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ANÁLISE
"Decisão na ONU será política, não legal"
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
O Conselho de Segurança (CS)
da ONU é um órgão político, mas
deveria levar em conta o aspecto
legal de suas decisões. Na prática,
porém, ele não se preocupa muito
com a Justiça internacional.
A afirmação é de Allan A. Ryan,
professor de direito internacional
na Universidade Harvard (EUA).
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - O CS é um órgão político,
não judiciário, mas toma decisões
que afetam a Justiça internacional.
Na prática, como isso funciona?
Allan A. Ryan - O CS e a própria
ONU são órgãos políticos, que
não tomam decisões baseados em
textos legais, como faria uma corte. Contudo eles deveriam seguir a
lei internacional ou, ao menos, tê-la em mente ao tomar decisões
políticas. Mas, na prática, o CS
nunca se preocupou muito com
os princípios da Justiça internacional. A gravação mostrada por
Colin Powell, por exemplo, não
tem valor legal numa corte.
Ademais, muitos aspectos das
leis internacionais são controversos. Para cada argumento levantado sobre um certo tema, há um
contra-argumento respeitável. A
própria essência das leis internacionais, que buscam harmonizar
interesses e princípios tão diversos quanto importantes das leis
nacionais, faz com que não haja
consenso sobre elas.
Folha - Mas um ataque ao Iraque
sem a anuência da ONU seria contrário à Justiça internacional?
Ryan - Não necessariamente.
Primeiro, os EUA dirão que já
têm um mandato da ONU. Afinal,
desde 1991, a entidade adotou várias resoluções que exigiam a cooperação iraquiana. Todavia a discussão sobre a legitimidade de dar
início a uma guerra também deverá ser resolvida por meio de
uma decisão política, não legal.
Segundo, não há nenhum aspecto da Justiça internacional que
exija um voto de confiança da
ONU antes de sua aplicação. É lógico que é melhor ir à guerra com
o apoio dos aliados e um mandato
claro da maior instituição internacional do planeta, mas isso não
é uma condição "sine qua non".
Terceiro, é praticamente impossível chegar a um consenso sobre
a legalidade de uma guerra, pois
há muitos interesses distintos envolvidos na discussão e uma miríade de possíveis interpretações
das leis. Já vimos isso em outros
casos, como na Guerra do Vietnã.
Folha - Então a resolução 1441 já
abre caminho para o uso da força
militar ao dizer que o Iraque poderia sofrer "sérias consequências"
se não cooperasse com a ONU?
Ryan - É exatamente isso que diz
Washington, mas essa afirmação
também é discutível. Creio que os
EUA tenham um argumento forte, pois, à luz das resoluções anteriores, a ação militar pode ser justificada. Porém, se o restante do
planeta disser que isso não é verdade, a questão se tornará, mais
uma vez, uma disputa política.
Folha - A França diz que há mecanismos legais pacíficos para forçar
o Iraque a cooperar. Quais?
Ryan - Certamente, as autoridades francesas pensam em sanções
econômicas ou diplomáticas, cuja
aplicação talvez permitisse que os
inspetores de armas da ONU tivessem mais tempo para trabalhar no Iraque. Todavia, com certeza, Washington dirá que elas já
foram impostas ao Iraque e não
atingiram o objetivo esperado.
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