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"Brasileiro" lidera oposição libanesa
GUSTAVO CHACRA
DA REDAÇÃO
Um libanês, que viveu mais de
duas décadas em São Paulo, onde
se formou em administração de
empresas na Fundação Getúlio
Vargas, é um dos principais líderes do movimento opositor do Líbano, que quer o fim da ocupação
síria do país dos cedros.
Carlos Eddé, nascido em 1956,
em Beirute, é herdeiro de um dos
sobrenomes mais famosos da política libanesa. Seu avô é Emile Eddé, que foi presidente do Líbano
(1936-41 e mais uma vez em 1943),
sendo um dos pais da formação
do Estado libanês.
Em maio de 2000, seu tio, Raymond Eddé, que era o líder do
Bloco Nacional, morreu. "No dia
seguinte, fui eleito à revelia presidente do partido", disse Eddé, que
deixou o Líbano durante a guerra
civil (1975-90).
Na época, Eddé, que é mestre
em ciência política pela Universidade de Georgetown, trabalhava
no banco americano Merrill
Lynch. Candidato ao Parlamento
na eleição de maio, ele afirma que
não deseja se tornar presidente do
Líbano. "Meu sonho é voltar para
o Brasil", onde a mãe, brasileira
de origem libanesa, ainda vive.
Na sua avaliação, a eleição de
maio será "um referendo sobre a
presença síria no Líbano", mas há
uma desvantagem: "O assassinato
de Hariri decapitou a organização, perdemos um líder".
Leia sua entrevista à Folha.
Folha - A Síria deve sair mesmo do
Líbano? E o que vem a seguir?
Carlos Eddé - Há várias etapas na
nossa estratégia. A primeira delas,
era a oposição se conscientizar de
que a Síria precisa sair do Líbano,
e eliminar o medo de pedir isso.
Agora, é conseguir a retirada total
ou parcial. Desse modo, aumenta
a força da oposição na eleição parlamentar, que será um referendo
sobre a presença síria. Com uma
vitória, aliada ao apoio internacional, você consegue eliminar os
sistemas de segurança aqui presentes. Mas não é suficiente para
resolvermos todos os problemas.
Folha - Quais são os outros problemas, além da Síria?
Eddé - O nosso PIB é de US$ 17
bilhões, e a dívida pública é de
US$ 50 bilhões. Temos os campos
palestinos, e não há condições de
incorporar todos os refugiados. O
Hizbollah ainda está armado.
Muitos jovens talentos libaneses
emigram. E a política do país deveria ser secular.
Folha - O sr. é a favor de negociar
a paz com Israel?
Eddé - O Líbano somente deve
assinar a paz após os palestinos
terem um acordo com Israel.
Folha - A oposição defende a manutenção de boas relações com a
Síria após a retirada?
Eddé - Queremos boas relações
com a Síria, não com seu regime.
Não são relações racionais. A nomenclatura síria tem um esquema
de negócios. Há uma guarda pretoriana para defendê-los.
Folha - Hariri rachou com a Síria
por ideologia ou por negócios?
Eddé - Por negócios. Os sírios
começaram a desconfiar de Hariri. Não podiam controlá-lo, pois
ele tinha muitas relações internacionais. Novas pessoas queriam
entrar no esquema e produziram
um clima de desconfiança.
Folha - Os EUA estão se aproveitando do movimento opositor?
Eddé - Sem os EUA, não teríamos esse vigor. E os americanos,
junto com os franceses, levaram
adiante a resolução 1559 [que prevê a retirada de tropas estrangeiras do Líbano].
Folha - E o Brasil?
Eddé - O governo brasileiro precisa ter uma posição mais clara,
apoiando a retirada.
Folha - Há condições de vencer as
eleições?
Eddé - O momento é único, temos o apoio externo. Mas tudo
depende de outros fatores. O sistema eleitoral é péssimo. Há a intimidação em algumas partes do
país. Sírios são naturalizados para
votar. E o assassinato de Hariri
trouxe uma desvantagem. Decapitaram a nossa organização, perdemos um líder. O atentado ocorreu quando perceberam que a
oposição crescia.
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