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PÓS-GUERRA
Funcionários americanos já trabalham mo país vizinho montando governo de ocupação
Kuait abriga governo pós-Saddam
JANE PERLEZ
DO "NEW YORK TIMES", NO KUAIT
Numa fileira de bangalôs à beira
do mar, várias centenas de funcionários do governo norte-americano, desde generais experientes até jovens funcionários responsáveis por ajuda humanitária,
trabalham em seus laptops, criando gráficos e examinando mapas
do Iraque. O local virou praticamente a nova Washington às
margens do golfo Pérsico, e os
funcionários formam o núcleo do
novo governo iraquiano criado
pela administração Bush. Na cabeça de muitos aqui, um dos mestres distantes é descrito, afetuosamente ou não -isso depende da
orientação política de cada um-
como Wolfowitz da Arábia.
A referência diz respeito, é claro,
ao subsecretário da Defesa dos
EUA, Paul D. Wolfowitz, que despachou alguns de seus protegidos
ao Kuait para preparar ministérios-chave para serem submetidos à administração americana.
Wolfowitz também está avaliando outros funcionários designados no Kuait, tornando a Washington transitória daqui tão política e dividida quanto a permanente, nos EUA, segundo alguns.
O comandante geral desse "governo iraquiano na espera", uma
operação que recebeu o título de
Escritório de Reconstrução e Assistência Humanitária, é o general
da reserva Jay Garner. Quando ele
voltar a Bagdá, vai se tornar responsável por tudo o que as forças
americanas não tomaram a seu
cargo: alimentar o país, reconstruir sua infra-estrutura e criar o
que a administração Bush promete ser um governo democrático.
Homem de compleição forte e
64 anos, de licença do cargo mais
alto da empresa de equipamentos
militares L-3 Communications, o
general Garner foi responsável
por proteger os refugiados curdos
no norte do Iraque após a primeira Guerra do Golfo -uma tarefa
menor do que a atual, mas que o
fez tomar gosto pelo país.
Abaixo do general Garner vem
um grupo de ex-oficiais do Exército, embaixadores americanos
atuais e passados, burocratas das
entidades de assistência, vários
representantes britânicos e um
grupo conhecido como o dos
"verdadeiros fiéis".
Essas são pessoas como Robert
Reilly, ex-diretor da Voz da América, conhecidas também como
"o pessoal de Wolfie" (Wolfowitz). Acredita-se que sejam especialmente fervorosas em sua determinação de tentar recriar o Iraque como o farol da democracia e
país com pendor pró-Israel. Reilly
está trabalhando com exilados
iraquianos para criar transmissões de rádio para serem usadas
no Iraque pós-Saddam Hussein.
O general Garner se reporta ao
chefe do Comando Central, general Tommy Franks, fato que faz
com que o "governo-na-espera"
civil seja uma operação do Pentágono. Previsivelmente, dizem
funcionários do Departamento
de Estado, o Pentágono considerou os indicados que ocupavam
altos cargos no Departamento de
Estado impróprios para o empreendimento, embora um deles
tenha sido convidado pelo próprio Wolfowitz: Timothy Carney,
ex-embaixador no Sudão.
Carney se prepara para chefiar o
Ministério da Indústria, em Bagdá. Outra pessoa contra a qual o
Pentágono está opondo resistência, pelo menos num primeiro
momento, é a ex-embaixadora
americana no Iêmen, Barbara Bodine. Mas também ela já chegou,
abriu um escritório em um dos
bangalôs e já é conhecida informalmente no campus como prefeita de Bagdá.
Entre os que ainda não puderam sair de Washington figura
Robin Raphel, o ex-embaixador
dos EUA à Tunísia, que é cotado
para dirigir o Ministério do Comércio, e Kenton Keith, ex-embaixador no Qatar, visto como
provável futuro ministro das Relações Exteriores.
Nem todos os 23 ministérios
existentes no governo iraquiano
atual serão reabertos, disse um integrante da equipe de Garner. O
extremamente importante Ministério da Informação será mantido, sem dúvida alguma, mas não
se sabe quem irá chefiá-lo. De
acordo com as pessoas presentes
no Kuait, o favorito do Pentágono
para o cargo parece ser James
Woolsey, ex-diretor da CIA durante a administração Clinton.
Deixando de lado a política de
Washington, alguns dos funcionários reconhecem que o trabalho que têm pela frente é difícil e
que sua complexidade real só será
conhecida quando se souber como a guerra vai terminar.
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