São Paulo, segunda-feira, 06 de maio de 2002

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EUA pressionam Israel a negociar a paz com Arafat

TODD S. PURDUM
JUDITH MILLER


DO "THE NEW YORK TIMES"

Os EUA estão fazendo esforços de última hora para persuadir o governo de Israel a negociar com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Iasser Arafat, apesar dos israelenses conduzirem uma campanha para desacreditar o líder palestino.
Os EUA devem ainda pressionar Israel a congelar os assentamentos judaicos nas áreas palestinas. O secretário de Estado norte-americano, Colin Powell, disse ontem que "alguma coisa deve ser feita em relação ao problema dos assentamentos, que continuam a crescer e se expandir".
As iniciativas acontecem às vésperas do encontro entre o presidente dos EUA, George W. Bush, e o premiê de Israel, Ariel Sharon, que ocorre amanhã.
O desafio imediato para Bush, segundo um assessor de política externa, é "convencer os israelenses de que é interesse deles, no longo prazo, um acordo com Arafat, não importando o quanto repreensível ele possa ser".
Porém, nos últimos dias, autoridades israelenses estão realizando campanha para descartar Arafat e a ANP como possíveis parceiros em negociações, baseando-se em documentos que Israel confiscou na ofensiva na Cisjordânia e nos interrogatórios de cerca de 1.800 palestinos presos.
Porém os EUA não compartem desta posição. "É melhor para todos continuarmos trabalhando com os líderes palestinos e reconhecer quem os palestinos enxergam como seu líder", no caso Arafat, disse Powell. A assessora de segurança nacional, Condoleezza Rice, acrescentou que "a posição da Casa Branca é a de que não escolheremos a liderança dos palestinos. Arafat está lá".
Autoridades dos serviços de inteligência de Israel concederam informações para os EUA, nas quais eles dizem haver provas de que a ANP preside uma rede terrorista que planeja, financia e executa atentados suicidas contra civis e coopera com grupos extremistas islâmicos. Israel já começou a mostrar parte das provas coletadas, como armas de fabricação caseira, disfarces, identidades israelenses roubadas, pôsteres em homenagem a suicidas e cerca de 500 mil documentos.
Sharon levou a Washington um dossiê de cem páginas detalhando "ligações financeiras e envolvimento pessoal de Arafat com organizações terroristas palestinas". Entre os documentos, está o registro de uma aprovação de Arafat para o pagamento de US$ 600 para o líder de um ataque que deixou seis mortos.
Há ainda um documento com o timbre de um denominado Comitê Saudita para a Assistência para a Intifada que, dizem os israelenses, detalha o pagamento de mais de US$ 500 mil para famílias de 102 "mártires", oito deles envolvidos em ataques terroristas.
Os palestinos negam a autenticidade dos documentos.
A Casa Branca diz que, ainda que os documentos sejam convincentes, não será alterada a decisão de negociar com Arafat, com base no plano de paz que Bush tentará implementar com ajuda de países árabes amigos.
Sharon, que chegou a Washington ontem à noite, deve dizer a Bush que suas iniciativas de paz estão destinadas ao fracasso enquanto houver dependência do líder palestino. O encontro entre eles deve ocorrer em clima de confronto, diferentemente do que vinha acontecendo.
Tudo começou a mudar no último mês, quando Bush se sentiu contrariado com a resistência de Sharon a se retirar da Cisjordânia, "sem demora", como pedia o presidente dos EUA. Agora, segundo uma autoridade do governo, "Sharon sabe que o apoio de Bush não é automático". Em Israel, autoridades afirmam que Sharon buscará, no encontro, pressionar pela substituição de Arafat por uma nova liderança palestina. Pedirá ainda o desenvolvimento de idéias concretas para a conferência sobre o Oriente Médio, que o secretário de Estado propôs para este verão (no hemisfério norte). Por último, Sharon deve buscar uma coordenação entre as políticas israelense e norte-americana.
Israel não quer chegar à conferência e ser surpreendido por uma iniciativa da qual não faça parte. De início, os israelenses querem que a Síria não participe do encontro, por, segundo Israel, apoiar grupos terroristas. Já os árabes exigem a retirada total das forças israelenses dos territórios sob controle da ANP.


Com agências internacionais


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