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São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

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RECONSTRUÇÃO

França, Síria, Alemanha e Rússia ficariam fora

Câmara dos EUA veta 4 países no pós-guerra

Tony Nicoletti/Associated Press
Veículos militares dos Ratos do Deserto britânicos estacionados diante de um prédio que serve como posto operacional em Basra


FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

O Congresso dos EUA ampliou para quase US$ 80 bilhões o volume de dinheiro extra no Orçamento deste ano para financiar a guerra contra o Iraque.
Agora, deverá decidir sobre uma emenda já aprovada na Câmara que veta a participação da França, da Alemanha, da Rússia e da Síria em eventuais contratos para a reconstrução do Iraque financiados com dinheiro norte-americano.
A emenda cita nominalmente os quatro países. "A coalizão da "não-decisão" deve ficar fora dos contratos no Iraque financiados com dinheiro dos americanos", afirma George Nethercutt, republicano de Washington.
França, Rússia e Alemanha se opuseram publicamente à guerra, e a Síria é acusada de vender armas para Saddam Hussein.
Pela proposta encaminhada, que pode ser aprovada em definitivo até a semana que vem, cerca de US$ 8 bilhões serão reservados para contratos de reconstrução e financiamento de ajuda humanitária ao Iraque.
Ontem, ao retornar a Washington após encontros com representantes de 23 países europeus, o secretário de Estado, Colin Powell, disse esperar que o Senado derrube o veto contra a França, a Alemanha, a Rússia e a Síria.
Os EUA ainda não decidiram qual será a participação da ONU no Iraque pós-guerra. França e Rússia, que têm contratos vigentes e bilhões de dólares a receber do Iraque, pressionam por um envolvimento maior.
Por enquanto, é o Pentágono quem toma as decisões, alijando inclusive uma participação maior do Departamento de Estado.
Bathsheba Crocker, do Centro Internacional de Estudos Estratégicos de Washington, disse à Folha que a queda-de-braço entre americanos, russos e franceses decorre dos bilhões de dólares em dívidas e contratos que os três países têm com o Iraque.
Juntos, França e Rússia reclamam cerca de US$ 11,5 bilhões em créditos a receber do país em contratos pela venda de armas e negócios mais recentes para a exploração de petróleo.
Já os EUA sustentam ter direito a US$ 5 bilhões em dinheiro oficial e de empresas americanas investidos no país.
"A decisão sobre quem vai mandar no Iraque após a guerra determinará quem vai entrar em qual lugar na fila para receber esses créditos", diz Crocker.

Turquia
O Congresso americano também se opôs inicialmente a aprovar um empréstimo de US$ 1 bilhão à Turquia, explicitamente pelo fato de os turcos não terem autorizado o uso de seu solo para basear tropas americanas.
A assessora de segurança nacional, Condoleezza Rice, teve de enviar carta ao Congresso lembrando a ajuda turca aos EUA na campanha no Afeganistão, o que acabou convencendo os parlamentares a autorizarem a verba.
Dos US$ 80 bilhões que o Congresso deve aprovar na semana que vem, US$ 63 bilhões serão destinados às tropas.
Com a suplementação, os gastos militares dos Estados Unidos neste ano devem somar US$ 450 bilhões, contra US$ 350 bilhões em 2002.
Com boa parte da economia do país em relativa dificuldade, os gastos militares devem responder por uma parcela de 29% no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA em 2003.
Alguns analistas afirmam que os gastos com a guerra deverão evitar, em boa medida, a recessão que vinha sendo vislumbrada no horizonte deste ano.
O mais pessimistas afirmam, no entanto, que o problema só está sendo adiado. A verba extra para os militares não consta no Orçamento geral de 2003 e vai elevar o déficit fiscal americano para a faixa de US$ 400 bilhões neste ano -contra os US$ 310 bilhões previstos inicialmente.


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