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Brasileiros próximos se dizem surpresos
DA REPORTAGEM LOCAL
A demissão de Carlos Lage e
Felipe Pérez Roque do governo
cubano causou surpresa e perplexidade em personalidades
brasileiras que conheceram os
afastados e mantêm contatos
regulares com integrantes do
regime comunista.
Em Cuba para participar de
um encontro internacional sobre economia e globalização, o
sociólogo Emir Sader disse que
as demissões foram "surpreendentes". Sader preferiu não especular quanto às supostas falhas dos ex-funcionários, tidos
como competentes e leais ao
governo: "Eles não deixaram o
partido, de modo que o partido
deve se pronunciar".
Para ele, a mensagem de Fidel Castro acusando os ex-discípulos de afeição "ao mel do
poder" é "poeira". O significado
da reforma de gabinete que incluiu 12 cargos, afirma, é homogeneizar o gabinete em torno
de Raúl Castro para preparar o
país para o momento da abertura econômica, sobre a qual,
diz, há consenso no partido.
"Não é uma diferença de
orientação, mas de estilo de
trabalho. Eles eram da equipe
de Fidel, formada por fora das
estruturas", continua Sader.
Para um político brasileiro
bastante familiarizado com a
vida cubana, que preferiu manter-se anônimo, as demissões
seguidas de "mea-culpa" têm
um significado mais profundo e
funesto.
"Estou perplexo, quase deprimido. É um filme que já vimos antes. Retirar dessa maneira os mais jovens que dedicaram a vida à revolução? Que
erro eles cometeram? Não me
parece verossímil. A acusação
pode ser qualquer coisa. É um
mau sinal para o futuro."
Na visão do político, o regime
pune duas figuras que mantinham "estilo de vida espartano". "Como o Fidel vai falar de
mel do poder? Só eles podem
ter interesse legítimo em comandar. Para mim, eles caíram
por divergência política, sobre
a forma de conduzir o país."
O ex-embaixador do Brasil
em Cuba, o ex-petista Tilden
Santiago, também fala de surpresa, mas rejeita a ideia de que
as cartas semelhantes escritas
pelos demitidos possam ter sido impostas. "Tenho certeza de
que eles conversaram, trocaram ideia antes de redigi-las."
Colaborou IAGO BOLÍVAR , da Folha Online
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