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São Paulo, quinta-feira, 06 de março de 2003

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Nova Intifada triplica pobreza entre palestinos

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O número de palestinos pobres triplicou desde o início da nova Intifada, a revolta contra a ocupação israelense, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Mundial. Em setembro de 2000, quando começou a revolta, os palestinos pobres eram 21% da população total, porcentagem que saltou para 60% em dezembro de 2002.
Em números absolutos, e levando em conta o crescimento populacional, o Banco Mundial calcula que os pobres sejam algo menos que 2 milhões, quando eram 637 mil ao se iniciar a nova Intifada.
A devastação econômica e social causada principalmente pelos contínuos bloqueios impostos por Israel aos territórios palestinos tem outros números igualmente terríveis, a saber:
1 - a renda nacional dos territórios caiu 40% nesses pouco mais de dois anos de crise. Já a renda per capita caiu 50% (a população cresce à razão de 4,35% ao ano);
2 - em dólares, a Palestina perdeu US$ 5,4 bilhões depois de 27 meses de Intifada. Como essa cifra corresponde ao PIB palestino, tem-se que a crise comeu um ano inteiro da produção econômica;
3 - o desemprego afeta 42% da força de trabalho, mas chega a 53% se forem incluídos nos cálculos os que já nem sequer estão procurando trabalho.
4 - A receita mensal da ANP (Autoridade Nacional Palestina) caiu de cerca de US$ 91 milhões, no final do ano 2000, para US$ 19 milhões em meados de 2002;
5 - o consumo per capita de comida caiu 30% desde setembro de 2000.
Pesquisa recente mostrou que 13,3% da população de Gaza (a porção do território palestino de maior número de habitantes) sofre de "aguda desnutrição".
Em Gaza, aliás, a taxa de pobreza é ainda mais elevada do que no conjunto dos territórios, afetando 75% da população (o Banco Mundial sempre aponta como pobre quem ganha até US$ 2 por dia).
Ao analisar as perspectivas para o futuro, o relatório aponta o dedo claramente para Israel como principal responsável pelos problemas e, por extensão, por eventuais soluções.
Diz o texto: "As ações do governo de Israel são de muito maior influência do que as políticas econômicas da ANP ou as atividades dos países doadores. O legítimo direito de Israel de defender seus cidadãos de ataques é inquestionável. O desafio é encontrar formas de fazê-lo sem destruir a economia palestina e o meio de vida dos palestinos comuns".
O modelo atual só tende a fazer aumentar os candidatos a praticar atos terroristas, a julgar pela análise do Banco Mundial.
O documento mostra que os adolescentes são "particularmente vulneráveis" (à crise). "Com idade para entender as dificuldades econômicas de suas famílias, mas geralmente jovens demais e inexperientes para serem capazes de ajudar muito, eles são particularmente suscetíveis aos traumas e ao sentimento de impotência e raiva", diz o relatório.


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