São Paulo, #!L#Domingo, 06 de Fevereiro de 2000


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ALERTA
Exemplo da Áustria mostra força que extremistas ganham com o avanço da unificação política e econômica
Fantasma da extrema direita ressurge contra imigrantes e União Européia



do enviado especial a Viena

A chegada ao poder na Áustria do Partido da Liberdade, de extrema direita, traz de volta à Europa fantasmas como a xenofobia, o racismo e, mais grave, o nazismo.
Enquanto no passado esses sentimentos eram expressados elegendo os judeus como alvo, agora eles vêm revestidos de uma retórica antiimigração e contrária ao processo de integração política e econômica européia.
Joerg Haider, o polêmico e carismático líder do Partido da Liberdade, defensor de "uma Áustria para os austríacos" e adepto do slogan "há estrangeiros demais", está longe de ser uma figura isolada no continente.
Discurso semelhante pode ser encontrado na Frente Nacional francesa, no Partido Popular suíço, na Aliança Nacional italiana e em grupos neonazistas alemães.
Partidos que antes tinham votações ínfimas, eles agora são atores importantes no cenário político europeu.
"Por toda a Europa, o crescimento da extrema direita é um produto direto do aumento de importância que a União Européia teve nos últimos dez anos, delegando funções importantes dos Estados a organismos supranacionais", diz Max Streit, professor de política econômica da Universidade de Graz (Áustria).
Um dos principais combustíveis da extrema direita é o discurso nacionalista, de reconquista da soberania nacional, afirma ele.
Streit diz que duas são as instituições que personificam esse processo e, por tabela, se tornam alvos prioritários da fúria dos nacionalistas: a Comissão Européia, braço executivo da União Européia, e o Banco Central Europeu, instituído para administrar a implantação do euro, a moeda única européia.
Apesar de não serem eleitos diretamente, os dois organismos interferem em assuntos que vão da definição das taxas de juros ao comércio de bananas.
"Em cada país, a reação à unificação européia se manifesta de forma diferente. Na Áustria, a questão foi amplificada em razão do passado político do país, um dos palcos do nazismo durante a Segunda Guerra Mundial", afirma Streit.
A prevista ampliação da UE, que, a partir de 2003, deve incluir países do Leste Europeu como Polônia, Hungria e República Tcheca, é outro fator que impulsiona os extremistas.
"O temor de uma invasão de imigrantes desses países, em busca de melhores oportunidades de trabalho, causa pressões pela limitação no número de estrangeiros e, no limite, atos de racismo e violência", afirma o analista político Edwin Roth.
A situação tende a ser mais grave em países com alto índice de desemprego, como França e Alemanha (taxa de cerca de 10%). "Na Áustria, o que preocupa os nacionalistas não é tanto o desemprego (menos de 5%), mas sua posição geográfica, de país que faz fronteira com o Leste Europeu", afirma o analista.
Gregor Matjan, diretor do instituto de pesquisas políticas austríaco Ifes, aponta duas peculiaridades que resultaram na ascensão da extrema direita no país.
Parte importante do fenômeno, segundo ele, é o carisma pessoal de Joerg Haider, que consegue passar uma imagem de político novo, energético e cheio de entusiasmo. "Isso explica em boa parte o sucesso que ele faz junto ao eleitorado jovem", afirma Matjan.
Além disso, Haider se aproveitou do desgaste dos dois partidos que dominaram a política austríaca nos últimos 30 anos, o Social Democrata (centro-esquerda) e o Partido Popular (centro-direita).
Matjan considera que, no momento, é difícil que outros partidos de extrema direita consigam chegar ao poder na Europa.
"A extrema direita européia está crescendo, mas continua muito fragmentada. O sucesso do caso da Áustria vai servir como um exemplo a ser seguido pelos partidos dos outros países, que vão buscar uma melhor organização para tentar chegar ao governo", prevê o analista político.
(FÁBIO ZANINI)


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