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ANÁLISE
Arafat nunca esteve tão frágil
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO
O último dos grandes erros estratégicos de Iasser Arafat está cobrando o seu preço.
A Intifada, revolta contra a ocupação israelense lançada em 2000,
após o colapso do processo de
paz, trouxe ao líder histórico dos
palestinos a destruição da Autoridade Nacional Palestina, a morte
de mais de 1.300 palestinos, cidades transformadas em prisões, a
economia em ruínas, um estado
de quase anarquia, uma lista de
catástrofes sem fim. De bom, não
trouxe nada.
Trouxe uma ilusão de força que
alimentou o destino suicida da revolta. Os palestinos descobriram
que eram capazes de causar grande dano a Israel pela primeira vez
desde o início da ocupação, há 35
anos. Fruto dos acordos de Oslo, a
autonomia palestina em seus centros urbanos permitiu que setores
da população, estimulados por
fervor religioso, ajuda externa e
enorme desejo de vingança, ganhassem a capacidade de fabricar
um exército de suicidas contra o
qual o poderoso Exército de Israel
ainda não descobriu resposta.
Imaginaram que, como o ocorrido no sul do Líbano, Israel deixaria os territórios palestinos em
condições desfavoráveis para evitar a perda de mais vidas, desta
vez não soldados, mas civis -velhos, crianças, mulheres.
Mas Gaza e, principalmente, a
Cisjordânia têm outra dimensão
para Israel, tanto do ponto de vista religioso como estratégico: a
largura de Israel entre a Cisjordânia e o mar chega a menos de 20
km. Qualquer regime forte hostil
do outro lado seria mortal.
Cada atentado como o de ontem aumenta a pressão sobre o
premiê Ariel Sharon para agir
com mais força ainda, reocupando cidades palestinas. Aumenta
também a liberdade de ação que
os EUA estão dispostos a dar ao
veterano general, que já deixou
claro que só não expulsou Arafat
dos territórios palestinos por temer a reação internacional -ou
seja, a reação de Washington.
O novo cerco em Ramallah significa que o Exército não perdeu
tempo para se posicionar caso haja a decisão de expulsar Arafat dos
territórios. As declarações dos
EUA ontem mostram um tom a
mais nas quase diárias bordoadas
vindas da Casa Branca.
Com as eleições legislativas dos
EUA em novembro, o presidente
George W. Bush, ansioso por obter maioria republicana no Congresso, dificilmente entrará em
atrito com Sharon. Sua dureza
com Arafat pode trazer ao seu
partido decisivos votos da comunidade judaica, que vota tradicionalmente em democratas.
Arafat parece não ter força,
mesmo se assim desejar, de impedir novos atentados. Os extremistas do Jihad Islâmico e do Hamas
querem simplesmente apagar Israel do mapa e tirar Arafat do poder. Se Israel parece determinado a resistir às ondas suicidas, a posição de Arafat nunca esteve tão frágil. Será um grande teste para a sua famosa resistência.
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