São Paulo, domingo, 06 de fevereiro de 2005

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ANO DO GALO

País celebra seu principal feriado com 2 bilhões de viagens, no maior deslocamento humano do planeta

Festa do Ano Novo pára trânsito na China

CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM

Enquanto o Brasil festeja o Carnaval, a China se prepara para celebrar seu Ano Novo, o mais importante feriado do país, que provoca a cada ano o maior deslocamento de pessoas do mundo, incluindo a peregrinação dos muçulmanos a Meca. A estimativa oficial é de que 2005 deve atingir o recorde de 1,97 bilhão de viagens, número suficiente para deixar o sistema de transporte do país à beira do colapso.
Pelo calendário lunar chinês, o novo ano começa dia 9 de fevereiro. Por uma semana, o país ficará virtualmente parado. A data é tradicionalmente festejada em família e milhões de pessoas viajarão para encontrar pais, irmãos, avós, tios e primos. No país mais populoso da Terra, com 1,3 bilhão de habitantes, essa movimentação tem o poder de causar sérios abalos na infra-estrutura local.
O chineses vão se despedir do Ano do Macaco e iniciar o Ano do Galo, que será o de número 4.703 do calendário lunar criado no país cerca de 2.600 anos antes de Cristo. O dia do Ano Novo chinês varia de acordo com o calendário lunar, mas sempre ocorre entre 21 de janeiro e 19 de fevereiro. Apesar de usarem o calendário ocidental (gregoriano) em questões civis, os chineses se guiam pelo lunar para as datas festivas.
Os anos são simbolizados por animais. Segundo a lenda, Buda convidou todos os animais para uma festa, mas apenas 12 compareceram, na seguinte ordem: rato, touro, tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, carneiro, macaco, galo, cachorro e porco. Em agradecimento, Buda batizou 12 anos com os nomes dos animais, que formam os ciclos do calendário e o zodíaco chineses.
Os animais têm enorme influência nas decisões dos chineses, como ter filhos ou casar. Mas não é apenas isso que conta. Apesar de o galo ser considerado um animal bom, milhares de chineses anteciparam seus planos de casamento para o Ano do Macaco, porque o próximo ano começará depois do dia 4 de fevereiro, data que marca o início da primavera no calendário lunar. A ausência desta data é associada à viuvez das mulheres, o que as leva a evitar casamentos neste ano.
O sistema de transporte está longe de atender à demanda crescente deste período e os chineses são obrigados a se locomover em condições precárias. Os trens carregam um número de passageiros muito superior à sua capacidade e várias pessoas viajam durante horas em pé. Os corredores dos vagões ficam apinhados e chegar ao banheiro ou ao restaurante é uma tarefa que exige perseverança e habilidade no salto de obstáculos. O mesmo se repete nos ônibus.
O boom econômico dos últimos 26 anos levou milhões de trabalhadores do campo a migrarem para as cidades e a cada Ano Novo eles voltam à terra natal para encontros familiares. As viagens vão ocorrer num período de 40 dias, que neste ano vai de 25 de janeiro a 5 de março. Mas foi a partir de sexta-feira que os terminais das grandes cidades foram ocupados por uma massa humana.
O governo calcula que o número de passageiros de trens atingirá 145 milhões, 3,5% a mais que no Ano Novo de 2004. É como se 85% de toda a população do Brasil viajasse de trem no mesmo período. Os aviões deverão receber 13 milhões de passageiros, alta de 12,5% em relação a 2004. Os barcos serão a opção de 27 milhões de chineses. A maior parte das viagens será por rodovias: 1,8 bilhão, 3,5% a mais que em 2004.
O vice-ministro das Ferrovias, Hu Yadong, diz que os trens do país têm capacidade para acomodar de maneira adequada 2,74 milhões de passageiros por dia, 900 mil a menos que os 3,64 milhões que usam o meio de transporte diariamente no Ano Novo. Esses 900 mil passageiros são a média dos 40 dias. Considerado apenas o período de pico, o excedente chega a 1,76 milhão de pessoas.
O casal de operários Yang Bao Rong, 37, e Wang Quan, 38, se preparava na sexta-feira para enfrentar em pé uma viagem de 23 horas até sua cidade natal, na província de Heilongjiang, que faz fronteira com a Rússia. "Não me importo de viajar assim. Já fiquei feliz por ter achado passagem", diz Yang, que vai encontrar seus sete irmãos.
Para muitos trabalhadores migrantes, a volta à terra natal é uma saga de dias. Zhi Yan Ziu e o marido, Xu Qian Ren, chegaram à Estação Oeste de Pequim ontem de manhã, depois de viajar 22 horas de trem, vindos de Chongqing, centro da China. Às 11h, estavam na Estação Central de Pequim, onde conseguiram comprar passagens para viajar em pé por mais 13 horas até sua cidade natal, em Jilin, também no norte. "Temos de encontrar a família no Ano Novo", diz Zhi.

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