São Paulo, sábado, 04 de dezembro de 2004

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EUROPA

Depoimentos colhidos durante investigação policial denunciam casos de estupro, racismo e tratamento degradante

Relatório revela abusos em quartel britânico

DA ASSOCIATED PRESS, EM LONDRES

A mídia britânica anunciou na segunda-feira passada que um relatório policial que vazou para a imprensa contém novas alegações sobre ocorrência de estupros, assédio sexual e maus-tratos sistemáticos num quartel do Exército no Reino Unido.
O relatório apresenta mais de cem alegações referentes a abusos graves que teriam sido cometidos no campo de treinamento do quartel Deepcut, no sul da Inglaterra, onde quatro recrutas jovens morreram entre os anos de 1995 e 2002, vítimas de ferimentos a bala, segundo a agência de notícias britânica Press Association (PA), a BBC e a Channel 4 News.
De acordo com as três organizações noticiosas, o relatório enumera acusações de estupro, de agressão sexual, de tratamento degradante e de racismo, apresentadas por recrutas que faziam treinamento em Deepcut durante o inquérito aberto pela polícia de Surrey a respeito da morte dos quatro recrutas. Na maioria dos casos, os abusos teriam sido cometidos por oficiais subalternos.
Geoff Gray, pai de um dos quatro recrutas que morreu em Deepcut, descreveu as acusações presentes no relatório como ""estarrecedoras" e disse se sentir "enojado" pelo fato de ter permitido que seu filho fizesse treinamento naquele local.
Mas a polícia de Surrey afirmou que muitas das alegações que constam do relatório não foram confirmadas e devem ser tratadas com cautela.O Ministério da Defesa britânico anunciou já ter dito à polícia que quer investigar as acusações mais graves.
O relatório policial confidencial, centrado nos anos em que morreram os quatro soldados, foi apresentado ao Comitê Seleto de Defesa da Casa dos Comuns, no mês passado, dentro do quadro da investigação que a casa está movendo em torno do tratamento dado a recrutas pelos três ramos das Forças Armadas britânicas.O relatório lista dezenas de acusações sérias feitas por recrutas de ambos os sexos. Muitas das acusações dizem respeito a delitos criminais, disse a Press Association.
De acordo com o relatório, quando uma ex-recruta foi à sala de guarda do quartel para se queixar de ter sido estuprada, ela ouviu que seria punida por ter estado dentro do alojamento masculino. A agência PA relata ainda que outra recruta contou que sua queixa de ter sido vítima de estupro foi ignorada.
Uma recruta se queixou de que um oficial urinara sobre ela durante a noite. Outras ainda afirmaram ter sofrido agressões indecentes enquanto dormiam.
Essas e outras acusações foram compiladas pela polícia de Surrey durante o inquérito sobre a morte dos quatro recrutas: Geoff Gray, 17 anos, Sean Benton, 20, James Collison, 17, e Cheryl James, 18. Durante o exaustivo inquérito sobre os fatos ocorridos em Deepcut, que levou 15 meses, a polícia ouviu os depoimentos de mais de 500 soldados ou ex-soldados.
O relatório final pede ao governo que investigue os maus-tratos físicos e o tratamento dado a soldados jovens em todo o Exército britânico. O comitê de defesa deve divulgar relatório sobre o tema na próxima primavera setentrional.
No mês passado o instrutor do Exército Leslie Skinner, 46 anos, foi condenado a quatro anos e meio de prisão por agressões sexuais contra jovens soldados do sexo masculino em Deepcut e outros quartéis.
Em maio, o governo britânico anunciou que não haveria inquérito independente sobre as quatro mortes. Na época, o ministro das Forças Armadas, Adam Ingram, disse que já foram feitas várias investigações sobre as mortes e que não era preciso haver mais uma.


Tradução de Clara Allain


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