São Paulo, quinta-feira, 06 de maio de 2004 |
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"Pensei que seríamos executados pelos americanos"
"Foi humilhante", disse Abd.
"Pensei que não fôssemos sobreviver."
Foi nesse momento da entrevista que foram mostradas a Abd as fotos. Sem emoção, apontou todos seus amigos -Hussein, Ahmed, Hashim-, nus, encapuzados, enlaçados. Também viu a si mesmo da maneira mais degradante possível: nu, com as mãos sobre os genitais, enquanto uma soldada -identificada em outro relato como Lynndie England- aponta para ele e sorri. Ele contou que seu amigo Hussein foi empurrado até perto de sua genitália. "Eles o fizeram ficar do meu lado. Meu pênis estava muito perto de sua boca. Por causa do capuz, eu não sabia que era meu amigo." Abd disse que foi então que os soldados começaram a empilhar os homens uns sobre os outros e a tirar muitas fotos. Três ou quatro vezes, afirmou, os soldados os obrigaram a empilhar-se em pirâmides. Duas vezes, disse, os soldados obrigaram alguns presos a ajoelhar no chão, enquanto outros montavam sobre suas costas. Em dado momento perto do final, disse Abd, "Joiner" agarrou os capuzes dos prisioneiros, como se fossem coleiras de cachorro. "Ele falou: "Quando eu assobiar, você vai latir como cão" ", disse Abd. Finalmente, após o que Abd calcula que tenham sido quatro horas de sofrimento, a tortura chegou ao fim. Os soldados tiraram as camas das celas, ele contou, e jogaram água fria no chão. Os presos foram obrigados a dormir no chão, ainda encapuzados. "Eu estava tão exausto que adormeci", contou Abd. "Eram as mesmas paredes dentro das quais Saddam interrogava as pessoas. Pensávamos que seríamos executados." Na manhã seguinte, porém, contou, médicos chegaram para cuidar dos ferimentos. As camas foram trazidas de volta. Os presos foram alimentados. Todos foram muito simpáticos, disse Abd. Então, à noite, o mesmo grupo, com "Joiner", voltava, os fazia ficar nus e os algemava às paredes. Cerca de dez dias depois de começar, as sessões diárias de abuso noturno terminaram, sem que qualquer explicação tivesse sido dada. "Joiner" simplesmente parou de vir ao bloco de celas e, cerca de um mês mais tarde, Abd foi transferido para uma prisão iraquiana civil em Bagdá. Mais ou menos duas semanas depois disso, um investigador militar americano foi visitá-lo. Ele mostrou as fotos a Abd e pediu-lhe uma declaração contra os policiais militares que o haviam maltratado. Abd confiou nele. "Ele falou: "Não tenha medo. Conte-nos o que aconteceu. Estamos de seu lado", lembra Abd. Abd finalmente foi libertado na metade de abril. Olhando em retrospectiva, a única explicação que ele consegue imaginar para os maus-tratos é que "Joiner" estaria bêbado. "Os americanos, de modo geral, não me maltrataram", disse ele. "Mas essas pessoas precisam ir a julgamento." "Não posso lhe explicar meu sentimento. Os americanos nos livraram de Saddam. Falaram-nos de democracia e liberdade. Ficamos felizes por isso." Mas então ele tocou nas fotos outra vez. "Então esse homem fez aquilo. Eu pergunto: isso é democracia? Isso é liberdade?" Apesar de tudo, afirma que não recusaria uma oferta de mudar-se para os EUA. Tradução de Clara Allain Texto Anterior: Iraque ocupado: Ex-preso relata tortura e humilhação Próximo Texto: Mídia dos EUA foi lenta no caso Índice |
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