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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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ESTRATÉGIA

Britânico cerca cidade em "câmera lenta"

Basra pode inspirar a ação na capital

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Nem Berlim, nem Stalingrado. O mais provável cenário para o ataque a Bagdá está acontecendo ali mesmo, no Iraque: as operações em câmara lenta em torno da cidade de Basra.
A cidade está bloqueada. Os britânicos fazem reides (ataques pontuais), eliminando focos de resistência aos poucos. Toda operação é planejada para minimizar baixas dos atacantes. Alto-falantes do pessoal de "operações psicológicas" emitem mensagens instando os iraquianos a se renderem. Alguns o fazem.
O número pequeno de baixas entre os anglo-americanos indica que a guerra terrestre não está sendo travada com muita intensidade. Mesmo entre os iraquianos o número de mortos parece ser bem menor do que na Guerra do Golfo de 1991 -e esse conflito teve, então, apenas cem horas de combate em terra.
"Um dos aspectos mais misteriosos dessa guerra altamente misteriosa é a ausência de baixas. Pessoas são mortas em guerras normais", escreveu ontem John Keegan, editor de defesa do jornal britânico "The Daily Telegraph". Keegan é um dos mais respeitados historiadores militares do planeta e foi professor em Sandhurst, a academia militar do Reino Unido.
"Onde estão se escondendo os soldados do Iraque?"-se pergunta Keegan.
De fato, o Exército iraquiano tinha teoricamente 350 mil homens antes da guerra. Apenas uma pequena parte esteve envolvida em combates. Os EUA têm identificado e bombardeado as seis divisões da Guarda Republicana (tropa de elite do Iraque) em torno de Bagdá. O que fazem as 16 outras divisões regulares do Exército?
Quando "aparecem", isto é, quando fazem uma movimentação, as tropas iraquianas são logo combatidas. Por exemplo, quando 14 tanques iraquianos fizeram uma manobra perto de Basra, foram todos destruídos pelos militares britânicos.
Muitos relatos de correspondentes junto às forças anglo-americanas falam de "resistência leve", de unidades que se desfazem frente aos ataques.
Nas tais "guerras normais", cidades são tomadas a ferro e a fogo. Os exemplos de Berlim e Stalingrado surgem logo como comparação; ambas cidades foram palco de luta violentíssima.
Esse pesadelo atormentaria o planejamento militar dos americanos, que buscam uma maneira de tomar Bagdá do mesmo modo que Roma e Paris na mesma segunda guerra, cidades que "caíram de podres", sem sofrer combates ou bombardeios.
Os militares dos EUA afirmaram que essa guerra seria lutada de modo distinto de outros conflitos. O ministro iraquiano da Informação, Mohammed Said al Sahaf, ameaçou ontem os americanos com uma "ação não convencional" -homens-bomba.
Não há dúvida, muito do que está se passando no Iraque destoa do figurino das guerras recentes.


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