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Métodos de Bush "não
são sensatos", diz Nye
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Os objetivos da estratégia de segurança nacional dos EUA, concebida pela administração de
George W. Bush, são "corretos",
mas os métodos utilizados em sua
aplicação "não são sensatos".
A análise é de Joseph Nye, reitor
da Kennedy School of Government da Universidade Harvard
(EUA), ex-presidente do Conselho de Segurança Nacional dos
EUA e autor de dezenas de livros e
artigos, entre os quais "The Paradox of American Power" [o paradoxo do poder americano].
Folha - O sr. diz que o comportamento dos EUA na cena internacional poderá revelar-se míope no futuro próximo. Por quê?
Joseph Nye - Creio que o governo de Bush tenha acertado ao
anunciar a reorientação de sua
política externa em setembro de
2002, privilegiando o combate ao
terrorismo e a luta contra a proliferação de armas de destruição
em massa. Trata-se das maiores
ameaças aos interesses dos EUA.
Não concordo, todavia, com os
meios utilizados na aplicação da
nova estratégia de segurança nacional dos EUA. Seus objetivos
são corretos, contudo seus métodos não são sensatos. Bush tem sido muito unilateral e não dá atenção suficiente ao peso do "soft power" americano [a força internacional de um país que advém de
sua influência cultural e ideológica sobre o restante do planeta].
A excessiva confiança de Washington em seu "hard power" [a
utilização de instrumentos militares e econômicos para coagir outros atores políticos, econômicos
ou sociais a fazer o que eles não
querem] poderá revelar-se perigosa. Assim, creio que Bush e seus
assessores enxerguem longe no
que se refere a seus fins, mas sejam míopes no que diz respeito
aos meios que empregam.
Folha - Que mudanças seriam necessárias para que o combate ao
terrorismo fosse mais eficaz?
Nye - Estados que patrocinam o
terrorismo, como o Afeganistão à
época do regime do Taleban, são
apenas parte do problema. A novidade é o desenvolvimento de
organizações terroristas transnacionais, como a rede Al Qaeda [de
Osama bin Laden], que contam
com células em dezenas de países.
Força militar e técnicas tradicionais de dissuasão podem ser usadas contra Estados, mas o combate a redes criminosas transnacionais requer uma extensiva cooperação civil entre governos de países aliados. Afinal, o intercâmbio
de informações é indispensável.
Folha - O sr. crê que, a médio e
longo prazos, os EUA devam manter sua supremacia internacional?
Nye - A força dos EUA depende
da área das relações internacionais que examinamos. Militarmente, os EUA permanecerão a
potência dominante na cena global por décadas. No entanto, no
que concerne a questões econômicas, o mundo já é multipolar.
Ademais, quando se trata da esfera transnacional, não há forte
hierarquização. Não faz o menor
sentido falar de um império americano ou da hegemonia dos EUA
nessas duas áreas. Contudo é na
esfera transnacional que as maiores ameaças deverão aparecer.
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