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Guerra acentuará divisão européia, diz analista
DE PARIS
Se os EUA resolverem atacar o
Iraque sem o aval da ONU, as divisões entre os países europeus
podem se acentuar, segundo a
cientista política Françoise de la
Serre, do Ceri (Centro de Estudos
e Pesquisas Internacionais), em
Paris. E as divisões já vão a passos
largos.
(ALN)
Folha - Quais os efeitos para a
União Européia dessa incompatibilidade entre a visão britânica e a
francesa na questão do Iraque?
Françoise de la Serre - Não é uma
incompatibilidade absolutamente definitiva. Com efeito, no momento, França e Reino Unido estão muito afastados. Mas a posição da França e da Alemanha
também não são as mesmas.
Paris jamais renunciou inteiramente a participar de uma operação contra o Iraque, se a necessidade disso fosse demonstrada
após as inspeções da ONU. Schröder, ao contrário, descartou qualquer possibilidade de uma participação da Alemanha numa ação
militar contra o Iraque, seja qual
for a decisão do Conselho de Segurança. Portanto, o espectro de
posições é mais nuançado.
Folha - A carta dos oito países europeus a favor dos EUA, um apoio
capitaneado aliás por Tony Blair,
ameaça a União Européia?
De la Serre - Num primeiro grau,
sim. Não é uma boa coisa neste
momento em que a Convenção
Européia tenta encontrar as vias e
os meios de uma política externa
comum. Num segundo grau, as
coisas são mais complicadas. O
fato é que a declaração não foi associada nem à Grécia, que tem no
momento a presidência da União
Européia, nem a alguns outros
países, entre eles, claro, a França e
a Alemanha. E, no entanto, havia
nesse texto coisas que seriam
aceitáveis por esses países.
Eu não estou certa de que essa
carta tenha sido uma boa manobra da parte de seus signatários.
Ela descontentou fortemente a
França e tornou muito difícil obter um compromisso com o Reino Unido, depois dela. E, ao nível
da opinião pública, a oposição
não foi menor.
Folha - A carta seria uma resposta
ao pacto franco-alemão firmado
em janeiro, em que os dois países
reforçam sua colaboração?
De la Serre - Não creio que as coisas sejam tão simples assim. A
França e o Reino Unido sabem
muito bem que deverão estabelecer conjuntamente uma política
estrangeira e de defesa da Europa
que ainda não existe, porque são
as duas potências européias capazes de ter uma liderança nesses
domínios. Por consequência, os
dois países estão conscientes dos
perigos que constituem essa perspectiva de uma verdadeira política estrangeira e de defesa comum.
A posição da Alemanha em matéria de defesa européia implicaria em que o país demonstrasse
sua credibilidade como parceiro,
aumentando em particular e fortemente o seu orçamento de defesa e procedendo à renovação de
seus instrumentos de defesa.
A ambição do Reino Unido é ter
um papel importante na Europa
precisamente na liderança da política estrangeira e da defesa. Por
isso, é certo que a questão do Iraque é um grande problema na definição, para o Reino Unido, de
sua política européia.
Folha - A França não pode ficar
marginalizada ao manter uma oposição que contraria os EUA?
De la Serre - A França não está
isolada em sua posição, nem na
ONU nem na Europa. Ao contrário. Não se pode esquecer que a
União Européia tem 15 países, e
não sete [os signatários da carta
pró-EUA].
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