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ANO DO GALO
País celebra seu principal feriado com 2 bilhões de viagens, no maior deslocamento humano do planeta
Festa do Ano Novo pára trânsito na China
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
Enquanto o Brasil festeja o Carnaval, a China se prepara para celebrar seu Ano Novo, o mais importante feriado do país, que provoca a cada ano o maior deslocamento de pessoas do mundo, incluindo a peregrinação dos muçulmanos a Meca. A estimativa
oficial é de que 2005 deve atingir o
recorde de 1,97 bilhão de viagens,
número suficiente para deixar o
sistema de transporte do país à
beira do colapso.
Pelo calendário lunar chinês, o
novo ano começa dia 9 de fevereiro. Por uma semana, o país ficará
virtualmente parado. A data é tradicionalmente festejada em família e milhões de pessoas viajarão
para encontrar pais, irmãos, avós,
tios e primos. No país mais populoso da Terra, com 1,3 bilhão de
habitantes, essa movimentação
tem o poder de causar sérios abalos na infra-estrutura local.
O chineses vão se despedir do
Ano do Macaco e iniciar o Ano do
Galo, que será o de número 4.703
do calendário lunar criado no país
cerca de 2.600 anos antes de Cristo. O dia do Ano Novo chinês varia de acordo com o calendário lunar, mas sempre ocorre entre 21
de janeiro e 19 de fevereiro. Apesar de usarem o calendário ocidental (gregoriano) em questões
civis, os chineses se guiam pelo lunar para as datas festivas.
Os anos são simbolizados por
animais. Segundo a lenda, Buda
convidou todos os animais para
uma festa, mas apenas 12 compareceram, na seguinte ordem: rato,
touro, tigre, coelho, dragão, cobra, cavalo, carneiro, macaco, galo, cachorro e porco. Em agradecimento, Buda batizou 12 anos
com os nomes dos animais, que
formam os ciclos do calendário e
o zodíaco chineses.
Os animais têm enorme influência nas decisões dos chineses, como ter filhos ou casar. Mas
não é apenas isso que conta. Apesar de o galo ser considerado um
animal bom, milhares de chineses
anteciparam seus planos de casamento para o Ano do Macaco,
porque o próximo ano começará
depois do dia 4 de fevereiro, data
que marca o início da primavera
no calendário lunar. A ausência
desta data é associada à viuvez das
mulheres, o que as leva a evitar casamentos neste ano.
O sistema de transporte está
longe de atender à demanda crescente deste período e os chineses
são obrigados a se locomover em
condições precárias. Os trens carregam um número de passageiros
muito superior à sua capacidade e
várias pessoas viajam durante horas em pé. Os corredores dos vagões ficam apinhados e chegar ao
banheiro ou ao restaurante é uma
tarefa que exige perseverança e
habilidade no salto de obstáculos.
O mesmo se repete nos ônibus.
O boom econômico dos últimos
26 anos levou milhões de trabalhadores do campo a migrarem
para as cidades e a cada Ano Novo
eles voltam à terra natal para encontros familiares. As viagens vão
ocorrer num período de 40 dias,
que neste ano vai de 25 de janeiro
a 5 de março. Mas foi a partir de
sexta-feira que os terminais das
grandes cidades foram ocupados
por uma massa humana.
O governo calcula que o número de passageiros de trens atingirá
145 milhões, 3,5% a mais que no
Ano Novo de 2004. É como se
85% de toda a população do Brasil
viajasse de trem no mesmo período. Os aviões deverão receber 13
milhões de passageiros, alta de
12,5% em relação a 2004. Os barcos serão a opção de 27 milhões
de chineses. A maior parte das
viagens será por rodovias: 1,8 bilhão, 3,5% a mais que em 2004.
O vice-ministro das Ferrovias,
Hu Yadong, diz que os trens do
país têm capacidade para acomodar de maneira adequada 2,74 milhões de passageiros por dia, 900
mil a menos que os 3,64 milhões
que usam o meio de transporte
diariamente no Ano Novo. Esses
900 mil passageiros são a média
dos 40 dias. Considerado apenas
o período de pico, o excedente
chega a 1,76 milhão de pessoas.
O casal de operários Yang Bao
Rong, 37, e Wang Quan, 38, se
preparava na sexta-feira para enfrentar em pé uma viagem de 23
horas até sua cidade natal, na província de Heilongjiang, que faz
fronteira com a Rússia. "Não me
importo de viajar assim. Já fiquei
feliz por ter achado passagem",
diz Yang, que vai encontrar seus
sete irmãos.
Para muitos trabalhadores migrantes, a volta à terra natal é uma
saga de dias. Zhi Yan Ziu e o marido, Xu Qian Ren, chegaram à Estação Oeste de Pequim ontem de
manhã, depois de viajar 22 horas
de trem, vindos de Chongqing,
centro da China. Às 11h, estavam
na Estação Central de Pequim,
onde conseguiram comprar passagens para viajar em pé por mais
13 horas até sua cidade natal, em
Jilin, também no norte. "Temos
de encontrar a família no Ano Novo", diz Zhi.
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