UOL


São Paulo, sábado, 05 de abril de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PÓS-GUERRA

Funcionários americanos já trabalham mo país vizinho montando governo de ocupação

Kuait abriga governo pós-Saddam

JANE PERLEZ
DO "NEW YORK TIMES", NO KUAIT

Numa fileira de bangalôs à beira do mar, várias centenas de funcionários do governo norte-americano, desde generais experientes até jovens funcionários responsáveis por ajuda humanitária, trabalham em seus laptops, criando gráficos e examinando mapas do Iraque. O local virou praticamente a nova Washington às margens do golfo Pérsico, e os funcionários formam o núcleo do novo governo iraquiano criado pela administração Bush. Na cabeça de muitos aqui, um dos mestres distantes é descrito, afetuosamente ou não -isso depende da orientação política de cada um- como Wolfowitz da Arábia.
A referência diz respeito, é claro, ao subsecretário da Defesa dos EUA, Paul D. Wolfowitz, que despachou alguns de seus protegidos ao Kuait para preparar ministérios-chave para serem submetidos à administração americana. Wolfowitz também está avaliando outros funcionários designados no Kuait, tornando a Washington transitória daqui tão política e dividida quanto a permanente, nos EUA, segundo alguns.
O comandante geral desse "governo iraquiano na espera", uma operação que recebeu o título de Escritório de Reconstrução e Assistência Humanitária, é o general da reserva Jay Garner. Quando ele voltar a Bagdá, vai se tornar responsável por tudo o que as forças americanas não tomaram a seu cargo: alimentar o país, reconstruir sua infra-estrutura e criar o que a administração Bush promete ser um governo democrático.
Homem de compleição forte e 64 anos, de licença do cargo mais alto da empresa de equipamentos militares L-3 Communications, o general Garner foi responsável por proteger os refugiados curdos no norte do Iraque após a primeira Guerra do Golfo -uma tarefa menor do que a atual, mas que o fez tomar gosto pelo país.
Abaixo do general Garner vem um grupo de ex-oficiais do Exército, embaixadores americanos atuais e passados, burocratas das entidades de assistência, vários representantes britânicos e um grupo conhecido como o dos "verdadeiros fiéis".
Essas são pessoas como Robert Reilly, ex-diretor da Voz da América, conhecidas também como "o pessoal de Wolfie" (Wolfowitz). Acredita-se que sejam especialmente fervorosas em sua determinação de tentar recriar o Iraque como o farol da democracia e país com pendor pró-Israel. Reilly está trabalhando com exilados iraquianos para criar transmissões de rádio para serem usadas no Iraque pós-Saddam Hussein.
O general Garner se reporta ao chefe do Comando Central, general Tommy Franks, fato que faz com que o "governo-na-espera" civil seja uma operação do Pentágono. Previsivelmente, dizem funcionários do Departamento de Estado, o Pentágono considerou os indicados que ocupavam altos cargos no Departamento de Estado impróprios para o empreendimento, embora um deles tenha sido convidado pelo próprio Wolfowitz: Timothy Carney, ex-embaixador no Sudão.
Carney se prepara para chefiar o Ministério da Indústria, em Bagdá. Outra pessoa contra a qual o Pentágono está opondo resistência, pelo menos num primeiro momento, é a ex-embaixadora americana no Iêmen, Barbara Bodine. Mas também ela já chegou, abriu um escritório em um dos bangalôs e já é conhecida informalmente no campus como prefeita de Bagdá.
Entre os que ainda não puderam sair de Washington figura Robin Raphel, o ex-embaixador dos EUA à Tunísia, que é cotado para dirigir o Ministério do Comércio, e Kenton Keith, ex-embaixador no Qatar, visto como provável futuro ministro das Relações Exteriores.
Nem todos os 23 ministérios existentes no governo iraquiano atual serão reabertos, disse um integrante da equipe de Garner. O extremamente importante Ministério da Informação será mantido, sem dúvida alguma, mas não se sabe quem irá chefiá-lo. De acordo com as pessoas presentes no Kuait, o favorito do Pentágono para o cargo parece ser James Woolsey, ex-diretor da CIA durante a administração Clinton.
Deixando de lado a política de Washington, alguns dos funcionários reconhecem que o trabalho que têm pela frente é difícil e que sua complexidade real só será conhecida quando se souber como a guerra vai terminar.


Texto Anterior: Paris, Berlim e Moscou querem ONU no Iraque
Próximo Texto: ONU envia suprimentos ao norte do Iraque
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.