São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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ELEIÇÕES
Confronto com o Paquistão aumentou popularidade do governo; 600 milhões devem votar a partir de hoje
Nacionalistas são favoritos na Índia

Associated Press
Manifestante joga pedras em protesto antieleição na Caxemira


SYLVIA COLOMBO
de Londres

Mais de 600 milhões de eleitores irão às urnas a partir de hoje na Índia para escolher um novo Parlamento. A votação continuará nos próximos três fins-de-semana e deve reafirmar no poder o partido da situação, o Bharatiya Janata (BJP), do premiê indiano, Atal Vajpayee, 76, cuja coligação tem 44% das intenções de voto.
O BJP, de orientação nacionalista, está há 13 meses à frente do governo indiano. Esse período caracterizou-se pela entrada da Índia no mapa dos países com armas nucleares e pelo conflito contra o Paquistão na luta pelo território da Caxemira (norte do país), de maio a agosto deste ano.
Êxitos contra o inimigo paquistanês aumentaram a popularidade do premiê, que tinha 40% de aprovação no início do ano e agora tem 64%, segundo pesquisa do jornal "Times of India".
Se a coligação liderada pelo BJP conseguir a maioria das cadeiras do Parlamento, de 543 vagas, Vajpayee continuará como premiê.
"A questão militar é uma de suas prioridades. Ele quer transformar a Índia num país militarmente poderoso e intimidar os vizinhos. Está conseguindo e tem o apoio popular", disse à Folha o professor Athar Hussan, vice-diretor do departamento de Ásia da London School of Economics.
Hussan acredita que o conflito entre Índia e Paquistão deve se acirrar nos próximos meses caso o BJP vença a eleição. "É uma luta antiga e está em aberto. Acho que o problema só pode ser resolvido com uma ação política, mas Vajpayee e o governo paquistanês preferem usar seu poder bélico".
A tensão entre Índia e Paquistão existe desde 1947, quando ambos tornaram-se independentes do domínio britânico. Desde então, já travaram três guerras, duas delas por causa do território da Caxemira. Em 98, os dois países testaram bombas nucleares.
"Esta é primeira vez que um governo se preocupa em mandar de volta os corpos dos soldados mortos no conflito para serem enterrados pelos familiares. Essa foi uma ação muito popular. Aliada à expulsão dos paquistaneses, colocou o BJP numa posição muito boa para esta eleição", disse Mahesh Ouahba, editor da sucursal londrina do jornal "The Asian Age", com sede em Nova Déli.
O principal opositor do BJP nas urnas será o Partido do Congresso, que governou o país durante 39 dos 52 anos da Índia como país independente. A líder do Congresso é a viúva do premiê Rajiv Gandhi, Sonia Gandhi, 52.
Ao contrário do BJP, a plataforma do Partido do Congresso concentra-se na área social. Gandhi tem prometido combater a pobreza, que atinge um terço da população indiana, de 1 bilhão de pessoas. Cerca de 300 milhões vivem abaixo dos níveis de pobreza.
A coligação liderada pelo Partido do Congresso tem 35% das intenções de voto. Ainda que fique atrás do BJP, o partido deve eleger Gandhi como deputada.
Nem o BJP nem o Partido do Congresso deverão obter a maioria no Parlamento nas eleições que começam hoje. Por isso, terão de fazer alianças com partidos menores -existem mais de 50- para estabelecer uma coligação que lhes permita governar.


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