|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MÍDIA EM TRANSFORMAÇÃO
Jornalistas experientes, como Dan Rather e Tom Brokaw, estão sendo trocados por apresentadores considerados "bons de vídeo"
TVs aposentam os âncoras da era dourada
DA CALIFÓRNIA
Com a voz embargada, Tom
Brokaw encarou a câmera central
no telejornal "NBC Nightly
News" da última quarta e disse:
"Obrigado por tudo o que aprendi com vocês". Assim, aos 64
anos, encerrou uma carreira de 23
anos e marcou o início do fim da
era dourada dos âncoras, os apresentadores de TV que são também jornalistas experientes e (raramente) dão opinião no ar.
Em março, será a vez de Dan
Rather, 73, deixar o "CBS Evening
News", que ancora desde 1981.
Sobra Peter Jennings, 66, à frente
do "ABC World News Tonight"
desde 1983 e sem planos de sair.
As emissoras aproveitam o momento para chacoalhar seus telejornais em busca de uma audiência mais jovem -que fugiu para a
internet ou para os chamados
programas noticiosos cômicos,
como o "Daily Show" de Jon Stewart, do canal de TV paga Comedy Central- e mais à direita,
como o público de Bill O'Reilly na
Fox News, que alcança 3 milhões
de telespectadores em média, um
número notável para uma emissora noticiosa de TV paga. Seria a
"foxização" das emissoras abertas, como disse à Folha um jornalista da ABC, que não quis ser
identificado.
Brian Williams, 45, o substituto
de Brokaw, um repórter sem
grandes coberturas em seu currículo, mas considerado "bom de
vídeo", tem a missão de ganhar
novos telespectadores sem alienar
os antigos e assim manter a liderança de audiência do telejornal.
Modéstia não será seu principal
obstáculo. "Nessa noite, começa
uma nova era nessa emissora",
disse ele, gravata roxa, jeito de galã, ao fim de sua estréia.
Já o caso de Dan Rather é mais
complicado. Ele deixa seu posto
antes do planejado (a data original era 2006, quando completaria
25 anos), em meio a suspeitas de
ter praticado mau jornalismo. Em
setembro último, o jornalista texano declaradamente democrata
apresentou reportagem que trazia
supostas provas do tratamento
especial que o republicano George W. Bush teria recebido quando
no serviço militar, nos anos 70; os
documentos se revelaram no mínimo dúbios. Uma comissão independente investiga se houve
má-fé ou falha na apuração.
Para seu lugar, há uma bolsa de
apostas que inclui John Roberts,
48, correspondente-chefe na Casa
Branca, que seria a opção mais
"jornalística". Mas estão no páreo
também estrelas da casa como o
ex-assessor de Bill Clinton George
Stephanopoulos, do semanal
"This Week", e Matt Lauer, do
matinal "Today", mais conhecidos por seus atributos estéticos.
E os novos ares já se fazem sentir também para os lados do veterano de plantão. Desde que as
aposentadorias dos concorrentes
foram anunciadas, a ABC colocou
no ar uma série de anúncios em
que Peter Jennings se mostra mais
"humano" -uma das principais
críticas feitas ao canadense é sua
suposta "frieza" ao relatar os fatos. Definitivamente, a temperatura é outra no atual jornalismo
televisivo norte-americano. (SD)
Texto Anterior: Credibilidade é o ponto fraco da TV de Murdoch Próximo Texto: Lei de Chávez vai "regular" rádios e TVs Índice
|