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ESTRATÉGIA
Britânico cerca cidade em "câmera lenta"
Basra pode inspirar a ação na capital
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem Berlim, nem Stalingrado.
O mais provável cenário para o
ataque a Bagdá está acontecendo
ali mesmo, no Iraque: as operações em câmara lenta em torno da
cidade de Basra.
A cidade está bloqueada. Os britânicos fazem reides (ataques
pontuais), eliminando focos de
resistência aos poucos. Toda operação é planejada para minimizar
baixas dos atacantes. Alto-falantes do pessoal de "operações psicológicas" emitem mensagens
instando os iraquianos a se renderem. Alguns o fazem.
O número pequeno de baixas
entre os anglo-americanos indica
que a guerra terrestre não está
sendo travada com muita intensidade. Mesmo entre os iraquianos
o número de mortos parece ser
bem menor do que na Guerra do
Golfo de 1991 -e esse conflito teve, então, apenas cem horas de
combate em terra.
"Um dos aspectos mais misteriosos dessa guerra altamente
misteriosa é a ausência de baixas.
Pessoas são mortas em guerras
normais", escreveu ontem John
Keegan, editor de defesa do jornal
britânico "The Daily Telegraph".
Keegan é um dos mais respeitados historiadores militares do
planeta e foi professor em Sandhurst, a academia militar do Reino Unido.
"Onde estão se escondendo os
soldados do Iraque?"-se pergunta Keegan.
De fato, o Exército iraquiano tinha teoricamente 350 mil homens
antes da guerra. Apenas uma pequena parte esteve envolvida em
combates. Os EUA têm identificado e bombardeado as seis divisões
da Guarda Republicana (tropa de
elite do Iraque) em torno de Bagdá. O que fazem as 16 outras divisões regulares do Exército?
Quando "aparecem", isto é,
quando fazem uma movimentação, as tropas iraquianas são logo
combatidas. Por exemplo, quando 14 tanques iraquianos fizeram
uma manobra perto de Basra, foram todos destruídos pelos militares britânicos.
Muitos relatos de correspondentes junto às forças anglo-americanas falam de "resistência leve", de unidades que se desfazem
frente aos ataques.
Nas tais "guerras normais", cidades são tomadas a ferro e a fogo. Os exemplos de Berlim e Stalingrado surgem logo como comparação; ambas cidades foram
palco de luta violentíssima.
Esse pesadelo atormentaria o
planejamento militar dos americanos, que buscam uma maneira
de tomar Bagdá do mesmo modo
que Roma e Paris na mesma segunda guerra, cidades que "caíram de podres", sem sofrer combates ou bombardeios.
Os militares dos EUA afirmaram que essa guerra seria lutada
de modo distinto de outros conflitos. O ministro iraquiano da Informação, Mohammed Said al Sahaf, ameaçou ontem os americanos com uma "ação não convencional" -homens-bomba.
Não há dúvida, muito do que
está se passando no Iraque destoa
do figurino das guerras recentes.
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