São Paulo, Sábado, 05 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

China vive transição, diz ex-líder de Tiananmen

RENATO FRANZINI
de Nova York

Shen Tong, 30, um dos líderes do movimento pró-democracia que terminou no massacre da praça Tiananmen (Paz Celestial) em 1989, foi um dos primeiros a pedir asilo político nos EUA.
Shen vive hoje em Boston (Costa Leste do país), onde preside uma fundação para financiar projetos que levem a China à democracia.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista que Shen concedeu por telefone à Folha.

Folha - Em 95, o sr. disse que a China teria um futuro político diferente quando Deng Xiaoping (líder comunista que ordenou o massacre de 89 e que morreu em 97) morresse. O que aconteceu?
Shen -
As perspectivas de a China se tornar uma democracia ainda existem e, na era pós-Deng, o país mudou. Passa hoje por algo similar ao que ocorreu na América Latina. Tínhamos um regime totalitário nos anos 70. Nos 80, isso começou a mudar. Agora o país está indo na direção de um regime autoritário.
Folha - E qual é a comparação com a América Latina?
Shen -
O regime acreditava no comunismo. Agora ele acredita em uma transição para a economia de mercado e eventualmente para uma democracia. No início dos anos 80, na América Latina, os militares diziam: "Estamos aqui porque o país precisa de estabilidade, estamos passando por uma transição para a democracia". Hoje a China vive uma transição e já é um país pós-comunista. As pessoas não acreditam mais na ideologia comunista.
Folha - Como assim? O comunismo morreu no país?
Shen -
Não nominalmente ainda, porque o comunismo está na Constituição. Havia a utopia de que o comunismo iria se espalhar pelo mundo, agora a China acredita na economia de mercado. O Partido Comunista era uma vanguarda revolucionária, agora é um grupo de interesses, uma máfia.
Folha - Qual a estratégia de sua fundação para ajudar a democratização da China?
Shen -
Mandamos dinheiro para organizações, financiamos programas de TV, revistas, produzimos livros, temos uma revista na Internet, além de um programa de rádio transmitido para a China.


Texto Anterior: 10 anos do massacre: Pequim impede protestos em Tiananmen
Próximo Texto: Dez anos da morte do aiatolá: Rivais disputam legado de Khomeini
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.