São Paulo, Domingo, 05 de Setembro de 1999
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RIVAIS
Atenas enviou ajuda logo após o terremoto turco; Ancara pode obter indicação para entrada na UE
Tremor aproxima Grécia e Turquia

RUPERT CORNWELL
do "The Independent"

Para comprovar o ditado segundo o qual quando uma porta se fecha, abre-se uma janela, estão crescendo os sinais de que o devastador terremoto de agosto na Turquia pode acabar resultando numa melhora importante nas tensas relações do país com a UE (União Européia) e, sobretudo, com sua maior rival, a Grécia.
Rompendo um impasse que já durava três anos, a Grécia assinalou que vai desistir das objeções que fazia a um acordo alfandegário assinado em 1996 entre a UE e a Turquia, com isso liberando um empréstimo de mais de US$ 500 milhões do Banco Europeu de Investimentos à Turquia.
Ao mesmo tempo, cresce a aceitação da proposta de que a Turquia seja indicada formalmente como candidata a membro da UE. Isso se daria na cúpula européia de Helsinque, em dezembro.
Na semana passada o ministro britânico das Relações Exteriores, Robin Cook, garantiu a seu colega turco, Ismail Cem, que a iniciativa tem o apoio integral do Reino Unido -e também da maioria dos outros países da UE, incluindo França, Itália e Alemanha (mas ainda não da Grécia).
A questão da candidatura vem azedando as relações da Turquia com a UE desde a cúpula de 1997 da União Européia em Luxemburgo, quando a Turquia reagiu ultrajada diante de sua exclusão do grupo de 11 países colocados nas listas A e B de acesso à organização, incluindo a maioria dos países ex-comunistas da Europa do leste e até mesmo a parte da ilha de Chipre que é reconhecida como sendo pertencente à Grécia.
Diante das objeções gregas, que ainda se mantêm, não há garantias de que a cúpula de Helsinque represente uma luz verde para a Turquia.
Em entrevista que concedeu ao "The Independent", Ismail Cem avisou que uma segunda rejeição, desta vez em Helsinque, pode levar uma Turquia humilhada e indignada a dar as costas à Europa. "Francamente, estamos cansados dessa questão interminável da candidatura e de toda a discussão em torno de nossas relações políticas com a Europa", disse o chanceler turco. "Tudo isso é prejudicial à Turquia e à sua imagem. Temos laços fortes com nossa própria região. Se as coisas derem errado novamente, acho que não faremos outra tentativa."
Como em quase todos os desentendimentos entre a Turquia e a Europa, a chave está em Atenas.
Mas ali, também, a situação começou a melhorar, especialmente após o terremoto, que atingiu a parte da Turquia que é física e historicamente mais próxima da Grécia.
Os dois países, envolvidos numa disputa de longa data em torno de Chipre e de seus respectivos direitos territoriais no mar Egeu, viram suas relações piorar ainda mais após a captura do líder rebelde curdo Abdullah Ocalan, preso em Nairóbi, no Quênia, onde estivera abrigado na Embaixada da Grécia.
Desde então, entretanto, o ambiente já melhorou muito, entre outras razões por causa do bom relacionamento pessoal existente entre Ismail Cem e seu colega grego, George Papandreou, e o fato de a Grécia ter enviado ajuda imediata à Turquia após o terremoto de 17 de agosto.
"A Grécia reagiu como um vizinho deve. Ela agiu muito bem", disse Cem. Para ele, ainda há um longo caminho a percorrer, "mas os sentimentos humanitários podem influir sobre o ambiente político e, desse modo, sobre as iniciativas políticas."


Tradução de Clara Allain


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