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AMÉRICA DO SUL
Segundo órgão da ONU, são cerca de 4.000 pessoas sem proteção oficial, muitas fugindo das Farc
Refugiados "invadem" a Amazônia pela fronteira colombiana
SANDRA SILVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O número oficial de refugiados
no Brasil é de 3.200 pessoas, que
vivem principalmente nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro.
Os africanos representam 75%
desse total, mas um outro grupo
que cresce a margem das estatísticas oficiais já supera esse número:
são os colombianos, que vivem na
região amazônica e entram livremente no país pela fronteira.
Uma missão do Alto Comissariado da ONU para Refugiados
(Acnur), realizada no mês passado na Amazônia brasileira, constatou que apenas naquela região
há cerca de 4.000 colombianos, vivendo sem qualquer documentação brasileira e fugindo da guerrilha das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Com o apoio da Polícia Federal,
a missão identificou ainda outros
mil índios colombianos que também atravessaram a fronteira para viver com tribos irmãs no país.
Em Tabatinga (AM), por exemplo, 50 índios da tribo Ticuna se
arriscaram a vir para o Brasil para
viver com brasileiros da etnia.
O padre Gonzalo Franco, que é
representante no Brasil da Pastoral de Mobilidade Humana da
Diocese do Alto Solimões, explica
que, para fugir da Colômbia, eles
utilizam uma rede de solidariedade ligada à Igreja Católica e têm
Tabatinga como a principal porta
de entrada.
A saída da Colômbia é por Letícia, na Amazônia colombiana. É
da própria paróquia da cidade
que veio a denúncia do crescimento expressivo no número de
colombianos em busca de uma
nova vida no Brasil.
Segundo o Acnur, famílias inteiras fogem da Colômbia. Muitas
vezes, mulheres grávidas e crianças. O sustento vem de atividades
informais. "Eles vivem sem nenhuma proteção oficial, apenas
fazendo bicos e recebendo ajuda
de famílias locais", afirmou um
funcionário do Acnur que esteve
na região.
A entrada no país não é complicada, já que não é exigido visto
para colombianos. Para o Acnur,
o problema é o fato de não procurarem ajuda e viverem ilegalmente. Para a igreja, o temor é o de que
cresça a marginalidade na região
pela falta de dinheiro dos recém-chegados.
Conexões
O padre Franco trabalha na integração à sociedade brasileira
dos colombianos que fugiram das
Farc. Na semana passada, por
exemplo, estava envolvido com
um grupo de 13 colombianos que
iam para Manaus; na semana anterior, ajudou outras seis famílias
que chegaram a Tabatinga, num
total de 22 pessoas.
"Não temos nenhuma casa de
abrigo oficial, e nosso trabalho está apenas começando, então procuramos famílias da igreja para
hospedar esses colombianos. Eu
recebo telefonemas de padres da
Colômbia e começo a procurar
casas, roupas, fogão e trabalho
para os que vão chegar. Meu trabalho é acolher essas pessoas",
disse o padre.
Além de Tabatinga, eles vivem
em outras cidades na fronteira,
como Benjamin Constant e Atalaia. Muitas vezes chegam sem dinheiro. Muitos são profissionais
com curso superior que tiveram
de abandonar suas casas e profissões por conta da guerrilha.
"Os que entram com pedido de
refugiado têm de esperar meses
por uma reposta", disse Franco.
Sem dinheiro e com medo, os colombianos se recusam a conceder
entrevistas. Contam apenas com a
boa vontade dos amazonenses.
Franco conta algumas histórias,
como a de uma família colombiana que teve de fugir do sítio onde
morava por ter sido acusada pelos
paramilitares de colaborar com as
Farc. "A guerrilha ficou quatro ou
cinco dias na casa deles, e eles não
resistiram, mas depois sofreram
essa perseguição. Tiveram de
abandonar tudo. Até a casa."
Alguns colombianos acabam
retornando para viver na fronteira, em Letícia. "Um militar teve de
fugir de sua casa depois que a
guerrilha descobriu sua profissão.
Agora ele está em Letícia, mas poderá voltar para o Brasil a qualquer momento. Estou recolhendo
roupas, colchões e alimentos para
quando refugiados como ele voltarem", afirmou Franco.
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