São Paulo, sexta-feira, 05 de setembro de 2008

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Ameaça de oposição a Evo preocupa Brasil

Chanceler brasileiro diz que vai tratar "de maneira séria" risco de bloqueio do fornecimento de gás por opositores de La Paz

Governadores da meia-lua querem restituição de parte de imposto e cancelamento de referendo; instalações de gás têm vigília de militares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA REDAÇÃO

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou ontem que vai tratar "de maneira séria" as ameaças da oposição boliviana de bloquear o envio de gás para Brasil e Argentina. O chanceler brasileiro disse que levantaria informações com a embaixada brasileira em La Paz sobre a situação e não descartou dialogar com os oposicionistas bolivianos.
"Vamos tratar isso tudo de maneira séria e temos que ter contato inclusive, se for o caso, com os governos regionais", assinalou Amorim.
Segundo o ministro, o Brasil vai verificar primeiro "como o governo nacional [boliviano] pode assegurar a integridade [do gasoduto]". "Já houve questões parecidas no passado que foram resolvidas", disse.
Ontem, oposicionistas de Tarija, departamento que concentra 85% da produção de gás na Bolívia, confirmaram a ameaça feita na véspera. "Não descartamos prejudicar o envio de gás a Brasil e Argentina. Quando não sair uma molécula de gás, este governo bobo se dará conta do que está fazendo", disse à Folha Reynaldo Bayard, presidente do comitê cívico, que reúne empresários e moboliza a população contra o governo, com apoio dos governadores.
Reunidos no Conalde (Conselho Nacional Democrático), em Santa Cruz, os governadores oposicionistas dos departamentos de Tarija, Santa Cruz, Beni, Pando e Chuquisaca exigiram que Morales cancele o referendo para a ratificação da nova Constituição, convocado para dezembro, e restitua parte de um imposto sobre o gás recionado a um programa de renda para idosos.
A Folha apurou que representantes de Pando e Tarija defenderam uma ação radical para chamar atenção para as demandas oposicionistas. Santa Cruz se opôs, e o comunicado conjunto afirmou que os governadores "não se responsabilizavam" por eventuais problemas no abastecimento de gás.
O objetivo da ameaça é atrair atenção dos países vizinhos para o conflito e fustigar os governos de Brasil e Argentina, que os oposicionistas mais radicais vêem como aliados de Morales incapazes de mediar a crise.
A Embaixada do Brasil em La Paz afirmou que militares protegem as instalações e vigiam válvulas de bombeamento e compressão de gás ao Brasil. Questionada, a Petrobras não quis comentar. Informou que as operações estão normais.
Há dias, a oposição bloqueia estradas na região do Chaco, no sul, e há desabastecimento de comida e combustível. No lado argentino da fronteira, 1.200 caminhões estão retidos; no paraguaio, 200, diz Bayard. Indagado sobre a proteção às instalações, respondeu: "As pessoas estão dispostas a tudo".
Se as válvulas estão protegidas, o percurso do gasoduto ao Brasil é considerado vulnerável. A oficial Superintendência dos Hidrocarbonetos também fala de riscos. "A cada dia, a situação se agrava", disse à rádio Erbol o assessor jurídico da entidade, Leonardo Chiquie.
Também ontem, sindicatos camponeses e operários pró-Morales decidiram cercar o Congresso para pressionar pela aprovação do projeto de convocação do referendo sobre a nova Carta. Em Santa Cruz, as casas de um líder sindical e de um deputado pró-Morales e foram incendiadas.
(IURI DANTAS E FLÁVIA MARREIRO)


Com agências internacionais

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