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COMPORTAMENTO
Sociólogo francês que inverteu parâmetros de análise diz que maioria vê mulher como bem de consumo
Estudo decifra o perfil dos clientes de prostitutas
CONSTANÇA TATSCH
DA REDAÇÃO
Todas as soluções apontadas até
hoje para o problema da prostituição têm como base a oferta e
não a demanda. Um estudo francês lançado recentemente propõe
uma nova abordagem do tema, ao
desvendar quem são os clientes
regulares e por quais motivos
procuram por sexo pago.
As descobertas do sociólogo
francês Saïd Bouamama derrubam preconceitos. Depois de realizar 95 entrevistas, ele concluiu
que o cliente da prostituta é o marido, irmão ou filho da mais contemporânea das mulheres, ou seja, um homem comum, sem grupo econômico ou cultural que o
diferencie. A maioria tem entre 30
e 50 anos e tem uma parceira fixa.
"Sobre questões como drogas e
prostituição estudamos sempre a
oferta e não a demanda. Acredito
que esse seja um mecanismo que
impede a compreensão da questão", disse Bouamama, em entrevista à Folha. Segundo o sociólogo, até hoje não havia uma pesquisa sobre o assunto em seu país.
Os motivos que levam um homem a recorrer ao sexo pago se,
muitas vezes, parecem óbvios aos
homens, intrigam grande parte
das mulheres. A pesquisa apresenta cinco diferentes perfis de
clientes.
Os "Isolados afetivos e sexuais"
são pessoas com poucas relações
sociais que têm dificuldade em
conseguir encontros com o sexo
oposto. Ao contrário do que se
possa imaginar, essa é a categoria
minoritária. Os "Descompassados com a igualdade" são homens
insatisfeitos com as mulheres modernas. A partir deles, o sociólogo
concluiu que a emancipação feminina foi interiorizada pelas
mulheres, mas nem todos os homens estariam prontos para viver
nessa sociedade. "Precisamos
pensar em como preparar os meninos para relações igualitárias."
Um dos perfis mais intrigantes é
o do "Consumidor de mercadoria": homens que vêem as mulheres como um bem de consumo.
De acordo com a pesquisa, a
maior parte desses homens conheceu o corpo feminino pela
pornografia. "Mas a imagem pornográfica não é neutra, ela apresenta um modelo de relação onde
o homem é dominante, a mulher
é passiva, sem sentimentos e o
que importa é o prazer masculino", disse o autor do estudo.
Os "Alérgicos ao envolvimento
e à responsabilidade" buscam relações pagas depois de decepções
amorosas. Para eles, o envolvimento "dá muito trabalho". Já os
"Dependentes" começaram a se
relacionar com prostitutas e agora
não conseguem mais parar.
Um fato que chamou a atenção
do sociólogo é que o discurso do
"Consumidor de mercadoria" se
repete em todos os perfis. "É inquietante essa imagem da mulher. Isso é fruto da educação, publicidade e pornografia."
Outro ponto curioso é o freqüente sentimento de insatisfação
dos entrevistados. Cerca de 71%
dos clientes dizem não terem sentido prazer. "Eles compram sexo e
esperam uma relação afetiva." Essa suposta contradição seria uma
das causas da violência contra as
prostitutas. Homens que não sentem que seus desejos foram atendidos porque, muitas vezes, buscam atenção e carinho.
O sociólogo ressalta que, apesar
de o estudo ter sido feito na França, suas conclusões podem servir
para todos os países ocidentais.
"O estudo é válido para todos os
lugares onde o modo de vida é industrializado, moderno, midiatizado. Isso inclui o Brasil."
Combate à prostituição
Há três anos, o então ministro
do Interior da França, Nicolas
Sarkozy, criou uma lei bastante
restritiva ao trabalho sexual, punindo com prisão e multa o proxeneta e as prostitutas. Apesar de
Sarkozy comemorar o sucesso da
legislação, Bernard Lemaitre, presidente da ONG Mouvement du
Nid, que combate a prostituição
na França, disse à Folha que não
houve melhora na questão no
país. Para ele, a medida "continua
a culpar as prostitutas" e criou um
clima de "caça às bruxas". "O medo se instalou na rua", afirmou.
Segundo Lemaitre, a lei teria sido feita não para combater a prostituição mas sim para lutar contra
imigrantes ilegais. "Deixamos
tranqüilos os franceses e a polícia
se encarrega dos estrangeiros."
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