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VONTADE DE MORRER 1
Concentração é nas zonas rurais
Ásia tem os maiores índices de suicídio
PHYLLIDA BROWN
da ``New Scientist''
É algo que ceifa mais vidas jovens
do que a tuberculose ou os acidentes de carro. Mas vem acontecendo
na surdina, passando quase desapercebido. Na China e em muitas
outras partes da Ásia, as pessoas
vêm cometendo suicídio em números alarmantes. Acredita-se
que, desde 1900, cerca de 2 milhões
de chineses tenham se suicidado
-um número equivalente às populações de Washington e Manhattan, juntas.
Ninguém sabe ao certo o que está
por trás do espantoso índice de
suicídios chinês, nem se a situação
sempre foi tão grave quanto hoje.
Uma coisa, porém, está clara: o
padrão de suicídios nesse país difere de qualquer coisa que se vê no
Ocidente. O padrão chinês não pode ser visto apenas como incômoda exceção à regra geral. Em 1990,
último ano para o qual existem dados mundiais confiáveis, a China,
com 22% da população mundial,
foi responsável por mais de 40%
dos suicídios ocorridos no mundo.
As diferenças são marcantes. No
Ocidente industrializado, a proporção de suicidas homens é três
ou quatro vezes superior à de mulheres; na China, o número de mulheres que se matam é maior do
que o de homens. É o único país do
mundo em que isso acontece. Entre as chinesas com idades entre 15
e 44 anos, uma em cada quatro
mortes se deve ao suicídio, contra
uma em cada dez nessa faixa etária
idade no Ocidente industrializado.
Os gritos do silêncio
Outra constatação surpreendente: contrastando com o Ocidente,
onde o suicídio é associado à vida
urbana, os índices de suicídios na
zona rural da China são cerca de
três vezes superiores aos da urbana. E, finalmente, enquanto no
Ocidente, acredita-se, a maioria
dos suicidas sofre de depressão ou
outros tipos de doenças mentais,
não se sabe se doenças mentais são
responsáveis pela maioria dos suicídios ocorridos na China.
Essas diferenças estão fornecendo indícios muito necessários sobre as causas do suicídio no Oriente -e obrigando psiquiatras do
mundo inteiro a repensar algumas
de suas idéias sobre que tipos de
pessoas têm probabilidade maior
de se matar, porque e onde.
``Como as características do suicídio realmente são diferentes na
China, parecem lançar dúvidas sobre as teorias ocidentais a esse respeito'', diz o psiquiatra e epidemiologista canadense Michael
Phillips, que trabalha no hospital
Hui Long Guan, em Pequim.
Cinturão de suicídio
As novas estimativas do índice
de suicídios na China são fruto de
um inovador estudo de tendências
globais de saúde, feito por epidemiologistas e economistas da saúde da Universidade Harvard e da
Organização Mundial de Saúde
(OMS). Quando foi divulgado, no
ano passado, as cifras que trouxe
foram recebidas com espanto.
A China não é o único país asiático a ter um problema com suicídios. Ao longo de uma faixa que se
estende de Sri Lanka à China, passando por Hong Kong e Taiwan, as
pessoas andam se matando em
proporções alarmantes, tanto que
a região ganhou um apelido indesejável: cinturão dos suicídios.
A situação é mais grave em Sri
Lanka, que tem cerca de 36 suicídios por 100 mil pessoas por ano,
embora o número absoluto de
mortos seja muito menor do que
na China, com sua enorme população. O índice chinês é estimado
em 30,3 por 100 mil por ano. Na
Austrália, EUA e Reino Unido, é
de aproximadamente de oito a 12
suicídios por 100 mil por ano.
Os suicídios na China e em outros países asiáticos serão um dos
principais temas na pauta do congresso da Associação Internacional de Prevenção de Suicídios, em
Adelaide, Austrália. E a Befrienders International, a organização
que engloba as diversas associações Samaritanas, está ajudando a
montar grupos de prevenção de
suicídios na China.
A própria China também está tomando medidas diretas para combater a tendência. Está sendo lançado um grande estudo quinquenal sobre as causas de suicídios e
mortes acidentais em 24 comunidades pelo país afora, chefiado
conjuntamente por Phillips e Yang
Gonghuan, epidemiologista da
Academia Chinesa de Medicina
Preventiva, de Pequim.
A tarefa não será fácil, pois o suicídio é notoriamente difícil de
analisar, quer aconteça no Ocidente ou no Oriente.
``O problema é que existe o suicídio oficial e o não oficial'', diz
Rachel Jenkins, psiquiatra e epidemiologista junto ao Instituto de
Psiquiatria, de Londres.
Continua à pág. 28
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