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São Paulo, quarta-feira, 05 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

Em entrevista, ditador nega que esconda armas de destruição em massa e diz que petróleo motiva guerra

Saddam rechaça ligação com Al Qaeda

Associated Press
Assistente de Saddam Hussein se aproxima do ditador iraquiano para colocar um pequeno microfone em seu terno, em Bagdá


DA REDAÇÃO

O ditador Saddam Hussein disse que o Iraque não tem ligação com a rede terrorista Al Qaeda e que admitiria o elo se ele existisse, em entrevista concedida a Tony Benn, ex-membro do Parlamento britânico pelo Partido Trabalhista (do premiê Tony Blair).
Ele negou que o Iraque tenha armas de destruição em massa e disse que Washington estava buscando um pretexto para lançar uma guerra. Mais de 50 mil iraquianos -muitos deles armados- promoveram ontem manifestação de apoio a Saddam em Mossul (norte do país).
A entrevista de Benn foi realizada no final de semana e durou cerca de 40 minutos. A emissora britânica Channel Four a transmitiu ontem à noite, na íntegra. Leia os principais trechos dela.
 

Pergunta - [...] Sr. presidente, o Iraque possui alguma arma de destruição em massa?
Saddam -
A maioria das autoridades iraquianas estão no poder há mais de 34 anos e têm experiência em lidar com o mundo externo. Toda pessoa sensata sabe que quando as autoridades iraquianas dizem alguma coisa, elas são confiáveis. Há alguns minutos, quando você me perguntou se eu queria ver as questões antecipadamente, eu disse que não havia necessidade para que não perdêssemos tempo. E te dei a liberdade de perguntar qualquer questão diretamente, para que a minha resposta fosse direta.
Esta é uma oportunidade de alcançar o povo britânico e as forças da paz no mundo. Há apenas uma verdade e, assim, te digo como já disse em muitas ocasiões que o Iraque não possui nenhuma arma de destruição em massa. Desafiamos qualquer um que diga isso a reunir qualquer prova e apresentá-la à opinião pública.

Pergunta - O sr. possui ligações com a Al Qaeda?
Saddam -
Se tivéssemos algum tipo de relação com a Al Qaeda e acreditássemos nessa relação, não teríamos vergonha de admitir. [...] Não temos nenhuma relação com a Al Qaeda.

Pergunta - Parece haver dificuldades com os inspetores [de armas da ONU]. Há algo que o sr. possa me dizer sobre essas dificuldades?
Saddam -
Sobre os inspetores e as resoluções que lidam com o Iraque, você deve ter sua opinião sobre se elas têm alguma base no direito internacional. Mas o Conselho de Segurança as produziu. [...] Toda pessoa sensata sabe que, no que concerne a resolução 1441, os iraquianos vêm cumprindo suas obrigações. Quando o Iraque faz objeções à conduta daqueles que implementam as resoluções do CS, isso não significa que o Iraque quer levar as coisas rumo a um confronto. O Iraque não tem interesse na guerra. Nenhuma autoridade ou cidadão comum iraquiano expressou vontade de ir à guerra.
A questão deve ser dirigida ao outro lado. Eles estão procurando um pretexto para poder justificar uma guerra contra o Iraque? Se o propósito fosse livrar o Iraque de armas nucleares, químicas e biológicas, eles podiam fazer isso. Essas armas não vêm em pequenas pílulas que você pode esconder no bolso. São armas de destruição em massa e é fácil saber se o Iraque as têm ou não. Já dissemos muitas vezes e dizemos hoje de novo que o Iraque está livre dessas armas.
[...] É de nosso interesse facilitar a missão [dos inspetores] para que descubram a verdade. A questão é: o outro lado quer chegar à mesma conclusão ou está apenas procurando um pretexto para a agressão?

Pergunta - O sr. vê uma saída em que a ONU pode alcançar seu objetivo de promover a paz?
Saddam -
[...] Se olharmos os representantes das duas superpotências -EUA e Reino Unido- e observamos sua conduta e linguagem, veremos que estão mais motivados pela guerra que por sua responsabilidade pela paz.
E quando eles falam sobre paz, tudo o que fazem é acusar outros que desejam destruir em nome da paz. Alegam que estão cuidando dos interesses de seus povos. Você sabe assim como eu que isso não é verdade.

Pergunta - Há pessoas que acreditam que o atual conflito é sobre petróleo[...].
Saddam -
[...] Há pessoas influentes nas decisões tomadas pelo presidente dos EUA [...] que vêm dizendo a vários governos, especialmente o atual, que se você quer controlar o mundo, tem de controlar o petróleo. Assim, a destruição do Iraque é um pré-requisito para controlar o petróleo.


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