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São Paulo, quinta-feira, 06 de fevereiro de 2003

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IRAQUE NA MIRA

País promete responder a todas as "mentiras" de Powell e diz que EUA querem apenas justificar ataque

"Foi um típico show americano", diz Bagdá

Paul J. Richards/France Presse
Soldados de divisão de marines se reúnem para ouvir para ouvir seu comandante, general Michael Hagee, em local secreto no Kuait


DA REDAÇÃO

O Iraque qualificou o discurso do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, no Conselho de Segurança (CS) da ONU como um "típico show americano, cheio de acrobacias e efeitos especiais".
Segundo autoridades iraquianas, a fala foi marcada por "alegações falsas" desenhadas com o objetivo de prejudicar as inspeções de armas atualmente em curso no Iraque e justificar uma invasão americana do país.
Bagdá prometeu enviar à ONU uma "resposta detalhada e ampla para todas as mentiras proferidas" por Powell. A informação foi divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores iraquiano.
Já o general Amir al Saadi, um dos principais assessores do ditador iraquiano, Saddam Hussein, disse, em entrevista em Bagdá, que as acusações de Powell foram dirigidas ao "público geral e aos desinformados com o objetivo de influenciar sua opinião e abrir caminho para uma agressão contra o Iraque".
O assessor iraquiano desconsiderou trechos de uma gravação apresentados por Powell nos quais autoridades iraquianas supostamente conversam sobre como esconder materiais de uso militar dos inspetores da ONU.
"Pelo que pudemos ouvir, qualquer firma de inteligência de terceira categoria pode produzir esse tipo de gravação", afirmou. "Simplesmente não é verdade. A razão é uma só -nós não temos nada a esconder", disse.
Já o ministro da Informação iraquiano, Mohammad Saeed al Sahaf, descreveu as imagens de satélite mostrando atividades suspeitas em supostas instalações militares iraquianas como "nada diferente de desenhos animados".
Segundo Sahaf, a declaração de armas entregue pelo Iraque à ONU em dezembro era "100% acurada e verdadeira".
O embaixador do Iraque na ONU, Mohammed al Douri, também rejeitou as acusações de que o Iraque tenha ligação com terroristas, inclusive a rede Al Qaeda, responsável pelos atentados de 11 de setembro. Segundo ele, as alegações são "completamente desvinculadas da verdade".
Al Douri protestou por ter tido alguns minutos para responder às alegações de Powell no CS da ONU, enquanto o secretário de Estado dispôs de 90 minutos.
Segundo o embaixador, as acusações de Powell são baseadas em "alegações incorretas, fontes não-identificadas e desconhecidas". "Há suposições e presunções que se encaixam com os interesses americanos para um objetivo conhecido", disse Al Douri.
Ele expressou satisfação pela maioria dos 15 membros do CS ter se posicionado, ao menos por enquanto, a favor da continuação das inspeções em detrimento de uma ação militar.
"É óbvio que os comentários de Powell não atingiram os objetivos desejados pela administração dos EUA", disse.
Ele também qualificou de "ridícula" a afirmação de que o Iraque teria falsificado certificados de óbito para cientistas com o objetivo de escondê-los dos interrogatórios dos inspetores da ONU.

Vínculo com Al Qaeda
O fundador de um grupo militante islâmico do norte do Iraque negou as afirmações feitas por Powell de que sua organização teria ligações com a Al Qaeda.
"Isso é propaganda", afirmou o mulá Krekar, do grupo Ansar al Islam (apoiadores do islã), em entrevista em Oslo (Noruega), onde vive desde 1991. Ele negou qualquer ligação com Abu Musab Zarqawi, uma liderança da Al Qaeda que, segundo Powell, estaria vivendo no Iraque. Outros membros da Al Qaeda também estariam refugiados na região.
Segundo Powell, Zarqawi estaria tentando produzir ricina (substância química tóxica) no norte do Iraque, numa pequena área controlada pelo grupo de Al Douri. Krekar também negou possuir relações com Saddam. "Sou um inimigo de Saddam e ele é um inimigo meu e do meu povo", disse.

Com agências internacionais


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