São Paulo, sábado, 5 de setembro de 1998

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DISPUTA DE FRONTEIRA
Negociação prevê parques na região em litígio
Peru e Equador negociam acordo para dois santuários ecológicos

RENATA GIRALDI
da Sucursal de Brasília

Os presidentes do Peru, Alberto Fujimori, e do Equador, Jamil Mahuad, se reúnem neste final de semana no Panamá. Os dois participam do encontro do Grupo do Rio (fórum político de consulta da América Latina e Caribe criado em 86) e vão tentar avançar nas negociações em torno da disputa fronteiriça entre os dois países.
A Folha apurou que o acordo final deve aprovar a criação de dois parques ecológicos separados por monumentos históricos.
O acordo se diferencia da proposta anterior -feita pelos países garantes (Brasil, EUA, Argentina e Chile)-, que sugeria apenas um parque, administrado por uma comissão mista de representantes dos dois governos.
"Meu país está disposto a aceitar a criação de dois parques ecológicos adjacentes divididos pela linha de fronteira. A posição peruana não foi alterada", disse o embaixador do Peru no Brasil, Alfonso Rivero, em carta à Folha.
A região em disputa fica na cordilheira do Condor. Os dois santuários ecológicos deverão ter o mesmo tamanho, cerca de 20 km2. A criação de dois parques atende à exigência dos dois países de afastar o risco de militarização da área. Assim, a segurança na região será feita apenas por guardas florestais.
Problemas
Peru e Equador ainda não chegaram a um consenso sobre a demarcação fronteiriça nos locais onde serão construídos os parques. A Folha apurou que os peruanos defendem a demarcação física. Os equatorianos fazem objeções aos locais dos marcos físicos a serem colocados nas áreas.
Há também, por parte dos equatorianos, restrições à idéia de colocar marcos físicos. Para eles, a demarcação, e não apenas delimitação, especialmente na região de Tiwintza (junto ao rio Cenepa), afetaria a soberania nacional.
A região de Tiwintza é a que os equatorianos mais insistem em discutir, pois foi palco de atos e lutas, no passado, que têm grande significado para a história do país.
No final de maio, no dia em que o presidente Fernando Henrique Cardoso se encontrava com Fujimori, em Brasília, a proposta inicial (transformar a região em disputa em um parque ecológico) vazou, e isso irritou os governos do Peru e do Equador.
Há quatro acordos em negociação: o da integração fronteiriça (em Washington), o da segurança e confiança mútua (em Santiago), o de delimitação de fronteiras (em Brasília) e o de comércio e navegação (em Buenos Aires).
Ao contrário do que gostaria FHC -fechar o acordo até a próxima segunda-feira e transformar o dia Sete de Setembro em uma data histórica internacional para a América Latina-, a negociação final só deverá ocorrer ao término deste mês ou início de outubro.
A assinatura no prazo estimado por FHC poderia ser interpretada como uma vitória da diplomacia brasileira, o que acrescentaria pontos à imagem do presidente como estadista e candidato à reeleição no Brasil.



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