São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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Governo rejeita o diálogo e chama Savimbi de criminoso

WILLIAM MACLEAN
da "Reuters", em Luanda

O governo de Angola afirmou na semana passada que não tem planos de negociar com a Unita (União Nacional para a Independência Total de Angola, guerrilha que domina 70% do país, inclusive as áreas produtoras de diamante), chamando o seu líder, Jonas Savimbi, de criminoso de guerra e de genocida.
O vice-chanceler do país, Jorge Chikoti, disse que o governo vai trabalhar junto à comunidade internacional para aumentar as sanções das Nações Unidas contra a Unita, ao mesmo tempo em que reforça as Forças Armadas para defender os angolanos de ações guerrilheiras.
"Negociações não estão em nossa agenda", disse ele, adicionando que o governo considera "muito válido" o acordo de paz assinado em 1994, em Lusaka, capital da Zâmbia, mas, como a Unita continuou combatendo, o governo teve de se defender.
O conflito entre o governo e a Unita foi retomado em dezembro último, depois de o Exército ter atacado a guerrilha por causa do não-cumprimento do acordo de 1994.
O documento exigia o desarmamento dos guerrilheiros e a integração dos chefes militares da Unita às Forças Armadas angolanas.

Sanções econômicas
As sanções da ONU, que proíbem a importação de diamantes angolanos sem um certificado do governo e também impedem a venda de combustível e armas à Unita, têm sido violadas por contrabandistas que comercializam pedras preciosas extraídas pelo grupo guerrilheiro.
Segundo Chikoti, o pedido de Savimbi por negociações de paz faz parte de uma tática para pressionar o governo "enquanto seus guerrilheiros continuam a matar civis e tentam causar distúrbios na capital", Luanda.
Savimbi não teria tomado nenhuma atitude para indicar sua intenção de negociar, como parar os ataques, dizer a seus guerrilheiros que a guerra acabou e anunciar planos políticos.
"Vejo Savimbi na mesma categoria de pessoas como (o ditador cambojano do Khmer Vermelho) Pol Pot e o ditador nazista Adolf Hitler", disse o vice-chanceler.
"Savimbi é considerado um criminoso pela lei angolana, e pretendemos implantá-la. No Ocidente, pessoas já foram condenadas à morte por menos do que ele fez", afirma.
"Aqui não existe negociação", disse Chikoti. "Ele está dizendo que quer negociar, mas continua lutando. O que ele tem de dizer é "estou parando os ataques", e veremos a partir daí", afirmou.
Chikoti negou uma declaração da Unita de que estaria a apenas 50 km de Luanda.
Segundo ele, a afirmação faz parte de uma estratégia para tentar afugentar investidores estrangeiros e piorar a situação econômica do país.
"Eles querem dizer aos estrangeiros que, se vierem para cá, serão apanhados ou mortos. Desta forma, tentam atingir a economia e pensam que assim têm chance de fazer progressos."
Segundo Chikoti, o governo tem meios de manter o controle sobre Luanda.


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