São Paulo, domingo, 05 de dezembro de 2004

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MÍDIA EM TRANSFORMAÇÃO

Jornalistas experientes, como Dan Rather e Tom Brokaw, estão sendo trocados por apresentadores considerados "bons de vídeo"

TVs aposentam os âncoras da era dourada

DA CALIFÓRNIA

Com a voz embargada, Tom Brokaw encarou a câmera central no telejornal "NBC Nightly News" da última quarta e disse: "Obrigado por tudo o que aprendi com vocês". Assim, aos 64 anos, encerrou uma carreira de 23 anos e marcou o início do fim da era dourada dos âncoras, os apresentadores de TV que são também jornalistas experientes e (raramente) dão opinião no ar.
Em março, será a vez de Dan Rather, 73, deixar o "CBS Evening News", que ancora desde 1981. Sobra Peter Jennings, 66, à frente do "ABC World News Tonight" desde 1983 e sem planos de sair.
As emissoras aproveitam o momento para chacoalhar seus telejornais em busca de uma audiência mais jovem -que fugiu para a internet ou para os chamados programas noticiosos cômicos, como o "Daily Show" de Jon Stewart, do canal de TV paga Comedy Central- e mais à direita, como o público de Bill O'Reilly na Fox News, que alcança 3 milhões de telespectadores em média, um número notável para uma emissora noticiosa de TV paga. Seria a "foxização" das emissoras abertas, como disse à Folha um jornalista da ABC, que não quis ser identificado.
Brian Williams, 45, o substituto de Brokaw, um repórter sem grandes coberturas em seu currículo, mas considerado "bom de vídeo", tem a missão de ganhar novos telespectadores sem alienar os antigos e assim manter a liderança de audiência do telejornal. Modéstia não será seu principal obstáculo. "Nessa noite, começa uma nova era nessa emissora", disse ele, gravata roxa, jeito de galã, ao fim de sua estréia.
Já o caso de Dan Rather é mais complicado. Ele deixa seu posto antes do planejado (a data original era 2006, quando completaria 25 anos), em meio a suspeitas de ter praticado mau jornalismo. Em setembro último, o jornalista texano declaradamente democrata apresentou reportagem que trazia supostas provas do tratamento especial que o republicano George W. Bush teria recebido quando no serviço militar, nos anos 70; os documentos se revelaram no mínimo dúbios. Uma comissão independente investiga se houve má-fé ou falha na apuração.
Para seu lugar, há uma bolsa de apostas que inclui John Roberts, 48, correspondente-chefe na Casa Branca, que seria a opção mais "jornalística". Mas estão no páreo também estrelas da casa como o ex-assessor de Bill Clinton George Stephanopoulos, do semanal "This Week", e Matt Lauer, do matinal "Today", mais conhecidos por seus atributos estéticos.
E os novos ares já se fazem sentir também para os lados do veterano de plantão. Desde que as aposentadorias dos concorrentes foram anunciadas, a ABC colocou no ar uma série de anúncios em que Peter Jennings se mostra mais "humano" -uma das principais críticas feitas ao canadense é sua suposta "frieza" ao relatar os fatos. Definitivamente, a temperatura é outra no atual jornalismo televisivo norte-americano. (SD)

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