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ALERTA
Exemplo da Áustria mostra força que extremistas ganham com o avanço da unificação política e econômica
Fantasma da extrema direita ressurge contra imigrantes e União Européia
do enviado especial a Viena
A chegada ao poder na Áustria
do Partido da Liberdade, de extrema direita, traz de volta à Europa
fantasmas como a xenofobia, o
racismo e, mais grave, o nazismo.
Enquanto no passado esses sentimentos eram expressados elegendo os judeus como alvo, agora
eles vêm revestidos de uma retórica antiimigração e contrária ao
processo de integração política e
econômica européia.
Joerg Haider, o polêmico e carismático líder do Partido da Liberdade, defensor de "uma Áustria para os austríacos" e adepto
do slogan "há estrangeiros demais", está longe de ser uma figura isolada no continente.
Discurso semelhante pode ser
encontrado na Frente Nacional
francesa, no Partido Popular suíço, na Aliança Nacional italiana e
em grupos neonazistas alemães.
Partidos que antes tinham votações ínfimas, eles agora são atores
importantes no cenário político
europeu.
"Por toda a Europa, o crescimento da extrema direita é um
produto direto do aumento de
importância que a União Européia teve nos últimos dez anos,
delegando funções importantes
dos Estados a organismos supranacionais", diz Max Streit, professor de política econômica da Universidade de Graz (Áustria).
Um dos principais combustíveis da extrema direita é o discurso nacionalista, de reconquista da
soberania nacional, afirma ele.
Streit diz que duas são as instituições que personificam esse
processo e, por tabela, se tornam
alvos prioritários da fúria dos nacionalistas: a Comissão Européia,
braço executivo da União Européia, e o Banco Central Europeu,
instituído para administrar a implantação do euro, a moeda única
européia.
Apesar de não serem eleitos diretamente, os dois organismos interferem em assuntos que vão da
definição das taxas de juros ao comércio de bananas.
"Em cada país, a reação à unificação européia se manifesta de
forma diferente. Na Áustria, a
questão foi amplificada em razão
do passado político do país, um
dos palcos do nazismo durante a
Segunda Guerra Mundial", afirma Streit.
A prevista ampliação da UE,
que, a partir de 2003, deve incluir
países do Leste Europeu como
Polônia, Hungria e República
Tcheca, é outro fator que impulsiona os extremistas.
"O temor de uma invasão de
imigrantes desses países, em busca de melhores oportunidades de
trabalho, causa pressões pela limitação no número de estrangeiros e, no limite, atos de racismo e
violência", afirma o analista político Edwin Roth.
A situação tende a ser mais grave em países com alto índice de
desemprego, como França e Alemanha (taxa de cerca de 10%).
"Na Áustria, o que preocupa os
nacionalistas não é tanto o desemprego (menos de 5%), mas
sua posição geográfica, de país
que faz fronteira com o Leste Europeu", afirma o analista.
Gregor Matjan, diretor do instituto de pesquisas políticas austríaco Ifes, aponta duas peculiaridades que resultaram na ascensão
da extrema direita no país.
Parte importante do fenômeno,
segundo ele, é o carisma pessoal
de Joerg Haider, que consegue
passar uma imagem de político
novo, energético e cheio de entusiasmo. "Isso explica em boa parte o sucesso que ele faz junto ao
eleitorado jovem", afirma Matjan.
Além disso, Haider se aproveitou do desgaste dos dois partidos
que dominaram a política austríaca nos últimos 30 anos, o Social
Democrata (centro-esquerda) e o
Partido Popular (centro-direita).
Matjan considera que, no momento, é difícil que outros partidos de extrema direita consigam
chegar ao poder na Europa.
"A extrema direita européia está
crescendo, mas continua muito
fragmentada. O sucesso do caso
da Áustria vai servir como um
exemplo a ser seguido pelos partidos dos outros países, que vão
buscar uma melhor organização
para tentar chegar ao governo",
prevê o analista político.
(FÁBIO ZANINI)
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