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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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Guerra acentuará divisão européia, diz analista

DE PARIS

Se os EUA resolverem atacar o Iraque sem o aval da ONU, as divisões entre os países europeus podem se acentuar, segundo a cientista política Françoise de la Serre, do Ceri (Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais), em Paris. E as divisões já vão a passos largos. (ALN)
 

Folha - Quais os efeitos para a União Européia dessa incompatibilidade entre a visão britânica e a francesa na questão do Iraque?
Françoise de la Serre -
Não é uma incompatibilidade absolutamente definitiva. Com efeito, no momento, França e Reino Unido estão muito afastados. Mas a posição da França e da Alemanha também não são as mesmas.
Paris jamais renunciou inteiramente a participar de uma operação contra o Iraque, se a necessidade disso fosse demonstrada após as inspeções da ONU. Schröder, ao contrário, descartou qualquer possibilidade de uma participação da Alemanha numa ação militar contra o Iraque, seja qual for a decisão do Conselho de Segurança. Portanto, o espectro de posições é mais nuançado.

Folha - A carta dos oito países europeus a favor dos EUA, um apoio capitaneado aliás por Tony Blair, ameaça a União Européia?
De la Serre -
Num primeiro grau, sim. Não é uma boa coisa neste momento em que a Convenção Européia tenta encontrar as vias e os meios de uma política externa comum. Num segundo grau, as coisas são mais complicadas. O fato é que a declaração não foi associada nem à Grécia, que tem no momento a presidência da União Européia, nem a alguns outros países, entre eles, claro, a França e a Alemanha. E, no entanto, havia nesse texto coisas que seriam aceitáveis por esses países.
Eu não estou certa de que essa carta tenha sido uma boa manobra da parte de seus signatários. Ela descontentou fortemente a França e tornou muito difícil obter um compromisso com o Reino Unido, depois dela. E, ao nível da opinião pública, a oposição não foi menor.

Folha - A carta seria uma resposta ao pacto franco-alemão firmado em janeiro, em que os dois países reforçam sua colaboração?
De la Serre -
Não creio que as coisas sejam tão simples assim. A França e o Reino Unido sabem muito bem que deverão estabelecer conjuntamente uma política estrangeira e de defesa da Europa que ainda não existe, porque são as duas potências européias capazes de ter uma liderança nesses domínios. Por consequência, os dois países estão conscientes dos perigos que constituem essa perspectiva de uma verdadeira política estrangeira e de defesa comum.
A posição da Alemanha em matéria de defesa européia implicaria em que o país demonstrasse sua credibilidade como parceiro, aumentando em particular e fortemente o seu orçamento de defesa e procedendo à renovação de seus instrumentos de defesa.
A ambição do Reino Unido é ter um papel importante na Europa precisamente na liderança da política estrangeira e da defesa. Por isso, é certo que a questão do Iraque é um grande problema na definição, para o Reino Unido, de sua política européia.

Folha - A França não pode ficar marginalizada ao manter uma oposição que contraria os EUA?
De la Serre -
A França não está isolada em sua posição, nem na ONU nem na Europa. Ao contrário. Não se pode esquecer que a União Européia tem 15 países, e não sete [os signatários da carta pró-EUA].


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