São Paulo, Quinta-feira, 05 de Agosto de 1999
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A OPINIÃO DO ANALISTA
"Idéia é ultrapassada e pouco clara"

da Redação

Uma idéia fora de época, pouco clara e destinada a seduzir as camadas mais pobres da população. Assim o cientista político José Vicente Carrasquero, 41, professor da Universidade Simon Bolívar, define a proposta de criação do Poder Moral. Para ele, o projeto traz o risco de censura, mas deve ser alterado pela Assembléia Constituinte. Leia trechos da entrevista à Folha. (LP)

Folha - O que pretende Chávez ao sugerir a criação de um Poder Moral? José Vicente Carrasquero - É uma idéia fora de época. No século passado, Simon Bolívar propôs a criação do Poder Moral para que os demais poderes se comportassem dentro de padrões éticos. Mas, hoje, supõe-se que esse comportamento ético surja do equilíbrio entre os três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). O Poder Moral também seria exercido pela imprensa, que hoje desempenha o papel fiscalizador que Bolívar defendia. Não há a necessidade de um Poder adicional. Esse poder, como proposto por Chávez, poderia se converter em uma forma de censura.

Folha - A aprovação da proposta traria poderes absolutos a Chávez?
Carrasquero
Se esse Poder fosse aprovado nos moldes que Chávez sugere, estaria acima dos três Poderes, inclusive da Presidência. Chávez teria de se submeter a ele também. Como a coalizão que apóia o presidente detém a maioria na assembléia, a questão moral deve ser contemplada na Carta de alguma forma, mas não creio que na forma como quer Chávez.

Folha - Em sua opinião, por que Chávez ainda não detalhou suas propostas para a constituinte?
Carrasquero -
É uma maneira de manter sua popularidade em alta. Chávez vai aproveitar o alto índice de aprovação a sua gestão para aprovar seu projeto de constituinte. Só depois que a tiver aprovado deve atacar os problemas econômicos, o que deve ser feito com medidas impopulares. Ao mesmo tempo, a indefinição gera incertezas no mercado. Empresas multinacionais estão encerrando atividades na Venezuela. Teme-se que haja estatização. Eu, pessoalmente, não acredito nisso, mas o discurso de Chávez não é claro. Ele destina-se às classes baixas e usa uma linguagem que não é a mesma com que se falaria a investidores.


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