyot, assessor do governador, se recusou a comentar
as alegações, porque as investigações continuam em curso.
Depois da má publicidade, o
presidente Olusegun Obasanjo
fez uma revelação incomum na
semana passada. Um porta-voz
da presidência anunciou que ele
fatura US$ 230 mil por mês com
sua fazenda, cuja produção varia
de avestruzes a roedores gigantes
conhecidos como "corta-grama".
Os céticos temem que o caso de
Plateau seja relegado ao limbo das
investigações permanentemente
adiadas. Não seria o primeiro.
Mais de uma década atrás, pelo
menos US$ 3 bilhões em ganhos
extraordinários com o petróleo
foram dados como desaparecidos
dos cofres públicos. As autoridades até hoje não publicaram seu
relatório sobre o caso.
Tradução de Paulo Migliacci
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