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São Paulo, terça-feira, 05 de agosto de 2003

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Métodos de Bush "não são sensatos", diz Nye

MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO

Os objetivos da estratégia de segurança nacional dos EUA, concebida pela administração de George W. Bush, são "corretos", mas os métodos utilizados em sua aplicação "não são sensatos".
A análise é de Joseph Nye, reitor da Kennedy School of Government da Universidade Harvard (EUA), ex-presidente do Conselho de Segurança Nacional dos EUA e autor de dezenas de livros e artigos, entre os quais "The Paradox of American Power" [o paradoxo do poder americano].
 

Folha - O sr. diz que o comportamento dos EUA na cena internacional poderá revelar-se míope no futuro próximo. Por quê?
Joseph Nye -
Creio que o governo de Bush tenha acertado ao anunciar a reorientação de sua política externa em setembro de 2002, privilegiando o combate ao terrorismo e a luta contra a proliferação de armas de destruição em massa. Trata-se das maiores ameaças aos interesses dos EUA.
Não concordo, todavia, com os meios utilizados na aplicação da nova estratégia de segurança nacional dos EUA. Seus objetivos são corretos, contudo seus métodos não são sensatos. Bush tem sido muito unilateral e não dá atenção suficiente ao peso do "soft power" americano [a força internacional de um país que advém de sua influência cultural e ideológica sobre o restante do planeta].
A excessiva confiança de Washington em seu "hard power" [a utilização de instrumentos militares e econômicos para coagir outros atores políticos, econômicos ou sociais a fazer o que eles não querem] poderá revelar-se perigosa. Assim, creio que Bush e seus assessores enxerguem longe no que se refere a seus fins, mas sejam míopes no que diz respeito aos meios que empregam.

Folha - Que mudanças seriam necessárias para que o combate ao terrorismo fosse mais eficaz?
Nye -
Estados que patrocinam o terrorismo, como o Afeganistão à época do regime do Taleban, são apenas parte do problema. A novidade é o desenvolvimento de organizações terroristas transnacionais, como a rede Al Qaeda [de Osama bin Laden], que contam com células em dezenas de países.
Força militar e técnicas tradicionais de dissuasão podem ser usadas contra Estados, mas o combate a redes criminosas transnacionais requer uma extensiva cooperação civil entre governos de países aliados. Afinal, o intercâmbio de informações é indispensável.

Folha - O sr. crê que, a médio e longo prazos, os EUA devam manter sua supremacia internacional?
Nye -
A força dos EUA depende da área das relações internacionais que examinamos. Militarmente, os EUA permanecerão a potência dominante na cena global por décadas. No entanto, no que concerne a questões econômicas, o mundo já é multipolar.
Ademais, quando se trata da esfera transnacional, não há forte hierarquização. Não faz o menor sentido falar de um império americano ou da hegemonia dos EUA nessas duas áreas. Contudo é na esfera transnacional que as maiores ameaças deverão aparecer.


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