São Paulo, quinta-feira, 06 de junho de 2002

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ANÁLISE

Arafat nunca esteve tão frágil

SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE MUNDO

O último dos grandes erros estratégicos de Iasser Arafat está cobrando o seu preço.
A Intifada, revolta contra a ocupação israelense lançada em 2000, após o colapso do processo de paz, trouxe ao líder histórico dos palestinos a destruição da Autoridade Nacional Palestina, a morte de mais de 1.300 palestinos, cidades transformadas em prisões, a economia em ruínas, um estado de quase anarquia, uma lista de catástrofes sem fim. De bom, não trouxe nada.
Trouxe uma ilusão de força que alimentou o destino suicida da revolta. Os palestinos descobriram que eram capazes de causar grande dano a Israel pela primeira vez desde o início da ocupação, há 35 anos. Fruto dos acordos de Oslo, a autonomia palestina em seus centros urbanos permitiu que setores da população, estimulados por fervor religioso, ajuda externa e enorme desejo de vingança, ganhassem a capacidade de fabricar um exército de suicidas contra o qual o poderoso Exército de Israel ainda não descobriu resposta.
Imaginaram que, como o ocorrido no sul do Líbano, Israel deixaria os territórios palestinos em condições desfavoráveis para evitar a perda de mais vidas, desta vez não soldados, mas civis -velhos, crianças, mulheres.
Mas Gaza e, principalmente, a Cisjordânia têm outra dimensão para Israel, tanto do ponto de vista religioso como estratégico: a largura de Israel entre a Cisjordânia e o mar chega a menos de 20 km. Qualquer regime forte hostil do outro lado seria mortal.
Cada atentado como o de ontem aumenta a pressão sobre o premiê Ariel Sharon para agir com mais força ainda, reocupando cidades palestinas. Aumenta também a liberdade de ação que os EUA estão dispostos a dar ao veterano general, que já deixou claro que só não expulsou Arafat dos territórios palestinos por temer a reação internacional -ou seja, a reação de Washington.
O novo cerco em Ramallah significa que o Exército não perdeu tempo para se posicionar caso haja a decisão de expulsar Arafat dos territórios. As declarações dos EUA ontem mostram um tom a mais nas quase diárias bordoadas vindas da Casa Branca.
Com as eleições legislativas dos EUA em novembro, o presidente George W. Bush, ansioso por obter maioria republicana no Congresso, dificilmente entrará em atrito com Sharon. Sua dureza com Arafat pode trazer ao seu partido decisivos votos da comunidade judaica, que vota tradicionalmente em democratas.
Arafat parece não ter força, mesmo se assim desejar, de impedir novos atentados. Os extremistas do Jihad Islâmico e do Hamas querem simplesmente apagar Israel do mapa e tirar Arafat do poder. Se Israel parece determinado a resistir às ondas suicidas, a posição de Arafat nunca esteve tão frágil. Será um grande teste para a sua famosa resistência.



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