São Paulo, terça-feira, 05 de novembro de 2002

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Terrorismo é ameaça ao futuro político de Sharon, diz analista

MARCELO STAROBINAS
DA REDAÇÃO

O premiê israelense, Ariel Sharon, seria o maior prejudicado em caso de nova onda de atentados palestinos -como o de ontem, em Kfar Saba. Essa é a opinião de Leslie Susser, analista político da revista "The Jerusalem Report".
Pressionado pelos EUA a agir com moderação na repressão aos terroristas palestinos -para não atrapalhar os planos de Washington de atacar o Iraque- Sharon poderia perder pontos na disputa com o seu maior rival no partido Likud: o ex-premiê Binyamin "Bibi" Netanyahu. Leia trechos da entrevista que Susser concedeu ontem, por telefone, à Folha.

Folha - Quem mais perde no cenário político israelense em caso de nova escalada do terrorismo?
Susser -
Isso provavelmente afetaria Sharon. Seria muito difícil para ele responder com todo o poderio militar, em razão das exigências americanas para que mantenha o conflito em segundo plano até um ataque ao Iraque.
E, mesmo se reagir com força, o terror continuaria. Sharon teria, então, Netanyahu, à direita, dizendo ter melhores soluções para o problema, e os trabalhistas, à esquerda, criticando a sua atuação.

Folha - Sharon e Netanyahu vão trabalhar juntos no governo?
Leslie Susser -
Acho improvável. Sharon ofereceu o posto de chanceler a ele, mas "Bibi" apresentou uma série de condições que Sharon não quer aceitar.
O convite feito por Sharon foi uma manobra para constranger o rival. "Bibi" ficou numa posição em que, se dissesse "sim", passaria a ser o número dois de Sharon. Se dissesse "não", seria visto como alguém que se negou a ajudar a nação em crise. "Bibi" reagiu de forma inteligente e impôs muitas condições para virar ministro. Agora fica a cargo de Sharon dizer sim ou não. E Sharon já deixou claro que não pretende aceitar nenhuma dessas condições.

Folha - O governo vai conseguir formar maioria parlamentar após a saída dos trabalhistas da coalizão?
Susser -
Parece que as negociações de Sharon com o partido de extrema direita União Nacional-Israel Beiteinu não levarão a um acordo, porque eles também estão impondo condições. A principal delas é que, após as eleições, o governo seja composto por uma maioria de direita. Eles não querem aderir e depois, se Sharon for reeleito, vê-lo optar novamente por um governo de união nacional [com o Partido Trabalhista].

Folha - Israel terá, então, eleições antecipadas?
Susser -
Sim, mas elas não devem ser dentro de 90 dias. Após acordo entre Sharon e os trabalhistas, teremos eleição provavelmente em março ou perto disso.

Folha - Quem sairia mais beneficiado na hipótese de eleições antecipadas, Sharon ou Netanyahu?
Susser -
Depende de quão cedo elas ocorram. Se for já nos próximos dois meses, "Bibi" tem ligeira vantagem sobre Sharon na disputa pela liderança do Likud. Sharon espera que as eleições demorem o suficiente para que um ataque dos EUA contra o Iraque aconteça antes delas. Com isso, surgiria como um líder capaz de manter o país unido durante uma guerra e aumentaria suas chances de derrotar "Bibi" nas primárias do Likud.



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