São Paulo, Terça-feira, 05 de Outubro de 1999
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MERCOSUL

Autoridades estudam se expulsam do país o ex-general paraguaio, que contrariou normas do asilo

Argentina debate o futuro de Oviedo

ANDRÉ SOLIANI
de Buenos Aires

A chancelaria argentina ainda não decidiu qual será o futuro do ex-general Lino Oviedo, asilado político no país, desde 28 de março. O ex-golpista corre o risco de ter de deixar a Argentina, depois de quebrar as regras do asilo político, pela segunda vez.
Ontem, os diplomatas argentinos estavam reunidos para chegar a um veredicto. Até o fechamento desta edição, não haviam concluído sobre a expulsão ou a permanência de Oviedo no país.
Em reportagem publicada no sábado pelo jornal "Clarín", o ex-golpista voltou a fazer declarações de cunho político, reiterando sua vontade de voltar ao Paraguai e ser presidente. A lei de asilo proíbe qualquer tipo de atividade política para asilados.
Para evitar que Oviedo seja preso pela Interpol (polícia internacional), os diplomatas argentinos estariam tentando conseguir um asilo para ele num terceiro país, antes de uma possível expulsão. Segundo jornais locais, a chancelaria manteve contatos com a Alemanha, a Venezuela e o Panamá. O Panamá negou qualquer tipo de negociação.
A pressão para que Oviedo deixe a Argentina ganhou força na semana retrasada, depois de uma entrevista no jornal "La Nacion", a primeira em que Oviedo falou de política. "Se houver condições para voltar ao Paraguai, posso assegurar que ganho as eleições contra todos juntos", disse ele.
Para punir o ex-golpista da primeira vez, o chancelaria decidiu confiná-lo no extremo sul do país, numa fazenda 2.200 km ao sul de Buenos Aires, para onde ele foi transferido na última quinta-feira. Até então, Oviedo vivia nos arredores da capital argentina.
O objetivo da transferência era afastar o ex-general do centro político e evitar possíveis encontros com seguidores. O presidente Carlos Saúl Menem também queria diminuir o custo político de proteger o ex-general, considerado seu amigo pessoal.
No início de setembro, a Argentina, por ordem do Executivo, devolveu um pedido de extradição do Paraguai.
Oviedo é acusado em seu país de ser o autor intelectual do assassinato do vice-presidente Luis María Argaña, que acabou causando a renúncia do então presidente Raúl Cubas (asilado no Brasil) e a fuga de Oviedo, que foi condenado a dez anos de prisão por uma tentativa de golpe em 96.
Em plena campanha para as eleições presidenciais de 24 de outubro, a proteção a Oviedo está sendo usada pela oposição para criticar o PJ (Partido Justicialista). Eduardo Duhalde, candidato do partido de Menem, também passou para o ataque e defende a saída de Oviedo do país.
Fernando de la Rúa, candidato da coalizão de oposição e líder nas pesquisas, e Domingo Cavallo, candidato da Ação pela República, também não concordam com a permanência de Oviedo no país.
Ontem pela manhã, na redação do "Clarín", os três candidatos e Menem se encontraram para fotos, com personalidades argentinas, durante 15 minutos.
A disputa em torno de Oviedo também culminou num conflito diplomático entre os dois países. Logo depois que a Argentina negou a extradição, no início de setembro, o Paraguai convocou sua embaixadora na Argentina, Leila Rachid, para consultas. A Argentina revidou o gesto, chamando para a Argentina o embaixador José María Berro Madero.
Até agora, os diplomatas não retornaram a seus cargos.
Menem também cobra do Paraguai desculpas por declarações consideradas ofensivas à Presidência, feitas por autoridades do país vizinho.


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