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IRAQUE NA MIRA
Em entrevista, ditador nega que esconda armas de destruição em massa e diz que petróleo motiva guerra
Saddam rechaça ligação com Al Qaeda
Associated Press
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Assistente de Saddam Hussein se aproxima do ditador iraquiano para colocar um pequeno microfone em seu terno, em Bagdá |
DA REDAÇÃO
O ditador Saddam Hussein disse que o Iraque não tem ligação
com a rede terrorista Al Qaeda e
que admitiria o elo se ele existisse,
em entrevista concedida a Tony
Benn, ex-membro do Parlamento
britânico pelo Partido Trabalhista
(do premiê Tony Blair).
Ele negou que o Iraque tenha armas de destruição em massa e
disse que Washington estava buscando um pretexto para lançar
uma guerra. Mais de 50 mil iraquianos -muitos deles armados- promoveram ontem manifestação de apoio a Saddam em
Mossul (norte do país).
A entrevista de Benn foi realizada no final de semana e durou
cerca de 40 minutos. A emissora
britânica Channel Four a transmitiu ontem à noite, na íntegra.
Leia os principais trechos dela.
Pergunta - [...] Sr. presidente, o
Iraque possui alguma arma de destruição em massa?
Saddam - A maioria das autoridades iraquianas estão no poder
há mais de 34 anos e têm experiência em lidar com o mundo externo. Toda pessoa sensata sabe
que quando as autoridades iraquianas dizem alguma coisa, elas
são confiáveis. Há alguns minutos, quando você me perguntou
se eu queria ver as questões antecipadamente, eu disse que não
havia necessidade para que não
perdêssemos tempo. E te dei a liberdade de perguntar qualquer
questão diretamente, para que a
minha resposta fosse direta.
Esta é uma oportunidade de alcançar o povo britânico e as forças
da paz no mundo. Há apenas uma
verdade e, assim, te digo como já
disse em muitas ocasiões que o
Iraque não possui nenhuma arma
de destruição em massa. Desafiamos qualquer um que diga isso a
reunir qualquer prova e apresentá-la à opinião pública.
Pergunta - O sr. possui ligações
com a Al Qaeda?
Saddam - Se tivéssemos algum
tipo de relação com a Al Qaeda e
acreditássemos nessa relação, não
teríamos vergonha de admitir.
[...] Não temos nenhuma relação
com a Al Qaeda.
Pergunta - Parece haver dificuldades com os inspetores [de armas
da ONU]. Há algo que o sr. possa me
dizer sobre essas dificuldades?
Saddam - Sobre os inspetores e
as resoluções que lidam com o
Iraque, você deve ter sua opinião
sobre se elas têm alguma base no
direito internacional. Mas o Conselho de Segurança as produziu.
[...] Toda pessoa sensata sabe que,
no que concerne a resolução 1441,
os iraquianos vêm cumprindo
suas obrigações. Quando o Iraque
faz objeções à conduta daqueles
que implementam as resoluções
do CS, isso não significa que o Iraque quer levar as coisas rumo a
um confronto. O Iraque não tem
interesse na guerra. Nenhuma autoridade ou cidadão comum iraquiano expressou vontade de ir à
guerra.
A questão deve ser dirigida ao
outro lado. Eles estão procurando
um pretexto para poder justificar
uma guerra contra o Iraque? Se o
propósito fosse livrar o Iraque de
armas nucleares, químicas e biológicas, eles podiam fazer isso. Essas armas não vêm em pequenas
pílulas que você pode esconder
no bolso. São armas de destruição
em massa e é fácil saber se o Iraque as têm ou não. Já dissemos
muitas vezes e dizemos hoje de
novo que o Iraque está livre dessas armas.
[...] É de nosso interesse facilitar
a missão [dos inspetores] para
que descubram a verdade. A
questão é: o outro lado quer chegar à mesma conclusão ou está
apenas procurando um pretexto
para a agressão?
Pergunta - O sr. vê uma saída em
que a ONU pode alcançar seu objetivo de promover a paz?
Saddam - [...] Se olharmos os representantes das duas superpotências -EUA e Reino Unido- e
observamos sua conduta e linguagem, veremos que estão mais motivados pela guerra que por sua
responsabilidade pela paz.
E quando eles falam sobre paz,
tudo o que fazem é acusar outros
que desejam destruir em nome da
paz. Alegam que estão cuidando
dos interesses de seus povos. Você sabe assim como eu que isso
não é verdade.
Pergunta - Há pessoas que acreditam que o atual conflito é sobre
petróleo[...].
Saddam - [...] Há pessoas influentes nas decisões tomadas pelo presidente dos EUA [...] que
vêm dizendo a vários governos,
especialmente o atual, que se você
quer controlar o mundo, tem de
controlar o petróleo. Assim, a
destruição do Iraque é um pré-requisito para controlar o petróleo.
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