São Paulo, sexta-feira, 05 de julho de 2002

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APURAÇÃO

Com 88% dos votos computados, Evo Morales, 42, aproximava-se do 1º lugar e ameaçava avançar na disputa

Cocaleiro chega perto de 2º turno na Bolívia

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

O líder cocaleiro e candidato a presidente da Bolívia, Evo Morales, 42, encostou ontem nos dois favoritos ao cargo eletivo mais importante do país. Com 88% dos votos oficialmente computados, Morales tinha 20,95% dos votos, contra 21,94% do ex-presidente (1993-97) liberal Gonzalo Sánchez de Lozada e 21,90% do populista Manfred Reyes Villa.
A diferença de Morales para Goni -como é conhecido o ex-presidente- era ontem à noite de menos de 25 mil votos (552.018 a 527.161). Com 4,2 milhões de eleitores, a Bolívia votou no final de semana para presidente, vice, senadores (27) e deputados (130).
Como nenhum candidato a presidente ultrapassará a metade dos votos válidos, haverá um segundo turno indireto no Congresso no dia 4 de agosto, dois dias antes da posse do novo governo.
De formação marxista e líder do MAS (Movimento ao Socialismo), Morales fez sua campanha pregando o fim do modelo neoliberal no país e defendendo os plantadores de coca. Ele defende o fim dos programas de erradicação do cultivo da planta. Para os EUA, essa posição equivale a apoiar o narcotráfico.
Semana passada, o embaixador dos EUA na Bolívia, Manuel Rocha, chegou a dizer que, se o líder cocaleiro fosse eleito, Washington cortaria o auxílio econômico que dá ao país. Disse também que o mercado americano poderia se fechar aos têxteis e ao gás -principal item da pauta de exportações.
As declarações de Rocha geraram protestos de todos os partidos e manifestações contra a ingerência americana em assuntos internos da Bolívia.
Morales já havia dito que o embaixador foi seu "maior cabo eleitoral". Ontem, ele disse ao jornal "La Razón" que mandaria uma folha de coca a Rocha, como congratulação pelo 4 de Julho.

Sem coalizão
O líder cocaleiro afirmou à Folha que não fará acordos com nenhum dos candidatos neoliberais.
"O povo escolheu essa representação. Com o voto popular não se negocia", disse, na terça.
Ao afirmar que não se uniria a Reyes ou a Goni, o líder do MAS fecha sua área de procura de apoio ao MIP (Movimento Indígena Pachakuti), liderado por Felipe Quispe, e ao MIR (Movimento da Esquerda Revolucionária), liderado por Jaime Paz Zamora, que foi presidente de 1989 a 1993.
Só essa coalizão não superaria os partidos de direita. Se Morales for ao segundo turno, ele precisará se compor com Sánchez de Lozada ou com Reyes Villa para ser eleito -o que disse que não fará.



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