São Paulo, sexta-feira, 06 de março de 2009

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Brasileiros próximos se dizem surpresos

DA REPORTAGEM LOCAL

A demissão de Carlos Lage e Felipe Pérez Roque do governo cubano causou surpresa e perplexidade em personalidades brasileiras que conheceram os afastados e mantêm contatos regulares com integrantes do regime comunista.
Em Cuba para participar de um encontro internacional sobre economia e globalização, o sociólogo Emir Sader disse que as demissões foram "surpreendentes". Sader preferiu não especular quanto às supostas falhas dos ex-funcionários, tidos como competentes e leais ao governo: "Eles não deixaram o partido, de modo que o partido deve se pronunciar".
Para ele, a mensagem de Fidel Castro acusando os ex-discípulos de afeição "ao mel do poder" é "poeira". O significado da reforma de gabinete que incluiu 12 cargos, afirma, é homogeneizar o gabinete em torno de Raúl Castro para preparar o país para o momento da abertura econômica, sobre a qual, diz, há consenso no partido. "Não é uma diferença de orientação, mas de estilo de trabalho. Eles eram da equipe de Fidel, formada por fora das estruturas", continua Sader. Para um político brasileiro bastante familiarizado com a vida cubana, que preferiu manter-se anônimo, as demissões seguidas de "mea-culpa" têm um significado mais profundo e funesto.
"Estou perplexo, quase deprimido. É um filme que já vimos antes. Retirar dessa maneira os mais jovens que dedicaram a vida à revolução? Que erro eles cometeram? Não me parece verossímil. A acusação pode ser qualquer coisa. É um mau sinal para o futuro." Na visão do político, o regime pune duas figuras que mantinham "estilo de vida espartano". "Como o Fidel vai falar de mel do poder? Só eles podem ter interesse legítimo em comandar. Para mim, eles caíram por divergência política, sobre a forma de conduzir o país."
O ex-embaixador do Brasil em Cuba, o ex-petista Tilden Santiago, também fala de surpresa, mas rejeita a ideia de que as cartas semelhantes escritas pelos demitidos possam ter sido impostas. "Tenho certeza de que eles conversaram, trocaram ideia antes de redigi-las."


Colaborou IAGO BOLÍVAR , da Folha Online


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