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RIVAIS
Atenas enviou ajuda logo após o terremoto turco; Ancara pode obter indicação para entrada na UE
Tremor aproxima Grécia e Turquia
RUPERT CORNWELL
do "The Independent"
Para comprovar o ditado segundo o qual quando uma porta
se fecha, abre-se uma janela, estão
crescendo os sinais de que o devastador terremoto de agosto na
Turquia pode acabar resultando
numa melhora importante nas
tensas relações do país com a UE
(União Européia) e, sobretudo,
com sua maior rival, a Grécia.
Rompendo um impasse que já
durava três anos, a Grécia assinalou que vai desistir das objeções
que fazia a um acordo alfandegário assinado em 1996 entre a UE e
a Turquia, com isso liberando um
empréstimo de mais de US$ 500
milhões do Banco Europeu de Investimentos à Turquia.
Ao mesmo tempo, cresce a aceitação da proposta de que a Turquia seja indicada formalmente
como candidata a membro da
UE. Isso se daria na cúpula européia de Helsinque, em dezembro.
Na semana passada o ministro
britânico das Relações Exteriores,
Robin Cook, garantiu a seu colega
turco, Ismail Cem, que a iniciativa
tem o apoio integral do Reino
Unido -e também da maioria
dos outros países da UE, incluindo França, Itália e Alemanha
(mas ainda não da Grécia).
A questão da candidatura vem
azedando as relações da Turquia
com a UE desde a cúpula de 1997
da União Européia em Luxemburgo, quando a Turquia reagiu
ultrajada diante de sua exclusão
do grupo de 11 países colocados
nas listas A e B de acesso à organização, incluindo a maioria dos
países ex-comunistas da Europa
do leste e até mesmo a parte da
ilha de Chipre que é reconhecida
como sendo pertencente à Grécia.
Diante das objeções gregas, que
ainda se mantêm, não há garantias de que a cúpula de Helsinque
represente uma luz verde para a
Turquia.
Em entrevista que concedeu ao
"The Independent", Ismail Cem
avisou que uma segunda rejeição,
desta vez em Helsinque, pode levar uma Turquia humilhada e indignada a dar as costas à Europa.
"Francamente, estamos cansados
dessa questão interminável da
candidatura e de toda a discussão
em torno de nossas relações políticas com a Europa", disse o chanceler turco. "Tudo isso é prejudicial à Turquia e à sua imagem. Temos laços fortes com nossa própria região. Se as coisas derem errado novamente, acho que não faremos outra tentativa."
Como em quase todos os desentendimentos entre a Turquia e a
Europa, a chave está em Atenas.
Mas ali, também, a situação começou a melhorar, especialmente
após o terremoto, que atingiu a
parte da Turquia que é física e historicamente mais próxima da
Grécia.
Os dois países, envolvidos numa disputa de longa data em torno de Chipre e de seus respectivos
direitos territoriais no mar Egeu,
viram suas relações piorar ainda
mais após a captura do líder rebelde curdo Abdullah Ocalan,
preso em Nairóbi, no Quênia, onde estivera abrigado na Embaixada da Grécia.
Desde então, entretanto, o ambiente já melhorou muito, entre
outras razões por causa do bom
relacionamento pessoal existente
entre Ismail Cem e seu colega grego, George Papandreou, e o fato
de a Grécia ter enviado ajuda imediata à Turquia após o terremoto
de 17 de agosto.
"A Grécia reagiu como um vizinho deve. Ela agiu muito bem",
disse Cem. Para ele, ainda há um
longo caminho a percorrer, "mas
os sentimentos humanitários podem influir sobre o ambiente político e, desse modo, sobre as iniciativas políticas."
Tradução de Clara Allain
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