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Chávez recua e limita a uma fábrica ocupação da Cargill
Venezuelano havia decretado expropriação da multinacional, mas medida prevê indenização
Analistas temem crise de desabastecimento de alimentos no país, que importa 50% dos produtos básicos que consome
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
Militares e funcionários do
governo venezuelano assumiram ontem de manhã o controle da fábrica de arroz da multinacional norte-americana Cargill, horas depois de o presidente Hugo Chávez ter decretado a
sua expropriação. Em aparente
recuo, a medida, no entanto,
não se estendeu a outras 12 unidades da empresa no país e deverá incluir uma indenização.
Localizada na cidade de Acarigua (340 km de Caracas), a fábrica de arroz da Cargill tem
cerca de 150 empregados e representa 7,7% do total produzido na Venezuela. Nos últimos
dias, outras duas empresas do
setor, a Polar e a Mary, sofreram intervenção militar e foram obrigadas a produzir arroz
branco, cujo preço está congelado pelo governo.
Chávez acusou as três empresas de produzir variedades
de arroz "com sabor" para escapar do tabelamento de preços.
Nesta semana, emitiu um decreto que obriga as fábricas do
setor de alimentos a produzir
uma cota de até 95% de produtos tabelados. A medida inclui
12 produtos, entre os quais leite
em pó e macarrão.
As empresas alegam que a legislação assegura o direito de
fabricar em diversas apresentações e afirmam que os preços
congelados não cobrem nem
sequer os custos de produção
devido à inflação alta -3,6% no
primeiro bimestre do ano.
Ontem, a Cargill informou,
em nota, que sua produção na
Venezuela é apenas de arroz
parabolizado (parcialmente
fervido) há 13 anos -muito antes de Chávez congelar os preços, em 2003. A empresa chegou à Venezuela em 1986, tem
2.000 funcionários no país e
produz café, farinha, suco e
óleo, entre outros.
Com a nacionalização da
Cargill, o Estado passou a controlar 54,1% da indústria de beneficiamento de arroz no país.
Desde 2007, Chávez iniciou
uma ampla política de estatizações em setores como telecomunicações, eletricidade, petróleo, cimento e siderurgia.
A intervenção no arroz ocorre no momento em que aumentam os temores de que a Venezuela sofrerá uma crise de
abastecimento semelhante à de
2007, que provocou enormes
filas para compras de produtos
como leite e frango e minou a
popularidade de Chávez.
Analistas afirmam que as
medidas antecipam uma breve
perda da capacidade da Venezuela de importar por causa da
queda do preço do petróleo. Segundo o próprio governo, 50%
dos produtos da alimentação
básica consumidos no ano passado foram produzidos em outros países, principalmente
Brasil, Argentina e Colômbia.
Números do Ministério do
Desenvolvimento brasileiro sobre as exportações à Venezuela
revelam a crescente dependência de alimentos importados.
Em 2008, as exportações de
produtos alimentícios à Venezuela cresceram 135% em relação ao ano anterior, enquanto o
aumento geral foi de 9%.
"Se algo demonstra a política
comercial em favor dos interesses forâneos, é a relação com o
Brasil", disse à Folha o ex-ministro da Agricultura (1994)
Hiram Gaviria, hoje no partido
oposicionista Um Novo Tempo
(UNT, centro). "A Venezuela se
converteu num país altamente
dependente da renda petroleira e das importações, o que significa que não diversificamos a
economia". Para ele, a intervenção estatal no arroz provocará um desestímulo em outros setores de alimentos, diminuindo a produção e aumentando a inflação. "Há um ditado na Venezuela: quando vir as
barbas do vizinhos ardendo,
coloque as suas de molho."
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