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EUROPA
Grupos rivais são de origem étnica multirracial
Violência de gangues suburbanas de Paris chega a Champs Elysées
JOHN LICHFIELD
DO "INDEPENDENT", EM PARIS
Zakaria Babamou, 18 anos, um
rapaz de sorriso franco, morreu a
poucos metros do muro do jardim da residência do presidente
Jacques Chirac, depois de levar
uma facada nas costas e golpes de
barra de ferro na cabeça. Ainda
não se sabe por que ele morreu,
na noite de sábado, no Rond
Point des Champs Elysées, ao lado da mais famosa avenida turística do mundo.
Um grupo de jovens vindos de
um subúrbio pobre da zona oeste
de Paris atacou outro grupo de jovens exatamente como eles, este
vindo de outro subúrbio pobre a
dois ou três quilômetros de distância. Uma briga eclodiu no
meio da floresta de árvores de Natal brancas que, a cada mês de dezembro, é erguida na metade da
avenida descrita como "a mais
bela do mundo".
Zakaria, que era entregador de
pizzas e vivia em Carrières-sous-Poissy, 32 quilômetros a oeste de
Paris, morreu meia hora depois,
de hemorragia cerebral. Na mesma noite houve um tiroteio diante
de um clube de striptease de alta
classe a algumas quadras dali.
Os dois incidentes chamaram a
atenção pública para algo que a
polícia e comerciantes dizem ser
um aumento acentuado na tensão
e na violência nos Champs Elysées nas noites de sexta-feira e, especialmente, de sábado. Grupos
de jovens vindos da periferia pobre de Paris vêm para a capital
francesa para andar a esmo pelos
Champs Elysées e, com freqüência, atacar uns aos outros.
Diferentemente da impressão
que às vezes se tem, não se tratam
de gangues árabes ou negras em
busca de alguma espécie de vingança contra a sociedade branca.Normalmente são grupos formados por jovens de origens raciais diversas, refletindo o mosaico racial da periferia parisiense.
São de origem árabe, negra, do
leste europeu e turca, além de alguns de origem francesa.
Os objetos do ódio deles são as
gangues igualmente diversificadas vindas de outros subúrbios ou
outros conjuntos habitacionais.
As brigas entre gangues -que,
muito mais do que gangues no
sentido americano, são grupos
pouco estruturados de rapazes
que se conhecem- são comuns
nos subúrbios. Nos últimos meses, o campo de batalha dessas
gangues vem se deslocando para a
região central de Paris.
Oficialmente, a polícia afirma
que a avenida Champs Elysées é
um dos lugares mais seguros da
capital. Outras fontes, porém, discordam. "Eles têm vindo cada vez
mais. Chegam de metrô, compram uma garrafa de uísque e vão
ao jardim fumar maconha", disse
um representante do sindicato
policial. Já o prefeito assistente
para assuntos de segurança de Paris disse que "a violência dos subúrbios está invadindo a capital".
Num primeiro momento a polícia achou que a morte de Zakaria
tinha ocorrido durante uma batalha previamente combinada entre
jovens da mesma área. Depois de
interrogar testemunhas, ela passou a acreditar que deve ter explodido uma discussão provocada
por um olhar ou um insulto, ou
então apenas pelo fato de as duas
gangues "serem fisicamente alérgicas uma à outra".
O assistente social Amar trabalha com rapazes num subúrbio
semelhante de Paris. Ele afirmou:
"Essa garotada possui um instinto tribal. Não são feitas distinções
de raça no interior de cada grupo,
mas eles sempre nos dizem: "Somos racistas. Odiamos o pessoal
do conjunto habitacional ao lado".
Se você analisar os meninos do
outro grupo, eles têm a mesma
mistura racial que o primeiro".
Um relatório oficial recente criticou o fato de a França não ter
conseguido absorver os imigrantes na sociedade mais ampla. Embora a crítica se justifique, é fato
que o país vem adotando uma política de impedir o surgimento do
tipo de gueto monorracial visto
nos centros urbanos pobres do
Reino Unido e dos EUA. É isso
que explica o caráter multirracial
das gangues que se odeiam mutuamente. Se isso oferece alguma
base para esperança já é uma
questão totalmente diferente.
Tradução de Clara Allain
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